Obrigada ao Jewish News Reporter pela imagem.[1] |
1) O analfabeto do século XXI, segundo Alvin Toffler
Uma frase famosa de Alvin Toffler é "o analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender". Pra mim, essa frase sempre foi no mínimo estranha, porque "desaprendizado" é como "desexperiência"; pelo menos se falamos da trajetória mental de pessoas com alguma decência cerebral, que, em vez de subtrair, soma verdades, conhecimentos e habilidades. É estranho que alguém que parece desconhecer o próprio conceito de aprendizado escreva um livro intitulado "Choque do Futuro" querendo ser levado a sério, e mais estranho ainda que o autor consiga.
2) Notas sobre a linguagem humana
Ironicamente, o analfabeto de Alvin Toffler existe no século XXI: é o que era conhecido como pessoa inteligente e não levada por modismos no século XX. Os não-analfabetos do século XXI, que sabem desaprender, são nossos estudantes e professores universitários, nossos políticos, nossos postos de comando da Administração Pública e das empresas privadas, nossos jornalistas, etc. Os leitores brasileiros vão se lembrar do Brasil, que entre os 10 maiores PIB's do mundo há mais de 30 anos, fica entre os piores resultados para o 1º e o 2º graus em avaliações internacionais, está praticamente fora da lista das 250 melhores universidades do mundo, não tem Prêmio Nobel e quase não tem pessoa ou empresa de relevância internacional. Mas o caso do "coronavírus" mostra que o Brasil não era o único país da América com um nível intelectual tão baixo; por sinal, mostra que o Primeiro Mundo não tinha tanta inteligência quanto imaginávamos. Pra começar, "coronavírus" é um termo errado. Vou explicar por que e aí entramos no ponto.
Ou melhor, vamos começar a entrar no ponto pelo que é a linguagem humana. Em linhas gerais, a linguagem humana é um conjunto de signos (como palavras, sons ou gestos) que isoladamente representam elementos do mundo real ou ligam outros signos. Não basta que os signos existam, a linguagem também precisa se associar ao mundo real. Daí, a linguagem escrita e a oral também têm, além dos significados dos signos, as regras para associar os signos. Bom, considerando o mundo real já conhecido, a linguagem humana escrita ou oral também pode descrever um objeto do mundo real ainda não existente (um material publicitário de uma obra pública que ainda não começou é um exemplo disso) ou uma ficção (por exemplo, para quem leu um romance que aconteceu em um lugar fictício, o nome deste lugar remete a alguma coisa que pode até ser comparada com lugares reais).
3) O novo coronavírus na linguagem humana
Agora eu volto ao termo "coronavírus". Pra começar, "coronavírus" não é um vírus[2]:
Os coronavírus são uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais, incluindo camelos, gado, gatos e morcegos. Raramente, os coronavírus que infectam animais podem infectar pessoas, como exemplo do MERS-CoV e SARS-CoV. Recentemente, em dezembro de 2019, houve a transmissão de um novo coronavírus (SARS-CoV-2), o qual foi identificado em Wuhan na China e causou a COVID-19, sendo em seguida disseminada e transmitida pessoa a pessoa.
Então, "novo coronavírus" ainda é um termo descritivo, mas usar o termo "O coronavírus" denuncia que a pessoa não tem noção do que está dizendo. Ou melhor, isso mostra que a pessoa não está dizendo nada nem entende o que lê ou ouve sobre o SARS-CoV-2, ou "novo coronavírus". Pior: essa pessoa acha uma picuinha o que eu disse há pouco, sobre usar termos corretos para no mínimo parecer que está se referindo a alguma coisa no mundo real. Quem pensa isso desconhece a linguagem humana, naquilo que eu abordei e em outros pontos que eu vou explicar agora.
