Estou com 30 anos! Será que eu vou ser conservadia?

"Hoje missionária, ex-Ronaldinha revela prostituição aos 16 e diz que se desfez dos bens ganhos com pornô: 'Não sobrou nada'", Extra, 21 de dezembro de 2021.[1]

Abigail Pereira Aranha

1) Introdução

Você vai ver nos perfis e nos canais antifeministas masculinos que a mulher passa a juventude na luxúria e depois sente o peso do tempo e começa a se comportar como conservadora pra conseguir casamento com um homem honesto, então se torna uma "conservadia". E essa mudança é em torno dos 30 anos de idade. Eu fiz 30 anos em março do ano passado, e há alguns meses eu me dei conta disso. Dos 30 anos e do começo da... nova fase da vida. Eu ainda estou me sentindo como de costume há uns 10 anos, eu ainda estou bem com o passado e com as ideias do passado, mas já estou ficando preocupada.

2) Casamento aberto

Será que eu vou sentir um desejo arrebatador de ser mulher de um homem só? Eu nem tenho o meu marido e já vou desistir da ideia de transar com dois homens na frente dele? Eu defendo o casamento aberto, não coloco aqui a situação de assistir o meu marido transando com outra mulher porque já houve um tempo em que mulheres conservadoras sabiam que o marido tinha amantes e não se aborreciam (ou tentavam não se aborrecer). E por que eu com dois homens e o meu marido com uma mulher só? Porque um homem transar com duas mulheres de uma vez é como comer sopa em dois pratos. Eu usei essa comparação uma vez no Facebook, num perfil que eu já perdi. Olha aí, algumas pistas do meu passado sumiram, e o mérito é das lésbicas burras que denunciaram o perfil.

3) Eu na igreja

Será que eu vou acreditar que Deus existe? Depois de acreditar em Deus, eu vou pra qual igreja? Será a igreja de alguém que eu falei mal? Eu sei que não vai ser uma igreja que aceita homossexuais, porque eu serei uma mulher honrada. E eu também sei que eu nunca vou usar uma roupa que mostre o tamanho dos meus seios ou da minha bunda, eu já não faço isso e eu vou zelar pra não levar os adolescentes e os jovens ao pecado (pecado da licenciosidade pros rapazes e pecado da inveja e da ira pras moças). Ah, e por falar em pecado, será que eu vou encontrar um dos meus amigos da vida velha na igreja? Então, nós estamos frente a frente, um tanto surpresos um com o outro, ele me diz que entregou sua vida a Jesus e foi liberto do pecado da carne, e eu digo isso também. Ele vai me ver com o meu disfarce por baixo do vestido (ah, vestido como eu usava na rua nos tempos do mundo), mas ele vai olhar pra mim como quem conhece o que ninguém mais ali está vendo, como quem já penetrou o meu interior. E eu também vou olhar pra ele como quem conhece dele o que poucas pessoas conhecem, menos pessoas do que as que conhecem de mim no mesmo nível de intimidade. E nós vamos olhar um para o outro como irmãos de sangue. Ah, e eu também vou ter aprendido a olhar pros meus irmãos de sangue sem pensar em sexo (bom, eu sempre soube, mas não o tempo todo).

4) Carrossel de picas

Os "red pill" dizem que a mulher passa pelo carrossel de picas antes dos 25 anos. Se montássemos o meu carrossel e os rapazes estivessem na borda em setores com arcos de 80 centímetros, o raio da roda seria 32 m, se foram 250 homens. Não me lembro do número exato, era em torno de 250, 260. Se eu der 4 segundos de penetração com 2 segundos de intervalo entre cada um e o vizinho, vou demorar 25 minutos pra voltar no mesmo rapaz. Se cada um me der 6 ml gozando na minha boca, eu vou beber 1,5 l de leite. Mas eu gostaria de dar uma foda melhor pros rapazes: dois carrosseis com 5 voltas pra cada rapaz, um carrossel no meu cu e na minha buceta e um carrossel pra terminar levando boquete e gozando no meu rosto e nos meus seios; tempos de 1 minuto e de 12 segundos em cada volta respectivamente, com capacidade de 10 em cada carrossel (uma espera de 9 minutos vai ser razoável). Na verdade, são três carrosseis, o terceiro pra entrar no primeiro. Mas como eu já vi alguns "red pill" dizendo, quando a mulher diz que teve x parceiros sexuais, você deve multiplicar o x por 3. Aí, eu vou ser uma moça de Deus e vou dizer que só até os 25 anos, eu transei com 85 homens.

