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sexta-feira, 7 de maio de 2021

Os MGTOW e o Ativismo de Direitos Humanos dos Homens são um ramo da direita cristã? - parte 1

Abigail Pereira Aranha

01) Introdução

A página feminina The Cut publicou em dezembro de 2016 o artigo "Ativistas pelos Direitos dos Homens estão encontrando um novo lar com a Direita Alternativa"[01] e em agosto de 2017 o artigo "O Ativismo pelos Direitos dos Homens é a droga de entrada para a Direita Alternativa"[02]. Não vou dizer "recomendo a leitura para reflexão" porque os dois artigos são aquela rotulagem vazia do LGBT-Feminismo recente. Mas quando eu descobri o primeiro artigo, fui ler esperando achar algum dado concreto mais alguma interpretação que fizesse sentido, de algo que eu mesma já observava. Aqui, eu vou colocar as minhas próprias observações de como aqueles títulos fazem sentido.

Você pode provar que o Movimento de Direitos Humanos dos Homens começou nos anos 1990 nos Estados Unidos? Você está certo, é verdade. O que eu vou tentar mostrar não é que o movimento foi criado pela direita estadunidense. Até ao contrário, começou entre homens feministas. O que eu vou mostrar aqui rapidamente é que, mesmo assim, o antifeminismo masculino pode seguir um rumo em que serve à direita cristã. É a mesma linha de raciocínio como um comunista pode provar que a esquerda atual não tem a orientação das obras de Karl Marx ou mesmo a do governo Mao Tsé-Tung. Você vai me pedir provas de que alguma organização cristã ou algum partido de direita comanda secretamente o portal A Voice For Men[03]? Aparentemente, isso não é verdade. Mas aí eu repito o que disse há pouco: esse movimento antifeminista pode seguir, mesmo assim, um caminho em que vai ser um anexo da ala conservadora da política. Melhor, repito o que eu digo há alguns anos: se os homens que produzem conteúdos antifeministas continuarem a dar evidência a mulheres conservadoras que só começaram a falar mal das feministas radicais de 2014 pra cá (ainda assim, fazendo o que até pra elas é uma caricatura ignorante), o Movimento de Direitos Humanos dos Homens vai ser uma crítica interna do Feminismo.

02) Os MGTOW querem a volta aos "anos dourados"?

Pra começar, é comum entre os MGTOW[04] e os "Red Pill"[05] a comparação das mulheres da geração atual com a geração das próprias avós, assim como do casamento no tempo das avós deles com a indústria do divórcio e da pensão alimentícia nos casamentos atuais. Alguns destes homens antifeministas já disseram literalmente que o problema é o casamento ou mesmo o relacionamento interpessoal com as mulheres ATUAIS. E aqui eu trago o ponto: por que fazer uma comparação com o passado? Por que estes homens antifeministas não acham debatível que os problemas que eles mostram para os homens atuais já existiam no passado e talvez fossem até piores? Eu abordei isso no texto "O lado rural do antifeminismo"[06] e no texto "72 virgens e 30 moedas de prata"[07], textos que eu escrevi em 2016, antes de alguns deles sequer perceberem aquilo que hoje atacam tanto. Mas a exaltação de um passado glorioso junto com o ataque a uma modernidade em degeneração não é coisa de conservador?

Mas esses homens antifeministas não atacam os homens conservadores com certa frequência? Um dos termos que eles usam é "consermangina", mistura de "conservador" com "mangina". "Mangina" é a mistura de "man" com "vagina", um homem que pensa com a cabeça das mulheres. Mais exatamente, a cabeça das mulheres feministas. Então, eles não atacam os homens conservadores, mas os homens feministas com aparência conservadora, ou os homens conservadores enredados pela militância feminista de esquerda.

Segundo quase todos os homens antifeministas, incluindo alguns no Ativismo de Direitos Humanos dos Homens, o Feminismo só começou na Segunda Onda, fim dos anos 1960; ou, pior ainda, na Terceira Onda, começo dos anos 1990. A Primeira Onda começou em meados do século XIX. Essa Primeira Onda era conservadora, pelo menos como entendemos hoje: várias influenciadoras eram, por exemplo, contra o aborto e contra o trabalho feminino fora de casa (que na época era ruim pra todo mundo). Se o Feminismo de esquerda começou na Segunda Onda, a segunda veio depois da primeira. Então o movimento LGBT-feminista de esquerda começou dentro de um ambiente cristão tradicional? Sim, e eu expliquei isso naqueles textos de 2016 que eu citei lá atrás e em outros não muito recentes. Mas o que eu gostaria de chamar a sua atenção aqui é para esse esquecimento, ou desconhecimento, desses homens antifeministas sobre a Primeira Onda do Feminismo. Eles falam "antes do Feminismo" pra se referir aos anos 1950, ao começo dos anos 1960 ou, alguns (que eu já vi), aos anos 1980.

