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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Grupos de afinidade

Murray Bookchin

(in Anarquismo pós-escassez)

O termo "grupos de afinidade" é a tradução do espanhol "grupos de afinidad", nome de um tipo de organização criada na época anterior a Franco e que serviu de base à temível F. A. I. (que congregava os militantes mais idealistas do C. N. T., a imensa organização anarco-sindicalista). Criar hoje uma imitação servil do tipo de organização e dos métodos utilizados pela F. A. I. não seria possível, nem desejável. Os anarquistas espanhóis da década de 30 certamente enfrentavam problemas sociais inteiramente diferentes daqueles com que hoje se defrontam os anarquistas americanos. O modelo, entretanto, tem certas características que podem ser aplicadas a qualquer situação social, e que muitas vezes foram adotadas intuitivamente pelos radicais americanos que chamaram as organizações resultantes de "coletivas", "comunas" ou "famílias".

Os grupos de afinidade poderiam ser facilmente considerados como um novo tipo de prolongamento da família, em que os laços de parentesco foram substituídos por um relacionamento humano extremamente intenso, relacionamento que é alimentado por idéias e práticas revolucionárias comuns. Muito antes que a palavra "tribo" ganhasse popularidade no movimento da contracultura americana, os espanhóis anarquistas já chamavam suas reuniões de "asambleas de las tribus" - assembléias das tribos. Cada grupo de afinidade tem um número limitado de participantes para garantir o maior grau de intimidade possível entre seus membros. Autônomos, comunitários e francamente democráticos, os grupos combinam as teorias revolucionárias a um estilo de vida e um comportamento igualmente revolucionários, criando um espaço livre onde os seus integrantes podem reestruturar-se, tanto individual quanto socialmente como seres humanos.

Grupos de afinidade pretendem funcionar como catalizadores dentro do movimento popular, não como "vanguardas"; eles proporcionam iniciativa e conscientização, não um estado-maior e uma fonte de comando. Os grupos proliferam em um nível molecular e têm um "movimento Browniano" próprio. A união ou separação de cada grupo é determinada pelas circunstâncias do momento e não por ordens burocráticas vindas de um centro distante. Durante períodos de opressão política, os grupos de afinidade são altamente resistentes à infiltração policial. Devido ao alto grau de intimidade que existe entre os participantes, muitas vezes se torna difícil penetrar no grupo e, mesmo quando isso acontece, não há um mecanismo centralizado que dê aos infiltrados uma visão geral do movimento como um todo. Mesmo sob condições tão difíceis, os grupos de afinidade ainda conseguem manter contato através da literatura e de revistas.

Durante períodos de atividade mais intensa, por outro lado, nada impede que os grupos trabalhem juntos em qualquer nível que se fizer necessário. Eles podem unir-se através de grupos locais, regionais ou nacionais para formular planos de ação comum; podem criar comitês temporários (como os que congregavam estudantes e operários franceses em 1968) para coordenar determinadas tarefas. Entretanto, os grupos de afinidade sempre têm suas raízes nos movimentos populares e são sempre leais às formas sociais criadas pelos revolucionários, não a uma burocracia impessoal. Como resultado de sua autonomia e regionalismo, os grupos são capazes de manter uma avaliação crítica sensível sobre as novas perspectivas. Intensamente experimentais e diversificados quanto ao estilo de vida, eles funcionam como uma fonte de estímulo mútuo, influenciando também o movimento popular. Cada grupo procura adquirir os recursos necessários para funcionar com quase total autonomia, desenvolvendo um perfeito sistema de conhecimentos e experiências para vencer as limitações sociais e psicológicas impostas pela sociedade burguesa ao desenvolvimento individual. Agindo como um núcleo de conscientização e experiência, cada grupo tenta levar adiante uma forma de movimento revolucionário espontâneo do povo, fazendo-o atingir um ponto em que o grupo possa finalmente desaparecer, integrando-se às formas sociais orgânicas criadas pela revolução.

WOODCOCK, George (seleção). Os grandes escritos anarquistas. Tradução de Júlia Tettamanzi e Betina Becker. Revisão de Néca Motta, Ana Regina Vargas e Maria Clara Frantz. Porto Alegre: L & PM Editores, 1981, pág. 160-1.

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Abigail Pereira Aranha no VK: vk.com/abigail.pereira.aranha
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