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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Como os conservadores fizeram feio ser hétero e bonito ser homo - episódio 7: crianças trans existem (eram os adolescentes que não podiam ver nudez)

Participantes exibem cartaz com a frase 'Crianças trans existem' durante a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, na avenida Paulista, em São Paulo - Eduardo Knapp - 11.jun.23/Folhapress

Abigail Pereira Aranha

1) Introdução

Olá, meus amigos e minhxs inimigxs! Vou abordar o rebuliço do bloco para crianças trans na Parada do Orgulho LGBT em São Paulo. Eu dizia em agosto do ano passado[1]:

Combate ao sexo e à sexualidade na internet para impedir uma criança de descobrir cenas de sexo e se viciar em pornografia aos 10 anos. Sim, há quem jure que descobriu casos assim. São mulheres pastoras (vamos pular a parte de se a Bíblia permite) e mulheres feministas. (...) Ah, a censura era contra a heterossexualidade, pra mãe salvar o filho de 14 anos de ver seios mais bonitos que os dela, ou pro pai afastar homens pedófilos da filha de 15 anos. Na hora em que um menino de 6 anos diz que é gay ou transexual, pau no cu dos conservadores.

Na última frase, eu fiz referência ao caso de um menino transexual de 6 anos na Argentina em 2013, que eu abordei na época[2]. Neste caso, a mãe do menino mandou uma carta para a então presidente da Argentina Cristina Kirchner para conseguir a mudança de sexo nos documentos dele. Naquele mesmo ano, também na Argentina (eu também comento no texto), uma menina de 13 anos teve um vídeo erótico vazado que, como dizia o título de uma notícia do Clarín, "convulsiona a La Plata".

Voltando ao caso deste junho de 2023, este é o título de uma reportagem da Folha de São Paulo: "Crianças trans na Parada LGBT+ viram munição para conservadores". Como está no texto, "munição para alguns setores contaminarem toda a sociedade com a ideia de que os progressistas estão indo longe demais e querem transexualizar inocentes criancinhas". E tá errado? Vou deixar a reportagem no apêndice.

Este caso das crianças trans na Parada Gay me chama a atenção porque eu já fui afastada de crianças e adolescentes por causa da minha vida (heteros)sexual, para não ser modelo pra elas. Então, de onde vieram essas crianças trans se os pais delas pensam que eu sou imprópria para as crianças e os adolescentes?

2) O pacto com o Socialismo do Diabo 1

Eu já lembrei aos leitores em vários textos de que o Feminismo já foi conservador na Primeira Onda e já teve uma boa convivência com as mulheres cristãs na Segunda Onda, e o antifeminismo só começou quando o movimento feminista ficou abertamente esquerdista, anticristão e antimasculino. O caso do que chamam de crianças trans é parecido: os esquerdistas e os conservadores estavam unidos em impedirem as crianças e os adolescentes de terem conhecimento sobre sexo, até que a esquerda decidiu seguir um plano próprio. A loucura do LGBT-Feminismo recente é o preço que as tribufus interioranas conservadoras estão sendo cobradas por ajudarem a esquerda para elas tentarem tornar o mundo um paraíso para quem odeia sexo.

Ainda volto a este ponto no final.

3) Batalha pelos direitos LGBTQIA+ na fraudemia

O problema do que chamam de criança trans é de entendimento da normalidade. Ops! Eu usei a palavra "normalidade" contra a palavra "transexual", e haverá quem entenda que eu estou expressando a chamada heteronormatividade, um preconceito que diz que é normal ser heterossexual. Isso também sinaliza para o que eu disse.

E você achou curioso que isso aconteceu pouco depois da panicodemia da gripe chinesa? Ainda era junho de 2020 quando o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas produziu um relatório sobre "o impacto da pandemia de COVID-19 nos direitos humanos das pessoas LGBT"[3]. Eu achei a pérola enquanto eu pesquisava sobre "direitos humanos das pessoas LGBT" na Agenda 2030. Antes, eu achei um artigo da The Harvard Gazette de outubro de 2020: "batalha pelos direitos LGBTQ em meio à pandemia"[4]. Enquanto pra você e pra mim, eles diziam "fique em casa". E o artigo tem um ato falho muito legal: "é claro que a crise está oferecendo cobertura aos regimes totalitários para consolidar seu poder". Não diga!

