Amigos, se eu ainda não disse, digo agora: o nosso problema não é salvar o país, é nos salvarmos dele.
Talvez o leitor conheça a lenda de Narciso. Ele era um jovem muito bonito e um dia ele passou à beira de um lago, viu seu reflexo na água e se apaixonou por ele mesmo. O Brasil de hoje se parece com Narciso, só que o Brasil não é bonito: é feio, tosco, inculto, insensato e mentalmente doente.
Em 2013, o Brasil era a única das oito maiores economias do mundo a não ter uma universidade entre as 120 maiores. Até a Rússia que foi destruída cientificamente no caso Lysenko tem uma universidade, a Universidade Estatal Lomonosov de Moscou, que passa por pouco a nossa melhor, a USP (posição 120 com 63,9 pontos contra posição 127 com 63). Mas o "ensino superior" brasileiro está preocupado com falta de negros de escola pública (o Brasil está dando pouco diplomas para subalfabetizados), falta de mulheres na Ciência da Computação (mais exatamente, lésbicas que não conseguem escrever sobre nada maior que a viagem para o exterior sem asneiras ou contradições), questões sociais como a homofobia que mata 300 gays por ano em um país de mais de 200 milhões de habitantes. Ah, e alguns universitários participam de movimentos como Tarifa Zero jurando que o ônibus pode ser gratuito financiado pelo governo, mesmo que o guri esteja fazendo Pedagogia porque tem horror a fórmulas matemáticas.
Nossas mulheres são feias, de corpo esquisito e a maioria fala grosso. E também têm pavor de rola, principalmente de homens honestos amáveis pobres. Mas o narciso brasileiro acha que as nossas mulheres são as mais lindas e sensuais do mundo.
Ainda falando em mulher, a distinta é feia, gorda, corpo quadrado, ganha mal, mora mal, mas toda vez em que está no ônibus reclamando do trabalho com a amiga também conta como foi corajosa no subemprego ou no bairro horroroso onde mora.
E o Facebook também tem muitos brasileiros que não ligam para a opinião dos outros mas publicam fotos tiradas no espelho uma mais tosca que a outra (algumas só visíveis para amigos). Eles também são águias e "águias não caçam moscas", mas não saem do emprego horrível e mal pago nem do namoro decadente.
O caso do professor, filósofo e ensaísta Olavo de Carvalho é só um caso mais flagrante, até farsesco: os admiradores o conhecem pelo que ele diz ou escreve, sabem em que jornal ele tem ou já teve coluna, assistem os vídeos originais; os "desconstrutores", na falta de argumentos se sequer leram algo do autor, o conhecem por fofoca de machorra de favela, fragmentos sem fonte que eles repetem uns dos outros e a profissão que ele abandonou há décadas. Mas os que odeiam Olavo pelo que ele escreve podem dizer, por exemplo, que "ele assassinou a lógica e a razão em seus livros" depois de dizer "não gastarei 1 centavo pra ler algo do babaca do Olavo". Pode ser alguém que descobriu um texto do autor e resolveu nunca mais ler outro, pode ser alguém que sabe mal do que está falando e resolveu nunca saber bem. No primeiro caso, o narciso brasileiro faz voto de proteger o orgulho; no segundo, de proteger a idiotice.
Será que o Narciso original nunca encontrou uma mocinha bonita? Esse negócio de um rapaz se apaixonar por ele mesmo é meio gay, não acham? Hehehehe! Mas o Narciso brasileiro vai se apaixonando por si próprio.
Aqueles trechos antiolavistas foram de um babaquinha na página da Ana Caroline Campagnolo Bellei, justamente comentando uma foto dela com um livro O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota. Ele fala de um escritor sem ler o que ele escreveu, ruminando conversa fiada de vlogueiro fracassado (um vídeo ou uma postagem falando mal de Olavo de Carvalho é o único que tem um número de acessos razoável de vários canais do Youtube e vários blogues) e diz tudo isso para alguém que leu o que o escritor escreveu. Aliás, quando um graduando brasileiro medíocre diz uma bobagem na própria área e alguém lhe passa vergonha, ele diz que faz ou fez o curso tal, ou que aquilo foi dito por Fulano, que é isso e aquilo, faz e acontece.
Neste mês, nós temos eleições presidenciais em que a atual presidente é candidata à reeleição. O melhor do governo PT, dela e de Lula, foi aproveitar uma boa situação externa que já passou e continuar todo o trabalho bom do governo Fernando Henrique Cardoso. Mas a macacada lulopetista ainda diz que o Brasil é a sétima economia do mundo por causa do PT (foi o governo militar que entregou a oitava economia do mundo no colo de José Sarney), que o PT criou o Bolsa Família (Lula só juntou benefícios sociais criados no governo Fernando Henrique Cardoso) e por aí vai. Quando veio a recessão técnica (dois trimestres seguidos de crescimento negativo), a quantidade vergonhosa de criação de empregos, a "presidenta" trouxe a explicação: o mundo vai ainda pior. Os mais velhos podem confirmar: na última vez que se dizia que o mundo ia mal e o Brasil ia bem era na "ditadura" militar, né? Aqui vemos a única hora em que o Narciso Brasileiro olha fora do lago: quando vê um pouco de feiúra, ainda assim para achar ainda mais feiúra fora de si mesmo.