5) Minha família com meu marido

E a minha família, vai ser igual à das minhas tias que me odeiam porque eu sou... ops, porque eu era promíscua? Nada de casamento aberto, nada de sexo dos meus filhos homens comigo, das minhas filhas com o meu marido, dos meus filhos com as minhas filhas. Isso vale para os filhos de outros relacionamentos do meu marido, os nossos filhos adotivos e os nossos filhos biológicos. E talvez seja uma família numerosa. Ah, e o meu futuro marido talvez tenha um filho menino com 4, 8, 10 anos hoje. Um dia, ele adolescente, nós estamos em casa e ele me vê de saia e camiseta ou menos (trocando de roupa, por exemplo), aí ele tem um susto: "C@$@£€o! A madastra é mó gostosa!". Exatamente na fase da vida em que eu estou fugindo de ir e de levar outras pessoas pro pecado. E na nossa família, eu e o meu marido vamos ensinar os nossos filhos nos princípios do Evangelho. Toda a minha vida dissoluta de antes de aceitar Jesus Cristo como salvador me deixou umas três centenas de amizades que eu tenho até hoje, com lembranças muito prazerosas, consegui nunca pegar doença venérea nem ser agredida gravemente por transar com homens casados; mas todo esse prazer foi ilusão. E ainda tenho que avisar pros nossos filhos, especialmente praquele meu enteado, pra se afastarem da pornografia.

6) Meu passado

Mas a mulher muda de vadia a conservadora pra compensar um passado público de licenciosidade com uma vida pública de santidade? Ou pra ter uma vida pública de santidade antes que o passado seja tornado público? Poxa, eu vou apagar todo o meu passado na blogosfera onde eu fui uma analista sociopolítica boa pra caralho e vou ser o quê? Uma jornalista evangélica com canal no YouTube sobre política ou sobre família (no máximo)? Ou uma assistente submissa do canal cristão do meu marido?

7) Minhas novas amizades com mulher

Um pensamento que me causa terror é me enturmar com as mulheres no local de trabalho. Não é questão de ter um homem pra me sustentar, é a da transformação dos 30 anos que me faz não ver mais graça na vida social com os amigos homens. Aí eu vou trabalhar fora de casa e, no local de trabalho, eu vou conversar mais com mulher do que com homem, às vezes no banheiro ou no vestiário. Femininos. Eu vou me lembrar de quando eu usava o banheiro e o vestiário dos homens e pensar como eu tive coragem. Eu vou me perguntar como um colega homem olhava pro meu corpo ou conversava comigo e eu não me sentia abusada sexualmente. E eu vou me lembrar de quando eu mesma chegava na roda de 3 ou 4 colegas homens no refeitório e mostrava "conteúdo adulto" no meu smartphone pra eles, e eu vou sentir vergonha de mim mesma, e mais vergonha ainda de contar isso na roda das senhoras. Você homem que observa o seu ambiente de trabalho pode ver algum colega contar aventuras sexuais mais ou menos uma vez por semana, ou pelo menos elogiar o corpo de alguma vadia. Mas você não vê com muita frequência alguma mulher falar de sexo ou elogiar beleza de homem. No meu tempo de prostituição, eu tinha casos pra contar toda semana, como uma vez em que eu rasguei uma saia quando fui montar em um rapaz no sofá e eu escorreguei pro chão, e ainda levei o gatinho pro chão quando ele tentou me segurar; eu só vi o rasgo num outro dia, que um colega viu e falou comigo. Aí, os amigos do trabalho estão me vendo virar a tia crente da faxina e eu estou pensando que estou no caminho certo, e que até sou mais mulher por isso. Antes, eu tinha pavor de ficar no meio de mulher. Hoje, eu tenho pavor de gostar de mulher (como companhia).

8) Vida dupla

Mas agora me veio a dúvida: a mudança dos 30 anos é uma mudança interior que é bioquímica, de atitude e espiritual? Ou é só a atitude velha dissimulada? Ou é o caso da mulher metade santa e metade safada que antes mostrou a parte safada e hoje mostra a parte santa? Se não for o primeiro caso, estou mais ou menos salva na parte do sexo. Eu posso servir o meu marido muito bem, com coisas que as irmãs não dão pros maridos delas, e podemos até disfarçar um casamento aberto. Mas conseguiria eu um caso extraconjugal pro meu marido dentro de alguma igreja, com uma mulher que é pelo menos fisicamente apresentável? Ou alguma moça da igreja vai se apresentar pra ele? Provavelmente, uma pobretona com barriga flácida que teve uma vida sexual pobre e quer um novo marido e um pai pros filhos do outro relacionamento. Mas ser uma santa na rua vai ser tão difícil pra mim que vai ser quase como se me baixasse um espírito de santidade de verdade. Eu vou precisar perceber bem quais os homens casados e os rapazes virgens que têm pensamentos impuros comigo e ajudá-los em segredo, na presença do meu marido na nossa casa. "Irmã, o que é isso?! O irmão está logo ali na sala! Irmã, pelo amor de Deus, cubra os seios!"

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[1] "Hoje missionária, ex-Ronaldinha revela prostituição aos 16 e diz que se desfez dos bens ganhos com pornô: 'Não sobrou nada'", Extra, 21 de dezembro de 2021. https://extra.globo.com/famosos/hoje-missionaria-ex-ronaldinha-revela-prostituicao-aos-16-e-diz-que-se-desfez-dos-bens-ganhos-com-porno-nao-sobrou-nada-25326989.html

	Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Estou com 30 anos! Será que eu vou ser conservadia?", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2022/02/30-anos-mulher-conservadora.html.
	Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Estou com 30 anos! Será que eu vou ser conservadia?", https://avezdoshomens.blogspot.com/2022/02/30-anos-mulher-conservadora.html.