4) Mais notas sobre a linguagem humana e o novo coronavírus
O uso da linguagem humana tem um emissor, um destinatário, uma mensagem e um canal. E a mensagem na linguagem falada ou escrita usa signos da linguagem usada (o idioma) para se referir a um objeto que pode ser da própria linguagem, de outra linguagem (por exemplo, uma palavra em uma tradução para outro idioma) ou externo às linguagens (frequentemente do mundo físico).
Eu expliquei algumas coisas sobre a linguagem humana até aqui, e vou explicar outras mais adiante, dentro da linguagem oral e da linguagem escrita, mas tudo isso vale também para as artes visuais, como desenhos, pinturas, esculturas, bonecos e fotografias. Nessas artes visuais, nós não temos exatamente um dicionário de signos e significados, mas elas podem transmitir uma mensagem pelo menos dentro da cultura local.
No que eu disse sobre o "novo coronavírus", eu não entrei nas questões de o que é a doença CoViD-19, de qual a diferença entre CoViD-19 e gripe comum ou pneumonia comum, de como é feita a onda de pânico da chamada pandemia, de qual o interesse político na chamada pandemia e de por que o vírus ganhou merecidamente o apelido de "vírus chinês". Não vou entrar nesses aspectos aqui para não confundir os leitores e não sair muito do ponto.
O analfabeto de Alvin Toffler não desaprendeu que "quarentena" é pra isolar os doentes das pessoas sem a doença; nem que máscaras faciais servem para pessoas com doenças respiratórias não transmitirem a doença a outras pessoas. O caso das máscaras faciais não é de signos, mas é um exemplo da consequência da desconexão entre linguagem e mundo real. Quando as palavras de uma pessoa perdem ligação com o mundo real, primeiro as palavras podem perder ligação até entre elas mesmas. Já não é raro e é cada vez mais comum um artigo jornalístico que prova em um parágrafo o contrário do que disse em outro. Depois, o que se perde é a própria ideia de conexão entre os objetos conexos do mundo real. Por exemplo, o confinamento social (não "quarentena"), o fechamento de comércios e o uso de máscaras não diminuíram em nada o avanço do tal "o coronavírus" e quase ninguém percebeu, e mais ainda, muitas pessoas passaram 3, 4, 5 meses no isolamento social de suas casas esperando o "pico da pandemia" no mês seguinte, de uma doença cujo período de incubação é até 14 dias. Em outro exemplo, essa chamada pandemia é observável por mais atrocidades políticas e policiais, empresas falidas, pessoas desempregadas e atendimentos adiados (inclusive atendimentos médicos para outras doenças) do que casos da doença em questão, e quase todos ainda tratam isso como uma pandemia de verdade. A doença dessa pandemia mortal, aliás, tem 5% de mortalidade. Mas ninguém vê algo errado nisso se não for um analfabeto de Alvin Toffler.
5) Mais notas sobre a linguagem humana
A questão aqui não é se o público geral tem leituras erradas ou se informa pelos noticiários errados, é a desconexão entre linguagem e realidade para a maioria da população. Agora vou usar um exemplo fora do caso da CoViD-19: existe a palavra "Nazismo", existiu um sistema sociopolítico no mundo real ao qual foi associado este signo, existe a definição de Nazismo (a definição não é o objeto, é a intermediação entre o objeto e o signo), existem informações escritas além da definição que esclarecem o que foi o Nazismo; mas a maior parte do uso da palavra "Nazismo" hoje não tem relação com os elementos do mundo real e sequer com a definição. Se dissermos a alguém que faz esse uso dessa palavra que o Nazismo acabou nos anos 1940 quando Adolf Hitler perdeu uma guerra e se suicidou com a sua esposa, isso causa estranheza, pra dizer o mínimo.