Eu pesquisei de novo e achei outra pérola também de junho de 2020: "Great Reset: Por que a inclusão LGBT+ é o segredo do sucesso pós-pandemia das cidades"[5]. Está na página do Fórum Econômico Mundial! E cadê os meus direitos humanos de trabalhar em 2020 sem ser chamada de genocida ou teórica da conspiração? "Saúde pública se sobrepõe a direito pessoal, dizem governadores". UOL Debate de 23 de abril de 2020[6]. Um dos participantes era o governador do Maranhão, atual ministro da Justiça Flávio Dino.

Durante as medidas de restrição social da panicodemia, a população em geral saiu com ainda menos inteligência, saúde mental e percepção da realidade do que entrou. E agora, nós temos uma sandice que já tínhamos antes, o ativismo trans, com um outro problema a mais: a identificação de uma pessoa com o gênero oposto ao do próprio corpo numa época em que o homem precisa ser desconstruído e a mulher precisa deixar de ser feminina e bonita. Ou: o homem masculino é assassino de gays e mulheres; a mulher feminina é capacho dos homens conservadores, marionete da indústria da beleza e objeto do mercado sexual. Então, a "criança trans" está se identificando com quem?

4) Mais uma vez, transexualismo não é disfunção sexual

E precisamos ter em mente que criança trans não é do mesmo tipo que criança homossexual. Porque a homossexualidade é uma orientação sexual, ou algo parecido; a transexualidade é uma doença mental, uma dificuldade grave de conexão com a realidade (porque o mundo real físico observável não é referência para essa pessoa nem no que se refere a ela mesma). Mas tanto a criança homossexual quanto a criança trans não existem. A criança homossexual é só uma criança que brinca de imitar alguns homossexuais mais caricatos, um deles pode ser um dos pais. A criança trans é uma criança com modelos tóxicos (nós não conhecemos uma "mulher trans" que pareça uma dona de casa de comercial de meados do século XX, nem um "homem trans" que é fã de personagens heróicos masculinos). Os gays, as lésbicas e os transexuais têm um movimento pra eles na esquerda (não que eles estejam unidos, quem conhece o Movimento LGBTQIA+ por dentro sabe como as letrinhas têm antipatia entre elas mesmas), então os conservadores confundem tudo e colocam o transexualismo como questão de sexo.

5) Meretrizes e, dizem alguns, LGBT's podem entrar no Céu, mas eu não entro nem na igreja

Eu uso um disfarce de gorda pra fora de casa, pra não chamar a atenção pro meu corpo. Se eu usar uma burka, quem der uma olhada mais atenta vai perceber o tamanho dos meus seios e da minha bunda. Se eu for a uma igreja evangélica com vestido comprido de mangas compridas sem o disfarce por baixo, eu vou ser expulsa. Em algumas igrejas, um demônio pode entrar (no corpo de alguém), mas eu não. Porque as minhas formas podem induzir o fiel ao pecado. Aí, o irmão pode expor o problema pra mim e eu vou querer ficar com ele a sós. Eu também posso abalar casamentos, e nem posso entrar na relação pra ajudar.

Se eu fosse mesmo me converter ao Cristianismo do tempo da vovó, eu poderia fazer cirurgias de redução das mamas e das nádegas e toda a igreja ficaria feliz, inclusive eu. O problema é que eu sou hétero, eu gosto de ver homens honrados com alegria de me ver e gosto de dar a eles o que eles querem. Mas além deste, há um outro problema, que tem a ver com o assunto aqui: se eu fosse lésbica ou "mulher trans", eu teria uma igreja pra mim.

6) Transexualismo não tem relação com sexo, mas o combate ao ativismo trans tem

Os cristãos conservadores, especialmente as mulheres conservadoras, têm um padrão moral em que a falta de sexo é um dos maiores valores. Com essa mentalidade, eles dizem que o Movimento LGBTQIA+ quer produzir a erotização das crianças e incentivar a pedofilia. Eu já tento explicar há um bom tempo, e com mais profundidade em um texto de 2016[7], que pedofilia é diferente de sexo com crianças, e as duas coisas são diferentes de sexo com adolescentes. Não são a esquerda em geral e o Movimento LGBTQIA+ especificamente que querem produzir a sexualização infantil, são os conservadores de direita que usam as crianças e os adolescentes como cortina de fumaça para reprimir o sexo.

