O leitor já leu o livro "1984", do George Orwell? Vou dar uma visão geral e pegar alguns detalhes. O livro é um romance futurista, foi escrito em 1949, e mostra o Comunismo dominando o mundo. O mundo inteiro está dividido em três superpaíses, a Oceania, a Lestásia e a Eurásia. A estória acontece na Oceania, que inclui a Inglaterra. O Comunismo tem um nome em cada superpaís, o Comunismo da Oceania era o IngSoc. O protagonista é o Winston Smith, que trabalha no Ministério da Verdade. O Ministério da Verdade é o setor especializado em divulgar dados manipulados, manipular fotos e sumir registros de pessoas vaporizadas. A vaporização é o desaparecimento que o governo faz de alguém. Pode ser por ideias divergentes, mas pode ser porque a pessoa parece inteligente demais. Mas a vaporização não é um assassinato político. O Winston Smith, vocês vão ver no final do livro, foi vaporizado e tinha até um emprego estatal. A vaporização era a pessoa nunca mais ser vista e a eliminação de todos os registros daquela pessoa. Tudo para que a pessoa fosse tratada como se nunca tivesse existido. E antes de ser vaporizado, o Winston foi levado ao Ministério do Amor, que é uma mistura de Ministério da Justiça com Forças Armadas.
Em dois dias, nós tivemos duas notícias escabrosas, que podem lembrar "1984". A primeira é o requentamento de uma notícia velha contra o pastor Silas Malafaia. Sabem quando se faz "up" em redes sociais ou em fóruns, que é escrever alguma coisa nos comentários (que pode ser "up") para que o tópico fique no primeiro lugar nas visualizações?[01] Pois é, foi o que foi feito nesse caso. Primeiro, o pastor foi levado em condução coercitiva à Polícia Federal acusado de lavagem de dinheiro em um esquema de desvio de verbas, tudo que tinham contra ele era um cheque de cem mil reais que foi depositado como oferta à igreja dele, e nem isso vale como prova. Por isso a firma terceirizada da Marcha das Vadias chamada Polícia Federal teve que fazer o circo. Mas o pior é que isso foi publicado na imprensa com data de 24 de fevereiro de 2017, mas aconteceu dois meses antes. Foi publicado na mesma imprensa na época e a matéria repete o que disse antes como se esse fosse um novo acontecimento, não parte do mesmo. Mas o pior nem foi a imprensa tradicional fazer isso, incluindo a matéria da revista Veja simplesmente copiando a matéria do Estadão[02]. O pior foi o vídeo do canal da TV Antagonista com essa fonte (a matéria duvidosa do Estadão)[03] mais comentários boçais da Madeleine Lacsko, mais uma das MILF's[04] novinhas da direita.
Ah, e eu não errei quando disse que isso é uma notícia dos últimos dois dias. A republicação das matérias velhas é a notícia em si.
A segunda matéria, publicada hoje à tarde: "Globo exibe The Voice Kids, mas oculta Victor, acusado de agressão" (Veja, 26/02/2017)[05]. "Emissora diz que integrante da dupla 'Victor & Léo', pediu afastamento, mas que decidiu exibir programas que estavam agravados; edição não mostra o cantor". O texto é da redação e vem com "agravados" em vez de "gravados". Mais uma imagem interessante do Brasil. A matéria conta que a esposa dele, que está grávida, disse que ele a jogou no chão e bateu nela.
O caso em si é duvidoso. Delegacia da Mulher e Lei Maria da Penha existem para qualquer desclassificada dizer o que quer contra qualquer homem. Poucos meses atrás, foi a Luíza Brunet que disse que o marido dela quebrou quatro costelas dela e ela estava trabalhando tranquilamente três dias depois ("Defesa de ex usa foto de Luiza Brunet em rede social para negar agressão", G1, 20/07/2016)[06]. Este relato é chocante o suficiente para parecer uma invenção sensacionalista ou uma história contada pela metade. Como se diz no Direito, "in dubio, pro reo" (na dúvida, em favor do réu). Mas o pior nem é isso. O pior é a Rede Globo "vaporizar" um contratado que, ela própria diz, é apenas um acusado.
