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domingo, 7 de maio de 2017

Professora universitária feminista atira à direita e à esquerda e mata aliados com tiro pela culatra

O machoesquerdista e o feministo pós-esquerda, Liana Cirne Lins, feminista professora da Faculdade de Direito do Recife da UFPE, Mídia Ninja

O machoesquerdista e o feministo pós-esquerda

por Liana Cirne Lins

Ativista e jurista, é professora da Faculdade de Direito do Recife da UFPE. É feminista e foi advogada e militante do movimento Ocupe Estelita.

02/05/2017 04:07

Frame do programa Amor e Sexo sobre feminismos.

Frame do programa Amor e Sexo sobre feminismos.

Quando nós feministas achávamos que um dos piores tipos com quem teríamos que lidar seriam os machesquerdistas, surge o feministo pós-esquerdista para nos mostrar que o fundo do poço é um conceito relativo.

Machoesquerdista é o homem que não abre mão de seu privilégio de gênero, além de costumeiramente se recusar a admitir seus privilégios. Normalmente, ele se afirma apoiador da luta das mulheres e não se priva da oportunidade de contar causos em que ele agiu heroicamente em defesa de alguma mulher.

Porém, recusa a importância política da ideia de lugar de fala, não faz a necessária reflexão autocrítica quando é acusado de machismo, acha que o lugar de fala implica cerceamento do seu direito de expressão (normalmente ele não é liberal, mas nesse ponto em especial ele faz questão de ser), que ele pode livremente protagonizar a luta ou o pensamento feminista [sic], não enxerga a si mesmo como opressor e, por último mas não menos importante, acusa as feministas de serem esquerda sectária e de promoverem a desagregação da luta de classes. Ele pode até falar sobre feminismo. Mas ele não ouve. E fica incomodado quando alguma feminista quer apontar seu privilégios de homem branco (dentre os quais está o de sempre poder falar e ser ouvido, sem ouvir).

Esse tipo de esquerdista não aprendeu nada sobre a luta feminista e sobre as pautas identitárias em geral.

Ele participa da luta política e discute todos os assuntos, inclusive feminismo, sem dividir equanimemente o trabalho doméstico, explorando o trabalho da companheira, da ex-companheira ou da mãe, vendo o filho a cada 15 dias quando divorciado, dando em cima das mulheres de forma inconveniente sem vislumbrar o assédio, se apropriando de ideias das colegas mulheres como se fossem suas, reforçando estereótipos de gênero machistas toda vez que seus interesses divergem ou confrontam com uma mulher e usando esses estereótipos para desqualificar as críticas que uma mulher lhe dirige. E tudo isso sem achar que essas práticas machistas estejam diretamente ligadas à sua militância política, tornando-a vazia, incoerente e hipócrita.

Na visão rasa do machoesquerdista, luta de classes e feminismo são assuntos distintos e que não se comunicam.

Como se a exploração do trabalho doméstico e de educação dos filhos não criasse um aspecto peculiar na exploração do trabalho remunerado da mulher, colocando-a em brutal condição de desigualdade, desigualdade essa da qual ele se aproveita para alçar melhores postos de trabalho e maior produtividade, pela maior disponibilidade de tempo para estudar e trabalhar, tempo esse roubado das mulheres que ele explora.

E então surge o outro tipo:

O feministo pós-esquerda. Esse cara leu Judith Butler e Angela Davis. Ele entende das pautas identitárias. Respeita lugar de fala. Além disso, é extremamente sensível à questão indígena e ambiental.

Mas não transversaliza nenhuma dessas pautas com a luta de classes ou com a luta anti-capitalista. Ele acha que a narrativa da luta de classes esgotou há muito seu paradigma. Não se identifica e não acredita na esquerda. Ele é pós-esquerdista. Está à procura de um discurso político que o seduza e contemple as opressões que ele visualiza e às quais é sensível.

É como se fossem necessários alguns ajustes no sistema, mas o sistema em si fosse defensável. Como se o sistema capitalista não fosse o epicentro de todas essas explorações e violências, identitárias e de classe.

O feministo pós-esquerdista é a semente de uma nova direita.