Para os conservadores, a liberalidade heterossexual está ligada a todas as perversões sexuais possíveis, incluindo a transexualidade (que, como eu expliquei rapidamente, é transtorno psiquiátrico, não orientação sexual). Mas você pode me mostrar alguma mulher feminista ou algum militante LGBTQIA+ falando em sexualidade heterossexual sem ser como objetificação da mulher pelo homem?

7) O pacto com o Socialismo do Diabo 2

O que você, pai ou mãe, ensinou de valores de verdade para os seus filhos? Esse é o título de uma reflexão que eu compartilhei em fevereiro de 2012[8].

Pelo menos no Brasil, enquanto as lesbofeministas malucas e os pregadores conservadores diziam que o softcore induzia ao estupro e a pornografia heterossexual normal levava à pedofilia, a direita cristã se obrigava a votar em um presidente de centro para o concorrente de esquerda não ser eleito. Ao mesmo tempo, pelo menos no Brasil e nos Estados Unidos, os conservadores e a esquerda defendiam o controle da internet, os conservadores em nome de proteger as crianças do sexo (na teoria e na prática). Quando a esquerda maluca anticristã conquistou espaços na sociedade, os liberais-conservadores tiveram de usar a internet e as redes sociais que antes condenavam como ambientes de satanistas e pervertidos sexuais; e lá, foram submetidos à mesma censura que defenderam. E enquanto os pregadores tradicionais pregavam contra a pornografia, a prostituição, o sexo fora do casamento e as mulheres de biquíni na televisão, a militância esquerdista entrava nas próprias igrejas. Ao final, os próprios esquerdistas anunciaram a teologia feminista, a teologia negra e as igrejas "inclusivas" de LGBT, enquanto qualquer pastor que reprovasse o esquerdista[9] e a mãe solteira se arriscava a ser reprovado por mais da metade dos membros assíduos aos cultos de domingo. O horror ao sexo fez valer a concordância com a esquerda maluca?

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[1] Subtítulo "Conclusão (e um pouco sobre sexo)" do texto "O futuro é o Centro (inclusive o futuro da esquerda)", 28 de agosto de 2022. A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2022/08/o-futuro-e-o-centro.html#subtitulo5; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2022/08/o-futuro-e-o-centro.html#subtitulo5

[2] "O Puritano-Feminismo episódio 4: ver nome feio na TV com 9 anos no Brasil ou gravar vídeo safado na Argentina com 13 não pode, mas menino virar menina com 6 tudo bem, né?", 28 de setembro de 2013. A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2013/09/o-puritano-feminismo-episodio-4-ver.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2013/09/o-puritano-feminismo-episodio-4.html

[3] "Report on the impact of the COVID-19 pandemic on the human rights of LGBT persons". Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights, 19 de junho de 2020. https://www.ohchr.org/en/calls-for-input/report-impact-covid-19-pandemic-human-rights-lgbt-persons

[4] "Battle for LGBTQ rights amid the pandemic". The Harvard Gazette, 08 de outubro de 2020. https://news.harvard.edu/gazette/story/2020/10/a-global-look-at-how-covid-19-has-affected-lgbtq-activism

[5] "Great Reset: Why LGBT+ inclusion is the secret to cities' post-pandemic success". World Economic Forum, 03 de junho de 2020. https://www.weforum.org/agenda/2020/06/lgbt-inclusion-cities-post-covid-reset-recovery

[6] "UOL Debate: Saúde pública se sobrepõe a direito pessoal, dizem governadores". UOL Notícias, 23 de abril de 2020. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/23/liberdades-individuais-nao-sao-absolutas-diz-flavio-dino-sobre-isolamento.htm

[7] "Seis e dezesseis (Ou: direita cristã, acabou! - parte 10)", 08 de janeiro de 2016. A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2016/01/seis-e-dezesseis-ou-direita-crista.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2016/01/seis-e-dezesseis-ou-direita-crista.html

[8] "O que você, pai ou mãe, ensinou de valores DE VERDADE para os seus filhos?", 12 de fevereiro de 2012. A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2012/02/o-que-voce-pai-ou-mae-ensinou-de.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2012/02/o-que-voce-pai-ou-mae-ensinou-de.html