Os antiesquerdistas brasileiros precisam ao mesmo tempo criar veículos alternativos fora da internet e criar referências de inteligência fora da esquerda. A direita brasileira estava melhor nisso há dois anos atrás. Até as MILF's da direita eram melhorezinhas, como a Rachel Sheherazade ou a Denise Abreu. Semana passada, tivemos a Madeleine Lacsko fazendo comentários fraquíssimos de uma notícia que além de requentada, já era maldosa na época do original. Isso em um canal alternativo, O Antagonista. Na semana anterior, tivemos o caso da resposta do Reinaldo Azevedo ao vídeo da Joice Hasselmann[07], ele desmascarou a "exuberância" dela "não exatamente ligada às questões do intelecto", e apareceu o cavaleiro-branquismo[08] dos liberais e conservadores, incluindo Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino, para atacar o Tio Rei. Depois desse vídeo, todos os vídeos que ele publicou no Youtube têm mais "descurtidas" que "curtidas". O que mostra exatamente o que ele chamava de "direita xucra" que está levando a esquerda de volta ao poder[09]. Ou melhor, à Presidência da República, porque aqueles casos mostram que o poder eles não perderam.
A última notícia contra Edir Macedo é de agosto do ano passado: "Igreja Universal mantinha esquema ilegal no exterior, diz ex-bispo" (Folha de São Paulo, 15/08/2016)[10]. Mas ele levou Dilma Rousseff para a inauguração do Templo de Salomão[11]. Silas Malafaia bate de frente com o movimento LGBT-feminista. Guilherme Boulos foi preso por atacar a própria polícia contra uma reintegração de posse em um terreno invadido em São Paulo, foi liberado no mesmo dia e até hoje é colega do Reinaldo Azevedo na Folha de São Paulo[12]. Então, tudo bem você ter até passagem pela polícia se você está do lado das causas "certas". Mas se o cidadão medíocre hoje aplaude uma vaporização de um denunciado por violência contra a mulher, amanhã pode ver um pastor íntegro ser detido sem provas pela Polícia Federal porque é oposição ao governo. E depois de amanhã, esse mesmo cidadão pode perder o emprego porque foi denunciado por feministas radicais por postagens em redes sociais. Lembrando que contrariar feministas que dizem que sexo é estupro e os homens devem morrer já é pior do que dizer que os homens devem morrer.
Aí, fui visitar a seção do Guilherme Boulos (pela primeira vez) e achei o artigo dele de 03 de novembro "A esquerda brasileira saberá se renovar". Fora a defesa ao governo PT, que, como diz um meme nas redes sociais, já é apologia ao crime, o texto é notável. Encerro recomendando que vocês leiam e reflitam.
NOTAS:
[01] http://www.qualeagiria.com.br/giria/up.
[02] "Silas Malafaia é indiciado pela PF por lavagem de dinheiro", Veja, 24 de fevereiro de 2017, http://veja.abril.com.br/politica/silas-malafaia-e-indiciado-pela-pf-por-lavagem-de-dinheiro.
[03] https://www.youtube.com/watch?v=UNFwQZSRR30.
[04] MILF é Mom I'd Like to Fuck, ou coroa que eu gostaria de comer.
[05] "Globo exibe The Voice Kids, mas oculta Victor, acusado de agressão", Veja, 26 de fevereiro de 2017, http://veja.abril.com.br/entretenimento/globo-exibe-the-voice-kids-mas-oculta-victor-acusado-de-agressao.
[06] "Defesa de ex usa foto de Luiza Brunet em rede social para negar agressão", G1, 20 de julho de 2016, http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/07/defesa-de-ex-usa-foto-de-luiza-brunet-em-rede-social-para-negar-agressao.html.
[07] "Mulher, o ponto fraco dos cristãos conservadores - parte 3: mas não do Reinaldo Azevedo", 21 de fevereiro de 2017, versão sem putaria em http://avezdasmulheres.over-blog.com/2017/02/mulher-o-ponto-fraco-dos-cristaos-conservadores-parte-3.html, versão com putaria em https://avezdoshomens.blogspot.com/2017/02/mulher-o-ponto-fraco-dos-cristaos.html.
[08] "Cavaleiro branco" é uma gíria da Real para um homem que salva uma mulher das bobagens que ela faz na vida só por ela ser mulher.
[09] "Pesquisa: Lula seria eleito hoje presidente. Viva a direita xucra", Reinaldo Azevedo, 15 de fevereiro de 2017, http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/pesquisa-lula-seria-eleito-hoje-presidente-viva-a-direta-xucra.
[10] "Igreja Universal mantinha esquema ilegal no exterior, diz ex-bispo", Folha de São Paulo, 15 de agosto de 2016, http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1802938-igreja-universal-mantinha-esquema-ilegal-no-exterior-diz-ex-bispo.shtml.