Uma direita politicamente correta, que não aplaude e nem dialoga com o discurso fascista, machista, homofóbico, transfóbico e racista. Mas tampouco aplaude ou dialoga com a luta sindical, a luta pela taxação da riqueza e pelo financiamento de direitos sociais e serviços públicos, a luta por mais direitos trabalhistas. Não enxerga que é nas precárias condições de trabalho marcadas por vulnerabilidades jurídicas e pela opressão econômica e também pela falta de acesso e pela precariedade dos serviços estatais de saúde, de educação e tantos outros que o machismo e o racismo encontram terreno fértil para sua reprodução e perpetuação.

Embora esses dois tipos pareçam antagônicos e inconciliáveis, a verdade é que eles são os dois lados da mesma moeda de manutenção do sistema.

Se dependermos de um, continuaremos nos sindicatos servindo cafezinho aos homens sindicalistas, cis e héteros, titulares de toda a voz. Se dependermos do outro, poderemos sempre discutir o machismo, a desigualdade de gênero, a desigualdade racial e denunciar privilégios de gênero e os privilégios de cor, desde que isso não implique denunciar a exploração do sistema capitalista.

Para os dois, o movimento feminista e as pautas identitárias não se relacionam diretamente com a organização da luta de classes. E é exatamente nisso que estão enganados.

Tão enganados que em todo o Brasil estamos assistindo ao protagonismo dos movimentos feministas e outros movimentos identitários na organização da resistência ao golpe, da resistência às reformas trabalhistas e previdenciária e na defesa dos direitos de liberdade e sociais.

Aliás, o que vimos na sexta-feira, dia 28 de abril, foi uma greve geral extremamente bem sucedida porque soube articular com êxito a organização sindical e partidária, de um lado, com movimentos sociais heterogêneos e a própria sociedade civil desorganizada.

Grupos historicamente silenciados e oprimidos estão ditando as pautas da resistência de esquerda. Uma nova esquerda está sendo construída, sim. Mas não uma pós-esquerda, que rejeita ícones tradicionais do esquerdismo, como a luta sindical e as bandeiras vermelhas.

Essa nova esquerda está entendendo que o movimento feminista, incluídos especialmente o feminismo negro e o transfeminismo, muito ao contrário de promover a segregação da esquerda ou de negar a esquerda, promove a complexidade da luta de classes, articulando-a com a luta contra outras formas de opressão, que foram por tanto tempo toleradas e silenciadas.

"O machoesquerdista e o feministo pós-esquerda", Mídia Ninja, 02 de maio de 2017, http://midianinja.org/lianacirne/o-machoesquerdista-e-o-feministo-pos-esquerda.

Comentários no original

Túlio Rossi · professor na UFF - Universidade Federal Fluminense

Desculpe perguntar: é possivel ser homem, apoiar o feminismo, a transformação do sistema e não ser considerado um inimigo do movimento? Cada dia que passa vejo mais textos feministas (re)criando e refinando mais críticas a eventuais aliados potenciais (mas com penis) do que atacando o sistema, os fascistas declarados derivados de Bolsonaro e afins. Já concordei que um homem não pode se declarar feminista (em respeito aos grupos dentro do movimento que acreditam nisso) e nem devem brigar com a militância feminista pra falar de gênero. Mas começo a ver gente no movimento que já reage negativamente ao homem que se declara apoia-lo. Desculpem mas fico cada vez mais surpreso com como surgem cada vez mais categorias de aliados homens potenciais a serem execrados e combatidos, enquanto parece estar "tudo bem, tudo normal" com todos aqueles que nunca gastaram um milésimo de segundo de sua vida tentando revisar suas posturas e, eventualmente "desconstrui-las"

02 de maio de 2017 às 16:29

Adriane Barroso · bolsista de pós-doutorado na Hope & Healing Center & Institute

Saí do texto com um mal-estar, e o que o Túlio escreveu esclareceu o que eu senti. Depois desse tanto de definição do que o feminismo NÃO PODE SER, sobra algum espaço para quem quer se aproximar? Sempre me declarei feminista, sempre entendi isso de uma forma muito natural, sempre estudei o assunto e nunca me senti tão ignorante como agora. Esse monte de rótulo desconstroi o que eu entendo, não só porque segrega, mas também porque ameaça - será que estou adequada para ser "aceita" como feminista? Será que ser feminista como eu pode? Será que me enquadro em algum dos mil nomes que essa vertente do feminismo não aceita como feminismo? Será que sou bem vinda? Será que isso aqui que eu tenho a dizer vai ser rechaçado como algo impertinente, como "isso não é feminismo, bobinha"? Acho que a questão do Túlio é excelente, e não é exclusiva dos homens. Não esqueçamos da igualdade, da não segregação. Especialmente nos dias de hoje.