[9] Por exemplo: "'Diziam que eu não era cristão de verdade': os evangélicos que mudaram de igreja por causa do bolsonarismo". BBC News Brasil, 30 de setembro de 2022. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63055714

Apêndice

"Crianças trans na Parada LGBT+ viram munição para conservadores". Folha de São Paulo, 12 de junho de 2023. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/06/criancas-trans-na-parada-lgbt-viram-municao-para-conservadores.shtml

Crianças trans na Parada LGBT+ viram munição para conservadores

Grupo afirma que menores não têm capacidade de deliberar sobre adequação de gênero; terapia hormonal só pode ser realizada a partir dos 16 anos

12.jun.2023 às 18h25

Anna Virginia Balloussier

Bruno Lucca

SÃO PAULO

"Crianças trans existem." O estandarte vinha nas cores azul, rosa e branca, que identificam a causa transexual, assim como o arco-íris representa o conjunto sob o guarda-chuva da diversidade sexual e de gênero. Adultos em perna-de-pau e menores de idade em volta, um deles fazendo joinha.

Essas imagens tiradas domingo (11), na Parada do Orgulho LGBT+, em São Paulo, se alastraram tal qual pavio de pólvora nas redes conservadoras. "Qual a tara dessas pessoas com crianças? Não acho certo. E vocês?", publicou no Twitter Amanda Vettorazzo, coordenadora do MBL (Movimento Brasil Livre) e uma das primeiras a trazer as fotos para a arena pública.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) seguiu junto. "A esquerda tenta empurrar sua agenda justamente na infância, para que o estrago introduzido seja de difícil reversão", postou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Por que eles querem tanto a audiência de crianças?", disse Nikolas Ferreira (PL-MG), recordista de votos em 2022 para a Câmara.

Participantes exibem cartaz com a frase 'Crianças trans existem' durante a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, na avenida Paulista, em São Paulo - Eduardo Knapp - 11.jun.23/Folhapress

Participantes exibem cartaz com a frase 'Crianças trans existem' durante a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, na avenida Paulista, em São Paulo - Eduardo Knapp - 11.jun.23/Folhapress

Thamirys Nunes, 33, já foi denunciada ao Conselho Tutelar. Viu um buffet infantil negar festa de aniversário para sua filha e cinco escolas a recusarem. Acostumou-se a ser alvejada por conservadores, mas também por progressistas que não querem sua causa na linha de frente. Temem que vire combustível para o outro polo inflamar o debate sobre direitos LGBTQIA+.

Ela é a fundadora da Minha Criança Trans, ONG que levou o bloco com crianças e adolescentes à Parada. Em 2022 eles também saíram, mas a presença do grupo só viralizou nesta edição do evento.

Thamirys conta que a filha tinha 3 anos quando a família percebeu sua disforia de gênero —desconexão entre o sexo com que alguém nasce e como se identifica. Não conseguia entender a razão de ser chamada pelo masculino. "Ela falava: ‘Mamãe, posso morrer hoje para nascer menina amanhã? Eu teria sido mais feliz se Deus tivesse me feito menina’."

Foi um baque. Ela vinha de uma "família extremamente conservadora", diz. "Eu mesma era bem conservadora, para ser sincera. Mas, em prol da felicidade da minha filha, resolvi falar: tá bom, como [ela] pode ser feliz?"

Comprou-lhe uma sapatilha com brilho, a primeira peça feminina, e formou uma junta de especialistas para entender como criar a menina. Não há qualquer tratamento hormonal envolvido, ao menos até a puberdade, segundo a mãe. Qualquer cirurgia de redesignação sexual, de acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), só depois dos 18 anos.

A criança tem hoje 8 anos e passa pela chamada transição social, que consiste em adequar nomes, pronomes, roupas e outros fatores ao gênero no qual ela se reconhece.

Seu acompanhamento psicológico é feito no Amtigos (Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual), do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). O projeto virou alvo, em maio, de uma CPI na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), que investigará o tratamento concedido a menores de idade.

No ambulatório paulistano, uma equipe multidisciplinar composta por psiquiatras, psicólogos, endocrinologistas e pediatras oferece apoio a crianças e jovens com inconformidade de gênero. Lá, seguindo as diretrizes do CFM, o atendimento ocorre em etapas.