[11] "Com a presença de Dilma, Templo de Salomão é inaugurado em São Paulo", R7 Notícias, 31 de julho de 2014, http://noticias.r7.com/brasil/com-a-presenca-de-dilma-templo-de-salomao-e-inaugurado-em-sao-paulo-13102016.
[12] "Boulos, o Senhor das Labaredas, está feliz! Foi preso!", Reinaldo Azevedo, 17 de janeiro de 2017, http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/boulos-o-senhor-das-labaredas-esta-feliz-foi-preso.
Apêndices
"Globo exibe The Voice Kids, mas oculta Victor, acusado de agressão", Veja, 26 de fevereiro de 2017. Disponível em http://veja.abril.com.br/entretenimento/globo-exibe-the-voice-kids-mas-oculta-victor-acusado-de-agressao. |
Globo exibe The Voice Kids, mas oculta Victor, acusado de agressão
Emissora diz que integrante da dupla "Victor & Léo", pediu afastamento, mas que decidiu exibir programas que estavam agravados; edição não mostra o cantor
Por Da Redação
26 fev 2017, 13h49 - Atualizado em 26 fev 2017, 14h43
Victor, da dupla Victor e Léo (Reprodução/Instagram)
O cantor Victor, da dupla Victor & Léo, acusado de agressão contra a mulher grávida, pediu para se afastar do programa The Voice Kids, da TV Globo, mas a emissora decidiu exibir os programas que já estavam gravados, o primeiro deles apresentado na tarde deste domingo. O músico sertanejo é um dos técnicos da atração (que orientam e julgam as crianças cantoras), ao lado de Ivete Sangalo e Carlinhos Brown.
Em nota lida pelo apresentador André Marques antes de o programa começar, a emissora diz que "esta semana aconteceu um fato importante envolvendo um dos técnicos do nosso programa", "uma acusação bastante grave de violência doméstica". "A Globo repudia toda e qualquer forma de violência e acredita que essa acusação precisa ser apurada com rigor, garantindo o direito de defesa, na busca da verdade".
Segundo ainda a nota, "Victor nos procurou informando que iria se afastar do programa para se dedicar totalmente a esse caso". "No entanto, você que acompanha o nosso The Voice Kids sabe que estamos em um momento muito especial da disputa das crianças. Como nosso programa de hoje e da semana que vem já estavam gravados, em respeito a essas crianças que se esforçaram tanto para chegar até aqui nas batalhas, decidimos manter o programa como ele foi gravado."
A TV Globo, no entanto, editou o programa para impedir que Victor aparecesse com destaque. Além do comunicado lido antes da atração por André Marques, a emissora gravou cenas adicionais com Léo, que foi o único a se pronunciar em nome da dupla, como no momento de dizer em qual candidato a dupla votaria. Victor só apareceu bem à distância, de costas ou de lado na poltrona, quando as câmeras faziam uma tomada aberta do local da produção.
A emissora afirmou, ainda, que "o jornalismo da Globo vai acompanhar o desenrolar desse caso para que você saiba tudo o que está acontecendo".
O caso
Segundo a polícia mineira, Poliana relatou que foi jogada no chão pelo companheiro, que depois desferiu diversos chutes nela. Ao tentar sair do apartamento, ela teria sido impedida por um segurança e pela irmã do cantor. Ainda de acordo com a polícia, ela teria conseguido sair do apartamento somente quando uma vizinha, que ouviu os gritos, acionou o elevador.
A empresária ainda teria recebido diversas ameaças da família do cantor após deixar o prédio. No sábado, ela foi até o Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte para realizar o exame de corpo de delito. Segundo informações da Polícia Civil, a mãe do cantor, Marisa Chaves, registrou um boletim de ocorrência contra Poliana logo depois – a polícia não revelou o teor da queixa. Os próximos passos da polícia serão ouvir as testemunhas e acessar as imagens do circuito de segurança do prédio.
Victor não comentou o caso até agora.
Veja o vídeo com o comunicado lido por André Marques.
"A esquerda brasileira saberá se renovar", Folha de São Paulo, 03 de novembro de 2016. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/guilhermeboulos/2016/11/1828990-a-esquerda-brasileira-sabera-se-renovar.shtml. |
A esquerda brasileira saberá se renovar
Marcelo Justo - 2.abr.12/Folhapress
Membro do MTST comemora permanência de ocupações em Santo André e Embu das Artes, em SP
03/11/2016
Embalados pela vitória nas eleições municipais, expoentes do conservadorismo –no Planalto e na planície– passaram a celebrar o declínio da esquerda brasileira. O povo, enfim, teria compreendido o fracasso dos projetos da esquerda, que estaria então aproximando-se de um desfecho melancólico.