02 de maio de 2017 às 18:57

Raphael Tsavkko Garcia · blogueiro no The Huffington Post Brasil

Homem de esquerda = esquerdomacho

homem de pós-esquerda (seja lá o que for isso) = nova direita = machista ("direitomacho", Feministo)?

Apoia feminismo? Tá errado, quer biscoito. Não apoia? Tá errado, tem que apoiar (volta pra opção anterior).

O homem opinou? Tá errado. Tem que calar a boca. Discordou? Machista. Explicou porque discordou? Mansplaining. Mandou à merda diante de tanta besteira? Aí chama o ~coletivo~ pra um linchamento virtual.

Enfim, o problema é ser homem. Tá errado ao nascer. Construção social não vale pra homem que é biologicamente programado pra ser um opressor horroroso. E pra apoiar o ~GOLPE~.

Pega-se uma obviedade: Machismo existe. Outra verdade: Muitos homens são machistas. Esconde-se uma importante: Tem MUITA mulher machista. E no fim o resultado é "todo homem é machista e não presta". Sim, é o ponto central do texto. Lembrando, pior se não for de esquerda, porque o cara hipotético do texto apoia tudo, assina a cartilha, mas... não tá nessa de ~luta de classes~, aí deve ser um opressor que escraviza mulheres.

Não deu nem pra rir do texto, pena.

Mentira, quando apareceu o tal GOLPE eu dei uma gargalhada meio nervosa.

02 de maio de 2017 às 21:30

Liana Cirne Lins · colunista na Mídia Ninja

"Enfim, o problema é ser homem".

Não, Raphael.

Definitivamente ser homem não é o problema.

O problema é ser machista, reforçando uma cultura patriarcal de sistemática violentação das mulheres.

E outro problema é negar o problema.

03 de maio de 2017 às 21:39

Raphael Tsavkko Garcia · blogueiro no The Huffington Post Brasil

Liana Cirne Lins Segundo seus argumentos o problema é ser homem, sinto muito. E note, não nego problema algum, machismo faz parte da sociedade, homens E MULHERES são machistas em uma quantidade absurda de casos - e não estou me excluindo. Agora, segundo sua linha de argumentação não tem o que fazer - e se o terrível homem não for de esquerda (ou seja, não concordar com teses como luta de classes) então ele é machista e ponto e não tem o que fazer (além, de, suponho, "se converter" ao marxismo).

Vocês pós-modernas precisam se decidir se vocês querem o apoio de homens ou não, se querem contribuir com um debate sério ou só ficar apontando dedo. Mais diálogo e compreensão e menos dedo na cara de todo mundo, quem sai de salto alto pra disputas acaba caindo.