Primeiro, há conversa. Muita. Paciente e familiares são ouvidos. Constatada a disforia e o desejo de transição, há duas opções: se o menor estiver no começo da puberdade, é iniciado o bloqueio puberal, impedindo o desenvolvimento de atributos sexuais indesejados. Já em caso de puberdade avançada, o mais indicado é a terapia hormonal, prevista a partir dos 16 anos.

Alexandre Saadeh, coordenador do Amtigos, diz ser importante o período de diálogo e, se houver acordo, a supressão da puberdade, método que pode ser revertido no futuro. Ele afirma que sentir desconforto com o corpo nem sempre significa transexualidade. Pode ser algo pontual.

"Ninguém é obrigado a tomar hormônios e fazer cirurgias. Caso aconteça, é fruto de um criterioso acompanhamento pautado em conceitos médicos, não ideológicos", afirma.

Karen de Marca, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, ressalta que nem sempre é necessária uma intervenção nos pacientes. Para ela, o acolhimento a fim de mitigar o sofrimento é o mais valioso. "A exclusão dessas pessoas é o que de pior pode acontecer. Há perigo de mutilação corporal e até suicídio."

O pastor e teólogo Yago Martins tacha de criminosa a bandeira levantada por Thamirys e sua organização, que acolhe 580 famílias com filhos trans. "Quando nasce, a pessoa não tem maturidade para perceber a própria sexualidade ou identidade de gênero", afirma.

Ele credita ao "lobby político" e ao "engajamento de grupos progressistas" a normalização de um transtorno registrado no DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, segundo ele. Na verdade, a entidade americana não trata a disforia de gênero como transtorno desde 2013. Em seu manual, diz que a variação de gênero não pode ser enquadrada como patologia, mas problemas psicológicos surgem do sofrimento causado pela inadequação. Estes, sim, devem ser tratados.

Em 2018, a OMS (Organização Mundial da Saúde) removeu a transexualidade da lista de doenças mentais.

"Se alguém se sente gordo sendo exageradamente magro, dizemos que possui anorexia e tentamos conformar a imagem à biologia por meio de tratamento", afirma o pastor Martins, que tem pós-graduação em neurociência e psicologia. "Mas, se alguém se sente mulher sendo homem, mutilamos a biologia em nome de ideologia."

Algumas vozes fora do conservadorismo viram um erro estratégico na publicização da pauta. Autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada: Como a Extrema-Direita Chegou ao Poder" e colunista da Folha, Wilson Gomes conheceu a foto a partir de um post de Maurício Souza (PL-MG), jogador de vôlei eleito deputado após ser acusado de homofobia.

"A tese de que os progressistas têm uma ideologia degenerada que viola as crianças é típica dos conservadores que emergiram ao poder com Bolsonaro", afirma Gomes. "Se você juntar o tema 'trans', 'sexo' e 'criança', cria um coquetel de medos para o qual ainda não há vacina. A questão, portanto, não é se crianças trans existem ou não, é se essa pauta, um poderoso espantalho para a maioria conservadora, beneficia de algum modo a pauta trans."

Thamirys já ouviu que não deveria jogar sua bandeira para o escrutínio público, sob o risco de fornecer munição para alguns setores contaminarem toda a sociedade com a ideia de que os progressistas estão indo longe demais e querem transexualizar inocentes criancinhas.

"Pergunto: e onde eu deveria estar? Como posso proteger minha filha se eu não falar que ela existe? Se eu não tiver nenhuma política pública [para crianças como ela], se pediatras e juízes não estiverem preparados para recebê-la? Quem protege a menina trans expulsa de casa aos 11 que o Estado finge que não viu, que a família finge que não sabe e onde o ambiente mais acolhedor que ela encontra é na prostituição, na exploração sexual?"

Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Como os conservadores fizeram feio ser hétero e bonito ser homo - episódio 7: crianças trans existem (eram os adolescentes que não podiam ver nudez)", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2023/06/feio-ser-hetero-bonito-ser-homo-7.html
Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Como os conservadores fizeram feio ser hétero e bonito ser homo - episódio 7: crianças trans existem (eram os adolescentes que não podiam ver nudez)", https://avezdoshomens.blogspot.com/2023/06/feio-ser-hetero-bonito-ser-homo-7.html

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