Os que celebram hoje são os mesmos que, vinte anos atrás, brindavam o fim da história como uma verdade inexorável. A história, teimosa que é, insistiu em contrariá-los e produziu um ciclo de governos progressistas na América Latina. São os mesmos também que, com sua crença fervorosa numa certa "mão invisível", prometeram paraísos no mercado de futuros e o que conseguiram entregar foi a crise de 2008. É preciso ter cuidado com os vaticínios dessa gente.
De fato, a esquerda brasileira enfrenta uma crise. Crise que marca o fechamento de um ciclo. O Partido dos Trabalhadores, impulsionado em seu surgimento por grandes lutas populares, construiu uma hegemonia na esquerda nos últimos 35 anos. Seu período à frente do governo federal foi marcado por avanços sociais, mas também por descaminhos estratégicos.
Os avanços foram inegáveis: valorização progressiva do salário mínimo, expansão do crédito popular, inclusão dos mais pobres na universidade, programas sociais, redução das desigualdades regionais. Avanços que deram ao PT três reeleições sucessivas, só sendo apeado do poder por um golpe parlamentar.
Mas o preço pago pelo "consenso petista" foi abrir mão do enfrentamento dos privilégios históricos da casa-grande. Achou que poderia aprofundar um projeto de avanços de mãos dadas com os donos do Brasil. Abriu mão de pautar reformas estruturais, como a tributária, agrária ou urbana. Acreditou que teria sempre a sustentação dos partidos conservadores no Congresso, usando dos velhos métodos, e –ao deixar de mobilizar a sociedade por uma transformação do sistema político– acabou tragado por ele.
Na primeira grande oportunidade que tiveram, a casa-grande e seus partidos acabaram com a brincadeira. Deixaram claro que, no Brasil, não há espaço para um programa de avanços sociais sem reformas estruturais e sem enfrentamento. O PT, diga-se, não morreu, mas envelheceu nesse processo. Seu futuro dependerá de ter ou não a capacidade de aprender essa dura lição.
Mas é preciso lembrar que a esquerda brasileira não se reduz ao PT. Nem aos partidos, sem deixar de destacar o importante papel que o PSOL tem cumprido com sua aguerrida bancada e com candidaturas contra-hegemônicas. A esquerda representa, em tempos de desilusão, a esperança de milhões de pessoas por igualdade social e por participação política radicalmente democrática. Isso não é patrimônio de um partido político. Está nos movimentos sociais e nas lutas de resistência.
A esquerda saberá se renovar. Já o está fazendo, com os estudantes ocupando escolas, com os sem-teto, as iniciativas de mídia livre nas redes, a luta das mulheres, a luta pela diversidade sexual, o movimento negro. Cedo ou tarde, esse caldo dinâmico de mobilização social irá se traduzir num projeto político. Política autêntica, que nasce e se faz nas ruas.
O maior desafio é retomar esta relação viva com as ruas e, em especial, com o povo das periferias. Acolher suas demandas, estar junto em suas lutas e não trair suas esperanças. Os que preferem dedicar-se a resmungos amargos nas redes sociais contra a "ingratidão" ou a "alienação" do povo mostram apenas não estarem à altura da tarefa. O reconhecimento das dificuldades atuais precisa vir junto com o aprendizado das lições sobre o processo que nos trouxe até aqui.
Certa vez, Jean Paul Sartre, questionado sobre o "fim do marxismo", disse que o marxismo só poderia ser superado quando fossem superadas as condições que o engendraram, ou seja, a divisão de classes sociais no capitalismo. O mesmo vale para a situação atual da esquerda no Brasil e na América Latina: enquanto nossa sociedade permanecer profundamente desigual, crivada por privilégios e privações, haverá lutas de resistência, haverá esquerda.
Ainda mais por aqui, ante um governo que –sem a legitimidade do voto popular– começa a impor um programa devastador de retrocessos sociais e trabalhistas. A perplexidade da maioria tem prazo de validade, mesmo quando apoiada num poderoso discurso midiático. A história, novamente, não acabou.
Os que comemoram hoje, com sua felicidade estampada na "Caviar Life Style", saibam que a velha toupeira continua a cavar.
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