04 de maio de 2017 às 07:48

Fabio Yukio

Liana, tudo bom? Seu texto é realmente bom, além de ser extremamente contemporâneo, tanto que não imaginei que fosse me encontrar como o foco da crítica. Pois é, fiquei supercurioso pra saber o que seria esse "feministo pós-esquerda", vc começou falando sobre o já famoso machoesquerdista e a absurda incoerência do discurso político e as atitudes do dia-a-dia e sempre tive exatamente o mesmo ponto de vista que vc. Mas quando vc começou a discorrer sobre esse feministo foi como, até certo ponto, vc me descrevesse. E achei importante escrever por isso, pq basicamente existem 2 tipos de leitores homens aqui, ou alguns que são realmente militantes de esquerda e tentam se policiar ao máximo para não causar mal estar em nenhuma feminista, e os que já chegam de maneira ofensiva usando os velhos clichês de sempre. E dificilmente alguém vem assumir que é o "foco" da crítica, afinal o inferno são os outros. Mas achei seu texto tão intrigante que não pude me conter, e ainda estou pensando pq pessoas como eu representam que o fundo do poço ainda não cegou ao fim. Até fiquei triste nessa parte. Vamos aos fatos: Eu sou uma pessoa que teve acesso a todo tipo de informação, então todo meu posicionamento foi fruto de uma profunda reflexão. Nunca fui militante de esquerda, embora pelo menos 60% dos meus maiores amigos ou são militantes, ou tem um grande engajamento, os outro 40% são o que vcs chamam de coxinha. E meu posicionamento sempre foi de centro-esquerda, sou muito do que vc descreveu, tenho cultura, sou sensível a causas sociais e ambientais, respeito absurdamente o local de fala etc... Porém eu não participo da luta de classes ou sou contra o capitalismo, na verdade eu participo de sua manutenção (sinceridade a gente vê por aqui). Claro que acredito na preservação do mesmo, mas de uma forma mais humana (feminista) e evoluída, porém capitalista. Não vou debater sobre isso, pq além de ser muito longo sei que nossas opiniões iriam divergir. Mas me chamou a atenção que vc disse que pessoas como eu representariam a nova direita, nunca pensei por esse lado, mas vamos supor que vc esteja certa. Sempre tento fazer as coisas da forma mais ética possível, respeito e defendo todas as minorias, sempre fui um pró-feminista atuante e principalmente nunca cometi a incoerência do "machoesquerdista", pois meu posicionamento politico sempre foi mais ao centro do que esquerdista. Será que por isso eu sou uma pessoa ruim? E se como vc disse, se precisamos coexistir como poderíamos fazer isso de uma forma agradável e principalmente amigável? Como pessoas como eu podem ajudar a sua causa? Pq de verdade, adoro seu trabalho e acho incrível sua sensibilidade. Será que pessoas como eu e vc não podem mais ter suas diferenças e serem grandes amigas?

03 de maio de 2017 às 01:32

Liana Cirne Lins · colunista na Mídia Ninja

Fabio, deixei meu like aqui para te responder depois.

Gostei do teu comentário supersincero.

03 de maio de 2017 às 21:44

Lara Longo Franco

Fábio. Tbm adorei seu comentário, não só porque sincero, mas também por tenho uma opinião parecida com a sua e, lendo o que vc escreveu pude verificar que meus sentimentos e ideia surgiram em alguém mais e talvez possam fazer sentido :)

04 de maio de 2017 às 09:40

Lara Longo Franco

Liana Cirne Lins, gostaria muito de saber sua resposta para o Fabio. Vc poderia me marcar nela tbm?

04 de maio de 2017 às 09:41

TB Alexandre Zamboni Tebechrani · Escola de Educação Física e Esporte - USP

Bom dia. Acho que o espectro progressista da sociedade deveria buscar união absoluta em torno de pautas universais: direitos humanos, justiça social e igualdade. O que vejo na quase totalidade dos movimentos "ativistas" é o contrário disso. Incluo aí movimentos das causas lgbt, negra, feminista, etc. Vejo um movimento de "se fechar em si mesmo", pregar para convertidos, classificar todos que não se encaixam no "perfil" como inimigos do movimento. Vejo uma constante desqualificação dos "outros". Ao invés da busca por pautas comuns, interesses comuns, por identificar os (verdadeiros) inimigos comuns, vejo guerras fratricidas pela supremacia da "minha" verdade. O resultado é o que está aí: a direita fascista deitando e rolando, destruindo e saqueando o país, esmigalhando os poucos direitos sociais já conquistados, massacrando (inclusive FISICAMENTE) quem querem, como querem e onde querem, enquanto a esquerda se mata para saber se fulana pode ou não usar turbante. Se o texto de sicrana (indubitavelmente uma "pessoa de bem") foi racista e, se foi, se ela deve ser linchada ou não. Se mulheres trans podem ou não ser parte do movimento feminista (??!!), e assim por diante. Estamos bem...

04 de maio de 2017 às 09:19

O meu comentário no original

Abigail Pereira Aranha · Líder da Liga de Promoção do Ateísmo e da Prostituição de Meca

Se o feministo pós-esquerdista é a semente da nova direita, o LGBT-Feminismo é o adubo. Atirou pra frente, pra trás, pra esquerda, pra direita, e atirou na vertical pra cima. Ah, e da próxima vez, aproveite pra contar que as mulheres são recebidas no Movimento de Direitos Humanos dos Homens muito melhor do que você e as suas amigas receberam os seus capachos aqui. Mais delicioso que o texto foi a seção de comentários. O texto mostra que feministo tem que se f$%@£. Os comentários mostram que alguns podem se salvar. Obrigada, lésbica imbecil. Lesbianismo é sociopatia que vira burrice, é questão de Psiquiatria Forense. Um abraço hétero.