Um outro exemplo: "crime de ódio" ou "discurso de ódio". "Odiar" é um verbo transitivo, portanto um verbo que requer um complemento, um objeto. O mesmo se aplica ao substantivo "ódio". Mas quem fala em "crime de ódio" ou "discurso de ódio" não diz qual é esse objeto e parece pensar que nem existe essa pergunta. Mais um exemplo: as mesmas pessoas dirão que não existe racismo contra brancos como conceito, mesmo que a palavra "racismo" signifique discriminação de uma etnia (ah, também existe racismo a favor). Esses dois exemplos não são distração nem pressuposição de um consenso geral (ou pelo menos consenso entre os progressistas), são exemplos de uma fala tão desconectada da realidade que tem desconexão dentro da própria linguagem.
6) Notas sobre aqueles que deviam viver do conhecimento da linguagem humana
E mais um exemplo prático do desaprendizado da linguagem humana é o que acontece com o setor de publicidade e propaganda no Brasil, que chegou ao ponto de ter o governo (nas três esferas) como principal cliente no governo PT. Isso afetou também o jornalismo, porque os periódicos tinham os anúncios como sustento. Mas na publicidade, na propaganda e no jornalismo, volto àquela revisão sobre os elementos da linguagem. Quem era o destinatário? Qual era a mensagem? E se a mensagem publicitária está dirigida ao destinatário errado? Por exemplo, uma campanha contra "a violência contra a mulher" feita para homens honrados. E se a mensagem chega ao destinatário certo, mas não tem o efeito pretendido? Por exemplo, uma reportagem tendenciosa contra ou a favor de uma pessoa ou de um grupo. Veja bem, não são mentiras. Uma mentira apenas tem um conteúdo contrário a uma verdade específica, mas é um uso correto da linguagem humana (correto no sentido funcional). Também não são manipulações. A manipulação também é um uso correto da linguagem humana, a verbal e a não-verbal (correto no sentido funcional). Nem isso eles fazem, o setor de publicidade e propaganda e o jornalismo se reduziram, pelo menos desde o tempo do Petrolão, a um canal sem destinatários usado pra desviar dinheiro público; fora isso, eles não sabem como falar. Eles não sabem como aumentar a venda de um produto, eles não sabem convencer alguém de alguma ideia, eles não sabem convencer alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Pior que isso: como consequência dessa perda do domínio da linguagem humana e dessa perda da integração com a realidade, eles em geral nem percebem isso. Eles também não percebem que mesmo quando eles falam em uníssono, eles têm (juntos) um número de leitores irrisório e uma credibilidade menor ainda pra quem devia estar sendo ouvido pela população inteira.
7) As bases da "panicodemia"
Tudo isso não veio no golpe do vírus chinês, nem mesmo com a esquerda no poder político formal. Mas aqui temos novamente a lição de que a História não dá saltos. Um conservador pode fazer um retrato quase paradisíaco do próprio país de 60, 80 anos atrás. Mas isso não é História, menos ainda memória, visto que a época é de quando os pais ou os avós deles nasceram. Aí voltamos ao assunto da linguagem, da ligação da linguagem com o mundo real: quando a linguagem perde a ligação com o mundo real, pode existir lenda nostálgica, mas não História. Mas aí, e também no dado de que a História não dá saltos, um esquerdista também pode observar que uma atuação da esquerda pode ser no sentido de preservar um erro que ela diz combater. Por exemplo, no caso do Feminismo, os conservadores desconhecem que a Primeira Onda era conservadora e os progressistas não acreditam que combater a prostituição os iguala aos conservadores do começo do século XX.