Se eu fosse 40 anos mais velha e começasse a vida de licenciosidade aos 14 anos, isso seria em 1965. Eu não conseguiria nem ficar limpa e cheirosa pra receber os rapazes pro sexo anal. Quem era pobre no Brasil tinha pouca água pra tomar banho e sabonete era luxo. A minha casa e as dos meus amigos seriam em ruas sem pavimentação e sem luz elétrica. Talvez eu teria de ir pro prostíbulo pra receber melhor os amigos, mas ainda sem muita disponibilidade de camisinhas e pílula anticoncepcional, e sem uma cozinha pra fazermos umas coisas gostosas. E eu ganharia o preconceito do público feminino (e parte do público masculino) contra mulher jovem, cheia de curvas, solteira e simpática (aqui não é eufemismo pra "vagabunda", mas essa seria a visão deles). Preconceito que é um ataque contra os homens heterossexuais. Mas em 1965, só a União Soviética tinha mais de 40 anos. Na época, havia o "boato" de que ela dominaria o mundo. Mas parece que enquanto o movimento socialista não chegou na política municipal do interior, no Brasil e em outros países, era suficiente confundir a luta contra o Socialismo com repressão sexual, cruzada católico-protestante e clientelismo político a favor da elite local.

03) PC Siqueira foi inocentado: por que só eu comentei o caso desde o começo?

Nenhum homem que produz conteúdo antifeminista ou conservador no Brasil (que eu tenha visto, e eu acompanho vários dos principais) comentou sobre a comprovação da inocência do youtuber PC Siqueira das falsas acusações de pedofilia[08]. Na época do caso, eu não escrevi só que a acusação era falsa, eu também tentei explicar por que os homens conservadores em geral, incluindo alguns antifeministas, engoliram a falsa acusação[09]. Eu coloquei no texto que o padrão da falsa denúncia era o mesmo de várias falsas denúncias expostas por masculinistas e a própria fonte já havia feito uma, de um suposto assédio sexual a uma garota adolescente em 2012. Aqui, eu vou destacar um ponto que eu não enfatizei muito naquele texto: o acusado era alinhado com a esquerda. Foi por isso que os antifeministas conservadores ignoraram o caso ou fizeram coro com a falsa acusação? Aparentemente, sim.

04) Um pouco de teoria sobre a ligação da direita conservadora com os MGTOW e os ADH (Ativistas de Direitos dos Homens)

O pensamento conservador e o pensamento liberal foram derrotados eleitoralmente pela esquerda há pelo menos uma década e meia no Brasil, nos Estados Unidos (apesar da reeleição de George W. Bush) e outros países da América e da Europa. A derrota eleitoral não podia ter vindo antes da derrota política, e a esquerda sempre soube desde o começo que política não é só ganho de cargo político formal. E a derrota política veio depois da desmoralização intelectual e moral. Até em torno de 2014, a direita cristã no Brasil e nos Estados Unidos era essencialmente uma bolha provinciana dentro e fora da internet, que não tinha alcance nem credibilidade para desfazer a imagem de que ser contra o Feminismo de esquerda era coisa de semianalfabeto, ou que ser contra o movimento operário era coisa de herdeiro mal acostumado. Quando a própria esquerda entrou em decadência intelectual e moral, além de se distanciar do povo de verdade, ela perdeu credibilidade, votos e até alguns cargos políticos, incluindo as presidências do Brasil e dos Estados Unidos que foram assumidas por conservadores. Mas mesmo isso não significa que os liberais e dos conservadores estavam certos nos clichês como "o Socialismo não funciona" ou "Estado Mínimo". Significa apenas que a esquerda dos anos 2010 cometeu burrices, insanidades e iniquidades que teriam sido condenadas (ou realmente foram) pelos próprios companheiros da primeira metade do século XX. Mas exatamente pelos motivos pelos quais o Liberalismo e o Conservadorismo mereceram o descrédito intelectual, social e cultural que a esquerda produziu, os liberais e os conservadores nunca perceberam isso. Eles nunca deixaram de ver o avanço do Socialismo como uma disputa por cargos políticos de cidades pequenas do interior. Então, quando a esquerda radical recente ficou feia aos olhos do público geral, os liberais e os conservadores olharam pra isso como qualquer aspirante a cargo político de cidade pequena do interior do Brasil vê um deslize grosseiro de um político adversário. É aqui que a direita cristã vai ao encontro dos homens antifeministas. Ou vice-versa.