06 de maio de 2017 às 16:52

Apêndice

"Neo-Lombrosianos: Como Justiceiros Sociais prejudicam a esquerda e suas próprias pautas", Raphael Tsavkko Garcia, Medium, 04 de maio de 2017. Disponível em https://medium.com/@tsavkko/neo-lombrosianos-como-justiceiros-sociais-prejudicam-a-esquerda-e-suas-pr%C3%B3prias-pautas-52e6eed80deb.

Neo-Lombrosianos: Como Justiceiros Sociais prejudicam a esquerda e suas próprias pautas

Raphael Tsavkko Garcia

Jornalista, doutorando em Direitos Humanos (Universidad de Deusto). Mestre em Comunicação e graduado em Relações Internacionais. www.tsavkko.com.br

04/05/2017

Notável a carga neo-Lombrosiana de certas ativistas SJW’s (Social Justice Warriors, ou justiceiros sociais) pra quem se você não é da cor/raça "certa" você está errado/a.

Reparo que há um racha no petismo muito forte surgindo (Justiceiros sociais, no Brasil, são invariavelmente petistas), é briga com a Elika (com direito a ameaças e intimidação), com a Cynara (ela contra a Stephanie Absoluta e a Djamila)… O fanatismo identitário tem superado o partidário, difícil saber o que sairá disso. Como já escrevi, há uma ligação carnal entre justiceiro(a)s sociais e petismo, mas podemos estar diante de um momento de inflexão

Saiu artigo recente de uma professora da UFPE na Mídia Ninja que vai pelo mesmo caminho, o homem é machista, o homem de esquerda é machista, o de direita é mais ainda, porque não ser de esquerda já é, em si, ser machista. Não tem como ou pra onde escapar. Ser da cor, do gênero "errado" é suficiente pra ser preconceituoso. E não tem como escapar.

Não se trata aqui de não reconhecer o machismo na sociedade e sim de criticar o que parece ser biologicamente determinado. Construção social é só pras "manas".

Ao invés de combater esse fanatismo nos calamos, acovardamos ou nos submetemos. Essa semana teve um rolo nos EUA contra uma professor assistente de filosofia que escreveu um texto provocativo sobre transracialismo e foi atacada até pela revista em que ela publicou? Estamos perdendo a batalha até na academia pro fanatismo identitário.

Pra mim o resumo disso tudo está numa das frases mais sublimes da Dilma:

"Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder."

Vai todo mundo perder — e estamos perdendo. Inclusive estamos involuindo pra quinta série:

"Você é feia".

"Eu tenho contrato com editora".

"Você é burra".

E esse comentário do Erick Felinto resume:

Rafucko elabora uma instalação crítica da exclusão social no Brasil e é acusado de racista. Elika Takimoto, mesmo sendo radicalmente de esquerda, faz um texto, talvez infeliz, mas bem intencionado, e recebe a mesma pecha — inclusive com ameaças físicas. Freixo termina um namoro e é acusado de machista nas redes sociais. Os guardiões supremos da correção e da ética na internet estão conseguindo aquilo que a direita não conseguia: silenciar as vozes liberais e de esquerda. É como escreveu um conhecido: se você apoia uma minoria, sem ser dessa minoria, é porque quer biscoito. Se não apoia é porque reforça as estruturas hierárquicas do poder societário. Em suma, entre se manifestar, arriscando-se à acusação de "roubo de protagonismo" e permanecer calado, parece que hoje a segunda opção é a mais sensata. E assim segue o ativismo de internet, alienando todos aqueles que poderiam contribuir para suas causas e trabalhando por uma sociedade cada vez mais fraturada…

Admito ter achado engraçado do povo comentando que essa era "The Treta to End All Tretas", "The mother of all tretas" e tal, é divertido mas… Esconde um problema fundamental que está corroendo a esquerda e dando mais e mais espaço pra direita crescer.

Eu já alertei recentemente que não existe vácuo na política, tirem suas conclusões.

E como concluiu um amigo: "Concluo que a crise no Brasil não é apenas política, social e econômica, é também intelectual."

Um comentário:

  1. Deu uma dó do Túlio Rossi - professor na UFF - Universidade Federal Fluminense.
    Tadinho.

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Abigail Pereira Aranha no VK: vk.com/abigail.pereira.aranha
E-mail: saindodalinha2@gmail.com

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