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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Direita cristã, acabou! - parte 48: um tuíte do outro fundador do Partido Novo ilustra a burrice da direita

Abigail Pereira Aranha

Eu escrevi o texto "João Dória Jr. e o 'sad people' da direita brasileira"[1] pensando em quase esgotar o assunto da direita, especialmente a brasileira; mais de um ano depois de ter escrito as "Notas sobre Liberalismo e burrice"[2]. Como eu tentei explicar nesses e em outros textos, quase todos os liberais e conservadores são notoriamente incultos, doutrinários e despreparados em questões sociopolíticas. Mas vi anteontem um tuíte do Roberto Motta[3], fundador do Partido Novo junto com o João Amoêdo, que me fez pensar se valeria a pena eu comentar a respeito. No tuíte, ele colocou algo como 60 por cento da ignorância dos liberais e dos conservadores.

Roberto Motta

@rmotta2

Antídotos para impunidade e autoritarismo:

-Voto não-obrigatório e distrital

-Partidos locais e regionais

-Candidaturas independentes

-Recall de mandatos

-Fim do fundo eleitoral

-Mandato de 5 anos para cortes supremas

-Fim do foro privilegiado

7:02 AM · 3 de nov de 2021

Vou explicar os erros:

1a) Voto não-obrigatório. Eu já explico há alguns anos: quem já viu eleição de DCE ou de sindicato sabe o que é voto não-obrigatório. Se a Constituição de 1988 tivesse determinado o voto não-obrigatório, o PT estaria na Presidência da República desde 1990. Porque na esquerda, ninguém está falando de voto não-obrigatório, percebeu?

1b) Voto distrital. Quem defende o voto distrital nunca leu a Seção II e a Seção III do Capítulo I do Título IV da Constituição ("Das atribuições do Congresso Nacional" e "Da Câmara dos Deputados"). Por isso você pode achar o argumento de que o voto distrital acaba com o "deputado temático". Mas já pensou o que seria isso, se você sabe que o deputado faz leis? Hoje, o "deputado da Saúde" faz um projeto de lei sobre Saúde pública, o "deputado da Segurança Pública" dá uma olhada e pensa "não sou especialista, mas parece bom". E vice-versa. Sem o "deputado temático", a atividade da Câmara dos Deputados vai ser o que além de disputa de verbas da União pra porciúnculas da base eleitoral de cada deputado? Já é assim? Com o voto distrital, vai ser pior.

2) Partidos locais e regionais. Ideia de coronelista preparado pra perder. Se um partido não é nacional, não tem influência nacional; e se não tem influência nacional, não tem tendência a eleger um Presidente da República. No voto distrital, quem defende o sistema vai ficar satisfeito quando o partido regional eleger meia dúzia de presidentes de superassociações de bairro, porque é isso que eles entendem como deputado.

3) Candidaturas independentes. Ah, os Estados Unidos têm. E quantos deputados e senadores independentes o país já teve? Poucos. Chefes de Executivo, nem pergunto. Sabe por quê? Se um candidato não consegue nem ser aceito em um partido já existente ou criar um novo, ele também tende a não conseguir eleitores.

Se existisse a candidatura independente, como seria se eu concorresse a deputada federal? Eu fui exposta como ateia, masculinista, imprópria pra família e ninfomaníaca. Nenhum partido me quis. Mas alguns leitores e eleitores sim. Eu saí pro corpo a corpo com o eleitorado (que corpo, candidata!), os leitores e os inimigos conheceram o meu rosto e os meus atributos. Técnicos, intelectuais, morais,... mas a imprensa soltou fotos dos meus seios e da minha bunda. E isso fez o apoio eleitoral masculino crescer. Eu fui a menos votada entre os deputados eleitos. Os meus desafetos disseram "deu pra um Mineirão lotado pra ganhar votos". Mas foram só uns 50 eleitores que eu conheci na época da campanha e me comeram, os outros já me conheciam e me comiam antes. Na hora da posse, eu tentei ir com um vestido comportado (tipo uma burka), mas levei um vestido reserva com um decote modesto pro caso de alguma colega tentar ser extravagante. E de fato, uma colega tentou roubar a cena e acabou nem sendo notada. Sem mostrar nada dos seios e da bunda (só os volumes), o meu vestido levou duas tarjas de censura na TV Câmara. Os inimigos disseram: "vai ser difícil essa aí manter o decoro parlamentar". Na atividade parlamentar, toda vez que eu consegui aprovar alguma coisa ou que um projeto de lei que eu apoiei foi aprovado, espalharam que eu "negociei" com colegas homens. Nos gabinetes dos colegas homens, sempre tive as portas abertas (porque as portas fechadas podiam gerar suspeitas). Nos das colegas mulheres, a porta sempre foi na cara. No meu, as portas estão sempre abertas pros colegas (porque eles têm medo de fechar). Com o tempo, eu consolidei o PAL (Partido Ateu Liberal), com uma grande adesão das mulheres cis héteros profissionais do sexo. Porque só lá elas se sentem bem recebidas e, entre as mulheres, só elas têm coragem de entrar.

