Viúvos, solteiros ou divorciados, homens que assumem a paternidade por inteiro e dão conta de exercer dois papéis
Daniela Garcia - Do Hoje em Dia - 14/08/2011 - 10:47
Eugenio Moraes
Antes mesmo da morte da mulher, Vladmir já era um pai presente
Na ausência de uma mãe, pai de todos os tipos – solteiros, viúvos e divorciados – estão mostrando que dão conta de exercer os dois papéis na hora de cuidar dos filhos.
O gerente Vladmir Stein, de 51 anos, é um exemplo. Viúvo há dez anos, ele não voltou a se casar e enfrentou o desafio de cuidar de três mulheres, na época com 6, 9 e 11 anos. “Comprei a batalha”, recorda.
Antes mesmo da morte da mulher Iraly, vítima de um câncer de mama, Vladmir já era um pai presente. Ele conta, orgulhoso, que faltou apenas a uma sessão de pré-natal da mulher, em cinco gestações. “Eu sempre fui louco para ser pai”.
A vontade de Vladmir de participar de todos os momentos da vida das filhas rendeu momentos cômicos, segundo a mais velha, Luna, de 22 anos. “Antes de eu ficar menstruada, ele já fazia um estoque de absorventes lá em casa”. Depois da ocasião, até em aulas de educação sexual Luna foi obrigada a participar juntamente com o pai.
Homens assim são raridade no Brasil, na avaliação do professor de Psicologia da PUC Minas, Éser Pacheco. “Estudos demonstram que 90% dos chefes das famílias monoparentais são mulheres”, afirma. Diante desses dados, ele constata que a sociedade moderna está carente da função paterna.
Um pai tratar de assuntos femininos com as filhas, como Vladmir fez, é uma das “maravilhas” da família moderna, na avaliação de Éser. A presença feminina, no caso da família Stein, foi exercida pela doméstica Ana, que há 21 anos trabalha na casa. Vladmir diz que no Dia das Mães, por exemplo, as filhas passam com ela.
O segredo para se sair bem na criação dos filhos, segundo Éser, é não buscar suprir todas as vontades deles. “Para o filho ser feliz, não precisa dar tudo a ele. Essa ansiedade excessiva pode até prejudicar o relacionamento”.
Apesar de Luna, Joana e Júlia já terem crescido, a superproteção persiste. A corujice do pai não para por aí: ele sempre envia mensagens pelo celular às filhas declarando o seu amor.
Amor dedicado a um filho escolhido
Depois de muita luta, a professora de Lucas*, de 6 anos, o convenceu a dar o cartão de Dia das Mães para a avó, em vez do pai dele, André Cabral, de 45 anos. “Ele disse que eu era mãe e pai ao mesmo tempo. Que era eu quem tinha trocado as fraldas dele”, conta, orgulhoso, o professor universitário.
Há dois anos André se tornou pai adotivo de Lucas. Solteiro, ele cuida do pequeno com a ajuda de uma babá. Pela manhã, é o professor quem acorda o filho e o leva para a escola, onde Lucas ainda não pode assinar o sobrenome do pai. A sentença de adoção está prevista para sair em setembro. Durante a tarde, como ele trabalha, a criança fica com a babá. Mas, quando chega à noite, o professor a ajuda a fazer o dever de casa e assistem juntos a desenho animado. Antes de dormir, Lucas vai até o quarto do pai, pede a bênção e se despede com um abraço bem apertado. “Eu gosto muito do papai”, disse o menino na última quinta-feira, ansioso pela ligação de André, que viajava a trabalho. “Não sei a hora, mas ele vai ligar”, afirmou. (*Nome fictício)
Há dois anos André se tornou pai adotivo de Lucas (Toninho Almada)
Companheiro de compras no shopping
A maioria dos homens tem aversão a shoppings. Mas Lindomar de Souza, de 37 anos, não tem como escapar do programa. Desde que os filhos foram morar com ele, o professor universitário faz visitas frequentes a lojas para renovar o guarda-roupa de Stela, de 16 anos, e Rodrigo, de 13. “Eles escolhem o que querem”. E justifica a didática paterna: “Eu prezo muito pela independência deles”. Há quatro anos, os adolescentes vivem com o pai divorciado. A mudança da casa da mãe foi escolha de Stela e Rodrigo. Apesar da “correria” para dar conta da casa, de dois empregos, da namorada e dos filhos, Lindomar diz que não abre mão de participar integralmente da vida dos adolescentes. “É cansativo, mas é muito bom poder acompanhar o dia a dia deles”. Ele não reclama nem de momentos, por vezes, constrangedores. Leva Stela ao ginecologista e chega a pesquisar sobre a saúde da mulher na Internet. Se é preciso ser rigoroso, não se esquiva. “Se não estão estudando, tiro computador, videogame”.
Desde que os filhos foram morar com ele, o professor faz visitas frequentes a lojas (Renato Cobucci)
Superproteção e união familiar
O empresário Altino Benedito Duarte, de 56 anos, o “Tininho”, é mais do que um pai superprotetor para Ludmila, de 24, e Guilherme, de 18. “Ele é uma verdadeira mãe coruja”, afirma a mais velha. Segundo ela, o pai liga para o celular do caçula inúmeras vezes ao dia. “Ele liga para o Guilherme para saber se já almoçou ou para, simplesmente, perguntar se está tudo bem”, relata. O carinho do pai é tanto que ele não se cansa de declarar amor aos filhos. “Eu me orgulho muito de ser pai dos dois”.
Ludmila conta que o pai sempre foi um homem amoroso. “Mas, com a morte da minha mãe, ele se tornou muito mais”, afirma. Casado por 22 anos com Helenice, Tininho admite não ter sido fácil perder a mulher, assassinada durante um assalto em 2005. “Tem que ter muita força para não se entregar”, afirma.
A solução foi unir ainda mais a família. Ele sempre procura juntar os amigos e parentes na fazenda, na cidade de Cláudio, na Região Centro-Oeste de Minas. E toda noite os três se reúnem na cama do pai para assistir televisão juntos, como revela a filha. “A gente fica conversando até tarde. Só vou para o meu quarto quando já estou pingando de sono”, diz Ludmila.
O empresário Altino Benedito Duarte é mais do que um pai superprotetor (Eugenio Moraes)
Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 14/08/2011, http://www.hojeemdia.com.br/minas/na-ausencia-de-uma-m-e-pai-para-todas-as-horas-1.325823
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Abigail Pereira Aranha no VK: vk.com/abigail.pereira.aranha
E-mail: saindodalinha2@gmail.com