Essa conversa de que falta mão-de-obra qualificada, que tem vaga sem candidato à altura, etc é conversa de patrão filho da mãe pra exigir demais e pagar pouco. Mercado é igual mulher: fala que falta homem que presta, mas destrata os bons e valoriza o lixo. Mas vamos supor que é verdade. Vou contar a história do Paulinho.
O Paulinho sempre foi um rapaz estudioso, desde o Ensino Fundamental. Porque ele gostava de conhecer mais, e sempre quis aplicar o conhecimento para o bem geral em alguma coisa em que ele se saísse melhor, mesmo antes de decidir a profissão.
Mas aí, o que ele via? Primeiro, que ele ficava isolado da turma. Quase sem amigos, na escola e na faculdade, e sem namorada. Até aí, tudo bem, ele não perdia muito em companhia e sabia disso. Ele teve colega de classe até que morreu esfaqueado em briga de uma turminha com outra em baile funk enquanto ele estava estudando. Mas além disso, ele nunca tinha as melhores notas da classe. Quem tinha era as vadiazinhas que namoravam os babacas da turma do fundão e pagavam pelos trabalhos da escola e da faculdade, ou um rapaz inteligente alguns anos à frente dela que "ajudava" nos trabalhos.
E sabe uma outra coisa que atrapalhava o Paulinho? Professorinhas cretinas, que detestavam ser questionadas, ou perguntas que ele fazia e elas não sabiam responder.
Aí, enquanto ele estudava para aprender e para ser um profissional sério, as vadiazinhas não estavam só dando pros babacas da turma do fundão ou pros marginaizinhos da porta da escola. Elas também estavam preparando o terreno profissional na trapaça. O Paulinho queria ganhar tudo na raça, como sempre fez. Elas estavam saindo com playboys, ou com professores. Ou estavam pedindo pro tio que deu em alguma coisa na vida pra dar uma "ajuda" em emprego ou estágio.
O Paulinho está na faculdade. Com muito custo, conseguiu um estágio em que ele fez mais pela empresa que a empresa por ele. Aprendeu mais observando trabalho de colegas do que pelo que ele recebeu pra fazer. Além de os chefes da empresa serem uns paspalhos que detestam empregado que sabe mais do que eles, eles também adoravam fazer gracinhas para as meninas do estágio (de 12 estagiários, só ele e um outro eram homens). Ele conhecia duas das mocinhas, as duas eram umas ninfetinhas toupeiras com carta de recomendação de um dos mesmos professores que não quiseram dar uma pra ele.
O Paulinho se forma e vai tentar uma vaga. Primeiro, ele não tem experiência na profissão, além do estágio. Daí, ele perde muitas vagas. Depois, ele passa por aquelas entrevistas de RH pseudointelectual e aquelas dinâmicas de grupo cretinas. Aí, percebem que ele não é dinâmico, aberto a mudanças, de bom convívio, etc o suficiente para trabalhar na empresa (sempre era), ou tinha outro candidato melhor.
Aí, até que enfim, o Paulinho consegue um emprego na formação dele, numa empresa ordinária.
Aqui encerro a história do Paulinho, até porque tem bem mais amargura que doçura.
O Mercado é considerado como uma divindade infalível, principalmente pelos palestrantes paspalhos que nunca pegaram um ônibus na vida e mal acordaram antes das seis horas para uma aula de manhã na faculdade paga pelo papaizinho. Palestrantes que vivem de palestras e livros para animar funcionários de empresas com matriz do Inferno ou ensinar desempregados a conseguir um "bom" emprego como se faltasse algo para conseguir algo decente na vida.
Mas não, as diretorias das empresas públicas e privadas e os altos escalões de serviços públicos são infestados de imbecis. Existem bons chefes? Claro que sim, mas eles podem te dizer a dor que é ter alguma qualidade em uma posição de chefia. No Mercado, empresas se preocupam mais com a maracutaia feita com político ou funcionário do que com conquistar o cliente pela qualidade e pelo bom atendimento. No Mercado, um ônibus pode não ter cobrador para a empresa não gastar 2 salários mínimos.
No Mercado, só existem regras para mim ou para você. Qualquer sandice decretada pela empresa vira a lei sobre a sua vida ou a minha. Eu posso ser demitida porque falei de putaria (ou menos que isso) numa rede social pelo sujeitinho que está comendo a anta da minha colega ninfetinha casada. Não sei se você já se deu conta, mas em quase todas as empresas nós temos uma ditadura islâmica usando o chão do estado democrático de direito brasileiro. E antes que eu me esqueça: viva a anarquia, o ateísmo e o sexo livre e solto. Se o meu patrão não gostasse de mim pra caramba, nessa eu ia rodar bonito.
No Mercado também existe nepotismo e prostituição mal assumida. Por isso que se você é bom não vai ter um sucesso que você merece, porque você não pode mandar no sobrinho do sócio ou na piranha que senta na pica do diretor geral. Disciplina rigorosa nas empresas é controle das folhas de papel que você gasta. Bom, é bem mais, mas não o tanto que deveria ser.
No Mercado, ser bom profissional atrai o ódio, e não a admiração. Por isso, a maior preocupação do bom profissional empregado, numa empresa ou no serviço público, é evitar a colega desagradável e se defender do verme que está tentando armar para tirá-lo de lá.
Qual é, diga-se de passagem, um dos cursos mais populares? Administração. Com todo respeito aos bons administradores, qualquer bicha mimada ou piriguete mal acostumada pode fazer esse curso, qualquer filhinho de papai que nunca foi a uma agência de empregos pode dar palestras de motivação depois de formado. E depois de formado vai mandar nas pessoas cujos trabalhos exigem inteligência e conhecimentos úteis e, o que é pior, vai determinar como elas vão fazer esses trabalhos.
Ah, e já ia me esquecendo. Já existem projetos de lei para cotas para negros nas empresas e para incentivos para empresas abertas por mulheres. Depois dessas porcarias aprovadas, não venham me falar em meritocracia.
O bom profissional que é também uma pessoa de grandeza moral está sujeito a sentir que perdeu tempo estudando de verdade, sendo ético, sendo legal, sendo trabalhador. Então, muitos que poderiam ser ou continuar sendo bons profissionais se cansaram de ser comandados por imbecis, perder vagas para bucetas, ver lambanças que aconteceram e eles avisaram que ia acontecer, ver idiotas crescendo mais que eles, e agora trabalham apenas o suficiente para continuarem no emprego.
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