Eu escrevi em 2016 sobre a confusão que os conservadores fazem de pedofilia com sexo com adolescentes, e os problemas que isso vai trazer pra todo mundo[3]. Descobri há quase um mês um artigo de 2011 do periódico da Academia Estadunidense de Psiquiatria e Direito sobre por que a ebefilia não deveria ser incluída no conceito de pedofilia[4]. Ebefilia é a atração por adolescentes no início da adolescência (até uns 14 anos). Existe também a efebofilia, que é a atração por adolescentes do meio pro final da adolescência. Mas se a efebofilia não está dentro do conceito de pedofilia, está dentro do conceito de MAP, "minor-atracted person", pessoa atraída por menores. Aqui temos mais um exemplo de linguagem confusa. Menor de idade é um conceito jurídico-policial, então temos um conceito jurídico-policial introduzido nas Ciências Médicas. E mais do que isso, temos pessoas que dizem que os "MAP" deveriam receber pena de morte, então temos um caso de Ciências Médicas introduzido no Direito Penal, se assumirmos que o termo é realmente uma questão de parafilia desde o começo. Para essas pessoas, ter atração por uma garota de 14 anos é o mesmo que estuprar uma criança. Porque a linguagem delas mostra uma visão do mundo real que é confusa.
Também houve um tempo em que as pessoas precisaram desaprender que moral não tem relação com falta de sexo para reaprender que o sexo é inominável e que os povos que não têm horror à nudez feminina são povos amaldiçoados. Mas esse foi um reaprendizado tão consolidado e que aconteceu há tanto tempo que os descendentes dessas pessoas não acham humano pensar diferente.
Vou contar um caso que aconteceu comigo quando eu tinha 14 anos. Eu estava com o meu pai e um dos meus irmãos em uma lanchonete, e um rapaz de 22 anos estava olhando pra mim (eu sei a idade dele porque ele me comeu algumas semanas depois e ele me disse). Eu nunca usei roupas provocantes na rua, eu estava com um vestido comprido, mas os meus seios já tinham um bom volume. Eu sinalizei pro rapaz que eu percebi que ele estava olhando pra mim, mas que ele podia ficar tranquilo, e fui até ele. Eu comecei a conversar com ele: "Oi. Gostou de ver?". Quase ao mesmo tempo em que o meu pai e o meu irmão perceberam que o rapaz olhava pra mim, e eles não gostaram. E quando eu tentei tranquilizar os três, eu disse pro rapaz: "Se você não pode falar de sexo comigo, como você vai me comer?". Os três se assustaram, e também a mulher que estava no atendimento no balcão. A mulher no balcão me olhou com aquela cara "vai embora logo porque aqui não é ponto de puta", mas o meu pai e o meu irmão não sabiam o que dizer. A pergunta tinha uma obviedade, mas dizer aquilo parecia absurdo. Mas eu e aquele rapaz conversamos um pouco, depois o meu pai e o meu irmão conversaram um pouco com ele também. Eu conto esse caso pra ilustrar como uma coisa que uma comunidade inteira aprendeu como certo pode não ter nem coerência interna.
Pessoal, eu tentei fazer um texto curto, mas desisti. Um problema de escrever um texto para o não-analfabeto de Alvin Toffler, ou que possa ser encontrado por ele, é precisar reexplicar o que ele desaprendeu pra ele reaprender o que ele antes sabia e dessoube. Eu dei uma revisão rápida sobre a linguagem humana! E um leitor com diploma universitário pode nunca ter visto isso antes e pode não entender.
NOTAS E REFERÊNCIAS:
[1] "Future Shock author Alvin Toffler dies at 87", Jewish News Reporter, 30 de junho de 2016, https://jewishnews.timesofisrael.com/future-shock-author-alvin-toffler-dies-at-87.
[2] "Sobre a doença", Ministério da Saúde, 13 de março de 2020, https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca.
[3] "Seis e dezesseis (Ou: direita cristã, acabou! - parte 10)", 08 de janeiro de 2016, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2016/01/seis-e-dezesseis-ou-direita-crista.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2016/01/seis-e-dezesseis-ou-direita-crista.html.
[4] "Hebephilia Is Not a Mental Disorder in DSM-IV-TR and Should Not Become One in DSM-5" (Ebefilia não é uma doença mental no DSM-IV-TR e não deveria se tornar uma no DSM-5), Allen Frances e Michael B. First, Journal of the American Academy of Psychiatry and the Law, nº 39, fevereiro de 2011, http://jaapl.org/content/39/1/78.
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