4) Recall de mandatos. O problema é que quem vai fazer essa chamada não vão ser os eleitores do NOVO, vai ser o eleitorado que elegeu o PT 3 vezes para a Presidência da República (só pra dar um exemplo rápido). No caso do meu mandato independente, os meus inimigos na Câmara dos Deputados (na esquerda e na direita) envenenaram a minha imagem pública dizendo que eu envergonho o Brasil, eu perdi o mandato e a Abigail Pereira (uma LGBT-feminista do PCdoB do Rio Grande do Sul)[4] comemorou no Twitter: "Recall de mandatos: Abigail Piranha é a primeira deputada a tomar no cu. A União Brasileira de Mulheres comemora a vitória contra a sexualização da mulher brasileira no exterior!"

5) Fim do fundo eleitoral. Por quê? Inveja dos partidos grandes? O fundo eleitoral público ajuda, este sim, a minorar o autoritarismo, porque se cada partido tivesse que usar apenas os próprios recursos, só os partidos (de) ricos seriam viáveis. Nós precisamos ter um PSOL, um PSTU ou até um Partido Novo, nem que seja pra apontar o dedo e dizer que não presta ou é fraco. A questão é de dinheiro? O Fundo Eleitoral de 2018 foi de cerca de R$ 12,00 por eleitor, 1,7 bilhões de reais[5] (os eleitores eram cerca de 147 milhões[6]).

6) Mandato de 5 anos para cortes supremas. Comentário no original: "Um mandato de 5 anos para o Supremo faria qualquer partido que ganhasse 2 eleições ter todo o STF no bolso. Não faz sentido."[7] Quando o Partido Novo foi homologado, setembro de 2015, eu já sabia que existia impeachment de ministro do STF, dado pelo Senado. Só porque eu li a Seção IV do Capítulo I do Título IV da Constituição ("Do Senado Federal").

7) Fim do foro privilegiado. Qual o objetivo da proposta? É pra prender qualquer deputado federal que for flagrado embriagado ao volante numa cidade do interior? Se for a peguete de um delegado do município vizinho, é mais fácil ela ser solta e o policial ser preso. Essa proposta é de quem não sabe o que poder, de quem talvez vá saber o que é ganhar uma eleição.

Eu evito voltar ao assunto "direita" porque o Liberalismo e o Conservadorismo estão desaparecendo como grupos políticos visíveis. Relevantes, não são mais e nunca mais serão. Eu fiz a série "Direita cristã, acabou!" pra explicar isso, mas eu iria até a parte 2, de setembro de 2015. Ninguém que atacou o meu trabalho até 2015 está fora do anonimato hoje. Ao contrário, quase todos os "influenciadores" do público liberal ou conservador (exceto pensadores como Olavo de Carvalho ou paspalhos tenebrosos como o Raphael Lima do Ideias Radicais) estão entendendo de 3 anos pra cá o que eu expliquei em 2016, 2014 ou 2009. Com o Liberalismo e o Conservadorismo, está acontecendo o contrário: essas correntes de ideias e seus exponentes só não estão numa espiral de anonimato porque a esquerda está fazendo muita besteira. Está certo que essas ideias apresentadas pelo Roberto Motta não são notoriamente ideias de direita conservadora, mas a exposição dele naquele tuíte nos dá uma amostra da parte superior da cultura do ambiente liberal-conservador no Brasil e (aí é menos óbvio) no mundo. Assim, as sandices da esquerda não colocaram o Liberalismo e o Conservadorismo de volta no debate sociopolítico, mas mostraram que estes não precisam entrar.

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[1] "João Dória Jr. e o 'sad people' da direita brasileira", 07 de setembro de 2021, A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2021/09/joao-doria-jr-e-o-sad-people-da-direita.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2021/09/joao-doria-jr-e-o-sad-people-da-direita.html.

[2] "Notas sobre Liberalismo e burrice", 04 de junho de 2020, A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2020/06/notas-sobre-liberalismo-e-burrice.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2020/06/notas-sobre-liberalismo-e-burrice.html.

[3] Roberto Motta, 03 de novembro de 2021 às 07:02, https://twitter.com/rmotta2/status/1455837657456472067.

[4] "Conheça a Biga", Blog da Biga, http://abigail.blog.br/?p=512.

[5] "Partidos políticos receberam R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral em 2018", Tribunal Superior Eleitoral, 18 de janeiro de 2019, https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2019/Janeiro/partidos-politicos-receberam-r-1-7-bilhao-do-fundo-eleitoral-em-2018.

[6] "Eleições 2018: Justiça Eleitoral conclui totalização dos votos do segundo turno", Tribunal Superior Eleitoral, 30 de outubro de 2018, https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/eleicoes-2018-justica-eleitoral-conclui-totalizacao-dos-votos-do-segundo-turno.

[7] Rodrigo Pinho, 03 de novembro de 2021 às 09:00, https://twitter.com/RodrigoPinho85/status/1455867392773476357.

Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Direita cristã, acabou! - parte 48: um tuíte do outro fundador do Partido Novo ilustra a burrice da direita", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2021/11/direita-crista-acabou-parte-48.html.
Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Direita cristã, acabou! - parte 48: um tuíte do outro fundador do Partido Novo ilustra a burrice da direita", https://avezdoshomens.blogspot.com/2021/11/direita-crista-acabou-parte-48.html.
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