Ainda nas eleições, matéria do blogue Jornalismo Político: a Militância em Ambientes Virtuais (MAV) está usando perfis falsos se passando como racistas e eleitores de Aécio Neves. A ideia é associar quem é contra o PT ao racismo. Já circula o boato de que Aécio Neves agride mulheres. Então, ser contra a esquerda é agredir mulheres (agredir mulher é feio, de agressão de mulher contra homem a gente pode até rir). Mas quem acredita que ser contra o socialismo equivale a ser racista, misógino, homofóbico, antipobre? Os próprios esquerdistas, mais ninguém. Se eles não querem só repetir as próprias sandices uns para os outros e ouvi-las uns dos outros, eles perderam o contato com o mundo não-esquerdista e a noção de como conversar com gente razoavelmente inteligente. Em outros anos, o Centro de Mídia Independente publicou um texto racista que dizia ser de Olavo de Carvalho e um falso blogue do Silvio Koerich pregava o racismo, o estupro, a pedofilia e outros crimes. Associar o antiesquerdismo ao racismo ainda é "aceitável", mas dizer que quem é contra o Feminismo odeia nordestinos? É pueril!
Ah, achei por acaso: o Centro de Mídia Independente publicou um "Dossier - Processos - Olavo de Carvalho" no dia 02/08/2014, um destes processos foi o do Quartim de Moraes, que foi EXTINTO. Não faz muito tempo, nem a própria extrema-esquerda ligava o que alguém dizia ou escrevia a processos judiciais que não têm nada a ver com o assunto.
O narciso brasileiro, incapaz de conviver com a crítica e com a denúncia da sua miséria interior, difama e calunia a crítica e o crítico tentando tornar o crítico ainda mais feio e insano que ele mesmo. Quando estas caricaturas chegam a uma pessoa com alguma integridade mental, podem levar à curiosidade, da curiosidade à pesquisa, da pesquisa à desmistificação. E da desmistificação, pode levar pelo menos ao respeito. Quem não tem essa integridade mental também é um narciso brasileiro. Os leitores e amigos de mais tempo já viram que eu cito e compartilho muito da Real e de cristãos conservadores, além de ter a maioria dos amigos do Facebook de realistas e cristãos tradicionais direitistas. E eu sou ateia, anarquista, contra a família, contra o casamento tradicional e opositora à castidade. Mas eu descobri essa turma quando eu descobri as feministas e os antifeministas. Aí, eu descobri, entre outras coisas, que os "misóginos" conhecem mais mulheres decentes do que as lesbofeministas conhecem homens não-agressores; e que os rapazes másculos da Real curtem mais rola do que as feministas.
Ah, já ia me esquecendo: correm entre os perfis dos evangélicos em redes sociais frases como "antes de me julgar, percorra o caminho que eu passei". O povo evangélico já foi conhecido como gente honrada. Mas estas pessoas que dizem que não devemos julgar porque todo mundo erra perderam a capacidade moral e mental de imaginar alguém que não seja hipócrita e filho da puta. Além de serem as que julgam mais e pior.
E Narciso, depois de se ver refletido no lago e se apaixonar, cai no lago, morre afogado e se transforma em um narciso (a flor, Narcissus sp.). O Brasil está caminhando para isso: se destruir na paixão pela própria baixeza.
Apêndice
CAMPANHA SUJA: Perfis falsos atacam negros e pobres e fingem ser eleitores de Aécio
07/10/2014 - Política
Estratégia de campanha da presidente Dilma, nas redes sociais, é investir na batalha de pobres x ricos nesse segundo turno.
A eleição do primeiro turno nem tinha sido finalizada e a campanha suja pelo segundo turno já estava a todo vapor. Perfis racistas, usados no Facebook e no Twitter, atacavam negros e pobres e fingiam ser de tucanos para denigrir a imagem dos eleitores de Aécio Neves, candidato do PSDB que concorre ao segundo turno com a presidente Dilma Rousseff.
A petista foi majoritariamente votada entre eleitores pobres, beneficiários de programas sociais, moradores das regiões Norte, Nordeste ou dos cinturões pobres dos grandes colégios eleitorais. E umas das estratégias da campanha, já explicitada do marketing dilmistas nas redes sociais, é investir na batalha de pobres X ricos nesse segundo turno.
Um dos perfis, que já está sendo analisado pela equipe jurídica e de internet da campanha de Aécio Neves, é de Alexandra Santos. Num dos posts o perfil diz: “É isso aí, pobres e negros que votem no PT, agora com Marina fora do jogo não necessitamos de votos dos miseráveis, queremos votos de pessoas de qualidade. Negros e favelados que se…”. Estranhamente, há alguns meses, Alessandra era apoiadora ferrenha de Dilma Rousseff.
(Jornalismo Político, 07/10/2014, http://jornalismopolitico.org/campanha-suja-perfis-falsos-atacam-negros-e-pobres-e-fingem-ser-eleitores-de-aecio)
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