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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Sobre força e cultura

Abigail Pereira Aranha

Nós não temos registros históricos de um governo de algum rei baseado em autoritarismo egocêntrico. Porque se um rei governasse com uma linha de caprichos, produziria um legado que morreria com ele ou seria apossado por outro rei. E um rei que além de voluntarioso fosse violento também atrairia antipatia entre os governados e uma morte por um líder rebelde ou mesmo por um subordinado. Portanto, um governante autoritário tem algum suporte cultural anterior e exterior a ele mesmo. Os reis autoritários antes da Idade Contemporânea podiam desprezar a cultura como a conhecemos hoje ou mesmo a alfabetização, mas não desprezavam (pelo menos não de forma geral) cientistas, inventores, sacerdotes, poetas, músicos, escultores, etc. Se algum deles o fez, foi morto por outro valentão e mal deixou sinais da sua breve existência além daquilo que destruiu ou atrapalhou. E lembro que autoritário é diferente de totalitário, e que totalitarismo é a penetração de um estilo político dentro da cultura geral.

Antigamente, até as religiões mais ridículas podiam dar base política para um rei ou uma liderança tribal, depois de dar uma base cultural para a comunidade governada. E até as democracias da Idade Contemporânea (isso no mundo todo), a autoridade religiosa dava legitimidade e suporte à autoridade política, e não vice-versa; isso quando ambas não eram a mesma pessoa.

Isso tudo que eu disse foi pra explicar que se um mandato político não tem um esquema cultural-intelectual nítido e é truculento ou permite uma onda de despotismo de outra classe através de meios não-policiais, este mandato político é ou suicídio político no médio prazo ou um braço armado de um esquema cultural-intelectual externo. Ainda mais quando a violência parece ser não apenas contra o próprio povo honesto, mas até uma quase criminalização da própria inteligência humana. Esse é o caso dos governos socialistas, dos governos de esquerda moderada ou dos governos simplesmente tolerantes ao que é chamado progressismo mesmo quando se anunciavam liberais ou conservadores. É o caso em que você questiona o LGBT-Feminismo e perde o emprego; ou diz que uma pessoa negra é profissionalmente medíocre e é processado por racismo.

Um caso menos claro disso é o da repressão da heterossexualidade. O que os cristãos e os judeus conseguiram depois de por séculos tratarem a nudez e o sexo como coisas abomináveis? Mais exatamente, o que eles conseguiram depois de por séculos "proteger" suas filhas e irmãs do contato físico e visual masculino? E quando elas se tornaram profissionais do sexo ou apenas tiveram vida sexual não-casta, o que esses homens conseguiram matando-as, jogando a polícia contra elas ou as deserdando quando eram suas filhas? Um dos resultados foi entregar filhas de homens "rígidos" ao feminismo de esquerda assim que ele foi viável. E foi um milagre que os homens, depois das humilhações vindas de outros homens em uma cultura antissexo, ainda tivessem filhos suficientes para a humanidade não entrar em extinção.

Eu ainda não tinha 15 anos quando eu deixava por aí a pergunta de como eu teria um filho se um homem não podia falar de sexo comigo, ou como um homem que ensina os "valores morais" pra filha dele vai ter sexo decente com a filha de outro homem se o outro homem ensina os mesmos "valores" pra filha dele. Se eu era uma garota de 13, 15 anos e conseguia perceber isso, por que o resto da população dos países de maioria cristã parece que nunca percebeu? O meu pai é um cara legal, ele se assustava com esse tipo de pensamento e com a minha proximidade física com os rapazes, mas ele compreendia (ou melhor, ele tentava compreender).

Mas o caso em que o poder vai contra a inteligência humana é mais notável na chamada pandemia da CoViD-19. Neste contexto, o próprio uso de termos como "pandemia" e "quarentena" mostra a falta de integração de palavras com significados. E o que temos em matéria de poder de decisão e cultura?

1) Políticos que fazem quarentena de gente saudável em nome de combater uma doença respiratória, e o mais próximo que eles chegam de saber o que estão fazendo é alguns deles seguirem um plano combinado pra ganhar uma comissão em dinheiro do Partido Comunista Chinês.

2) Empresários que pensam que estão salvando vidas enquanto ameaçam de demissão quem não tomar uma vacina feita em meses e com efeitos colaterais desconhecidos, e tratam como "negacionismo" (o que essa palavra significa?) qualquer esboço de frase racional sobre o assunto (como isso que eu disse há pouco).

3) Uma militância de esquerda que quando não tem cargo político, tem um poder publicitário que convence grandes empresários, algumas organizações internacionais e alguns políticos; mas que, depois de perder a eleição presidencial mesmo se dizendo representante do povo oprimido, insiste em falar pra própria bolha e se afastar mais ainda do povo de verdade, no discurso e na prática, e se afasta inclusive em número de votos nas eleições seguintes.

4) Uma população que, no pouco poder que lhe sobra durante a "quarentena" da "pandemia" (isolamento social por decreto a pretexto de uma doença que em geral não tem sintomas piores que uma gripe forte), se dispõe a policiar os vizinhos para denunciar festas de aniversário, churrascos, ceias de Natal, lojas abertas, etc.

Aqui eu não conto a direita e os conservadores, porque quando e onde tiveram relevância política, estavam mais preocupados em salvar sonegadores de impostos, réus da Justiça do Trabalho, o que sobrou das igrejas e os olhos das mães que têm intolerância a contato de mulher bonita com homem. A direita cristã tem uma base filosófica, mas eram os conservadores que estavam onde o Progressismo ocupou quando ele chegou. Eles perderam o poder jurídico-policial para a esquerda para nunca mais recuperá-lo, e a credibilidade cultural e intelectual não volta nem com outra Inquisição.

Aonde pode chegar um país onde quem não consegue escrever um parágrafo sem um erro dantesco de ortografia tem preferência ou cotas para diplomas universitários e vagas de trabalho? (E não me refiro só ao Brasil) Esta pessoa não vai chegar onde imagina que pode, mesmo que roube o lugar de alguém mais capacitado profissionalmente, intelectualmente ou moralmente. Um país praticamente inteiro de pessoas assim não será direcionado pelas rixas entre mesquinharias de "losers" ensimesmados. Ou melhor, não pelos "losers" ensimesmados.

Você já sente saudades do tempo em que não era raro um ativista de esquerda, mesmo entre absurdos e coisas de que você discordava, escrever artigos que faziam sentido? Você já sente saudades do tempo em que os estudantes e os professores universitários podiam ser alienados ou egocêntricos, mas não eram semianalfabetos? Você já sente saudades do tempo em que o movimento feminista podia ser esporadicamente associado à expressão da heterossexualidade feminina? Ao mesmo tempo em que não existe mais uma fachada de revelação divina para absurdos políticos, morais e acadêmicos (e quando até a revelação divina não é mais aceita como legitimada por si mesma), a própria aceitação geral de absurdos quase autoevidentes como fatos da Natureza é quase outra ditadura. Porque se você não é quase obrigado a ser idiota, você quase não tem sequer meios de expressão se não for.

Reagir como gente inteligente às ações diretas de burros e loucos nem sempre vai resolver o problema que os colocou onde estão, e até isso pode ser exaustivo. Mas o melhor é dar poder à cultura (e ao bom caráter) para combater o poder que tem falta de cultura. Diz a Bíblia que "quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme" (Pv 29: 2, Almeida Corrigida Fiel).

Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Sobre força e cultura", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2021/02/sobre-forca-e-cultura.html.
Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Sobre força e cultura", https://avezdoshomens.blogspot.com/2021/02/sobre-forca-e-cultura.html.
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