Mas em que o antifeminismo masculino em geral ajuda essa direita cristã? Atacando o ambiente sociopolítico da época da Quarta Onda do Feminismo, que começou em 2012, como quem faz material apócrifo pra campanha de um candidato puritano contra um adversário de eleição municipal de cidade pequena do interior do Brasil. Com isso, o produtor de conteúdo junta um público masculino moralista frustrado (que não é a totalidade da audiência, inclusive porque eu mesma sou mulher). Mesmo que nenhum candidato de direita ou conservador apareça nesses espaços, esse trabalho é uma campanha eleitoral contra a esquerda. Ou pelo menos é essa a ideia. Ou melhor, seria se o autor não pregasse contra "os políticos" ou "o Estado" enquanto expõe o que chama de "o Feminismo", como é o perfil geral. Mas a direita cristã na verdade é isso, tanto os que fazem esses conteúdos quanto os que se identificam com eles. Os poucos que são políticos são, no máximo, feministas conservadores com um trabalho administrativo-contábil que inclui algum trabalho de assistência social.

Eu já fiz caricatura dos MGTOW e dos "Red Pill" como homens de mentalidade católico-protestante que foram mal sucedidos sexualmente; alguns mal sucedidos no divórcio, outros mal sucedidos no projeto de ter uma esposa à moda antiga numa cidade pequena enquanto se divertiam com jovens bonitas feministas na cidade grande, outros que foram rejeitados pelas mulheres e atribuem isso a um país predominantemente urbano e alfabetizado. Eu faço isso para chamar a atenção de eventuais leitores entre esses homens para si mesmos, e para usar o princípio de Jo 8: 32: "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[01] "Men's-Rights Activists Are Finding a New Home With the Alt-Right", The Cut, 14 de dezembro de 2016, https://www.thecut.com/2016/12/mens-rights-activists-are-flocking-to-the-alt-right.html.

[02] "Men's-Rights Activism Is the Gateway Drug for the Alt-Right", The Cut, 17 de agosto de 2017, https://www.thecut.com/2017/08/mens-rights-activism-is-the-gateway-drug-for-the-alt-right.html.

[03] Organização de referência do Ativismo de Direitos Humanos dos Homens, que tem o portal http://avoiceformen.com.

[04] MGTOW: "Men Going Their Own Way", homens seguindo seu próprio caminho.

[05] "Red Pill" é uma alusão à série "Matrix": o líder da resistência, Morpheus, encontra possíveis rebeldes dentro da Matrix e lhes oferece a opção de uma entre duas pílulas, a pílula azul que deixa a pessoa na Matrix e a pílula vermelha ("red pill") que permite a pessoa ser desconectada sem morrer para se juntar à resistência no mundo real. Matrix é um sistema em que as máquinas conectaram a humanidade inteira menos os rebeldes, em que cada pessoa recebe no cérebro uma realidade virtual enquanto alimenta as máquinas com a energia gerada pelo próprio corpo. No vocabulário desse e de outros grupos masculinos antifeministas, "Matrix" é o conjunto de ideias que são ensinadas aos homens: as mulheres são angelicais, elas devem receber cavalheirismo e proteção dos homens, o Feminismo só busca direitos justos para as mulheres que a sociedade machista não dá, etc.

[06] "O lado rural do antifeminismo", 09 de abril de 2016, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2016/04/o-lado-rural-do-antifeminismo.html; e A Vez dos Homens que Prestam, http://avezdoshomens.blogspot.com.br/2016/04/o-lado-rural-do-anti-feminismo.html.

[07] "72 virgens e 30 moedas de prata", 02 de setembro de 2016, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2016/09/72-virgens-e-30-moedas-de-prata.html; e A Vez dos Homens que Prestam, http://avezdoshomens.blogspot.com/2016/09/72-virgens-e-30-moedas-de-prata.html.

[08] "Após perícia, polícia não encontra provas para incriminar PC Siqueira por pedofilia", Notícias da TV, 23 de fevereiro de 2021, https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/celebridades/apos-pericia-policia-nao-encontra-provas-para-incriminar-pc-siqueira-por-pedofilia-51943.

[09] "Por que homens que mostram falsas denúncias de mulher contra homem aceitam uma falsa denúncia de pedofilia", 22 de julho de 2020, A Vez das Mulheres de Verdade, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2020/07/falsas-denuncias-de-mulher-pedofilia.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2020/07/falsas-denuncias-de-mulher-pedofilia.html.

Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Os MGTOW e o Ativismo de Direitos Humanos dos Homens são um ramo da direita cristã?" - parte 1, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2021/05/mgtow-direitos-humanos-dos-homens-direita-crista-1.html; parte 2, https://avezdasmulheres.blogspot.com/2021/05/mgtow-direitos-humanos-dos-homens-direita-crista-2.html.
Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Os MGTOW e o Ativismo de Direitos Humanos dos Homens são um ramo da direita cristã?" - parte 1, https://avezdoshomens.blogspot.com/2021/05/mgtow-direitos-humanos-dos-homens-direita-crista-1.html; parte 2, https://avezdoshomens.blogspot.com/2021/05/mgtow-direitos-humanos-dos-homens-direita-crista-2.html.

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