01) A idolatria sempre está associada à ignorância ou à confusão mental, e acontece quando o ídolo deixa de ser associável ao que deveria representar, ou, como aconteceu com a serpente de metal que Moisés fez por ordem de Deus (2Rs 18:4), quando o ídolo foi feito para representar uma coisa e se torna outra. A valorização da família ou o respeito aos idosos são idolatrias nesses sentidos. A própria aleatoriedade dos laços de família faz que seja mais provável a família perpetuar a estupidez, a mediocridade ou a imoralidade do que combatê-las. E acreditar que os velhos são a encarnação da sabedoria é negar a experiência. E o pior é que você sabe que eu estou dizendo a verdade.
02) É impossível exaltar a família sem a glorificação da estupidez. Quando um louvador da família tenta explicar como percebeu que os pais tinham razão, o que ele mostra é como ele próprio não conseguiu superar a estupidez ou a violência moral que recebeu do ambiente familiar. Não é por acaso que o caso típico do pai, da mãe ou do avô que era um poço de sabedoria é de um notório semiletrado frustrado incapaz de encostar em alguém do seu tamanho.
03) Pregar a valorização dos pais quase sempre é impraticável sem o apelo ao passado. Toda a obrigação que a sociedade, os tradicionalistas e a própria família impõe aos filhos em relação aos pais é, geralmente, em nome de obrigações cumpridas de má vontade na infância. A condenação ao não querer ter filhos no próprio meio cristão conservador vem com o terror de não ter "amparo na velhice". Então, o amor verdadeiro de mãe está explicado, ora: na juventude, o "amparo" é o "velho"; na velhice, é o filho.
04) Fora que o cuidado dos pais aos filhos na infância é geralmente medíocre e esperando se aproveitar do sucesso deles na velhice, fora também que os pais típicos menos formam o filho para a vida do que esperam a maioridade dos filhos para se livrarem dele, a defesa da importância da família na vida do indivíduo é anacrônica. A família pode ter sido valiosa perto da pessoa no passado e mais valiosa longe dela hoje. E nem sempre querer a família longe é sinal de desprezo.
05) Uma prova do esmigalhamento moral-psicológico produzido pela família típica é quando uma pessoa consegue passar dos 40 anos agradecendo aos pais pelos castigos físicos porque por aquilo ela se tornou uma pessoa de bem. Uma moral decente é um conjunto de ações certas, não de não-ações erradas. Para começo de conversa, a pessoa não sabe diferenciar integridade moral de uma mistura de repressão sexual, complexo de inferioridade e síndrome do pânico.
06) Uma frase de G. K. Chesterton: "os que falam contra a família não sabem o que fazem, porque não sabem o que desfazem". Se Chesterton disse mesmo isso, ele próprio não sabia do que estava falando, nem quem "curtiu" a frase. Explico: o que é família, pra começar? A nação de Israel começou com filhos de um mesmo homem com quatro mulheres (Gn 29:32 a 30:24). Eu mesma já li algumas beatas chamarem de pedofilia o caso sexual de uma mulher com três adolescentes de dezesseis e dezessete anos, idade em que as trisavós delas próprias já estavam casadas. Em algumas tribos antigas da África, era normal uma criança presenciar as relações sexuais dos pais, séculos antes dos casais ocidentais que escondiam do público quando a mulher estava grávida do próprio marido. No livro "Repressão sexual, essa nossa (des)conhecida", Marilena Chauí disse que às vezes nós consideramos universal um aspecto que é da sociedade europeia recente. Ela sempre foi uma militante esquerdista medíocre disfarçada de filósofa, mas nisso ela estava certa.
07) Não é por acaso que pouquíssimas pessoas ativas têm companheiros de ativismo na própria família: a formação intelectual costuma acontecer não apenas fora do ambiente familiar, mas contra ele. Meus amigos que defendem, por exemplo, os direitos humanos dos homens e meninos no Facebook podem confirmar que a melhor receptividade que conseguem em família é o desinteresse; muitos precisam usar pseudônimos também por causa de familiares e amigos; alguns foram bloqueados por irmãos, pais ou primos. Ah, e tanto nas inquisições quanto em regimes socialistas, incluindo o nazista e o fascista, muitos dissidentes foram entregues ao governo por gente da família. Os militantes do tradicionalismo cristão têm um pouco mais de sorte. Mas a mediocridade intelectual têm grande chance de acontecer em família. Isso é só Estatística.
08) Eu já devo ter dito, mas repito: eu faço e prego mais contra a família nos meus blogues e no meu perfil no Facebook do que todos os inimigos da família da História da humanidade juntos. O casamento gay, por exemplo, se o próprio público homossexual se interessasse muito nele, seria um recurso para os homossexuais imitarem a família tradicional, não para acabar com ela; se existe o perigo, ele vem do Movimento LGBT, não da parcela homossexual da população (se você conhece pessoalmente um ou dois gays, sabe que há muita diferença).
09) Quando alguém diz algo sobre valorizar a família ou preservar o casamento, não consegue apresentar qualidades reais. No máximo, casos raros de lares agradáveis ou casamentos construtivos para ambos os lados. Se o defensor da família apresenta um comercial de margarina como caso típico de família, ou mesmo como possibilidade para ser uma família mediana, isso só prova que ele próprio teve o senso crítico danificado pela família. A louvação ao casamento no meio cristão só acabou porque a indústria do divórcio fez o casamento quase impensável e mulheres decentes para um casamento são difíceis de achar mesmo nas igrejas tradicionais. Mas a louvação à família continua.
10) Eu sabia que a mediocridade feminina teria que ser promovida na sociedade como um todo e na família em particular antes que o Feminismo prosperasse. O Lesbofeminismo é só a exaltação dessa mediocridade quando foi conveniente vir ao público. Por isso eu escrevi a crítica "A família é a base da sociedade" (versões com putaria e sem putaria) ainda em 2006, antes de escrever especificamente contra o Feminismo. Os antifeministas cristãos querem reduzir o Feminismo a uma trama de meia dúzia de ricaços financiando a comunicação de massa e algumas militantes loucas durante duas ou três gerações. Essa tese mesma depõe contra a família, porque mostraria como destruí-la é "fácil".
11) No Facebook, quase tudo que não seja banalidades pessoais que, em geral, o autor só deixa visível para amigos se divide quase totalmente entre propaganda esquerdista, babaquices misândricas, indiretas de vadias e fotos de família ou da pessoa na própria casa. Não é raridade a pessoa usar uma foto de perfil ou de capa com o cônjuge ou com um filho, ou o próprio perfil ser de um casal, não de uma pessoa. A incoerência das pessoas que dizem que as pessoas não valorizam mais a família é a mesma da lésbica sem talento que tem uma coluna em um grande jornal onde reclama da sociedade machista, ou do brasileiro militante do Movimento Negro que reclama de racismo estudando em uma universidade onde só entrou por causa da cor.
12) Quando eu escrevi este texto, o grande nome da direita brasileira Olavo de Carvalho estava bloqueado no Facebook pelos próximos 20 dias aproximadamente. O pretexto foi usar palavras menos polidas em uma ou duas postagens. O grupo criminoso que organizou o ataque é a comunidade Astrólogo Olavo de Carvalho (https://www.facebook.com/OlavoAstrologo), que está aproveitando para espalhar calúnias e provocações de bullying de colégio. O maior orgulho da comunidade, diga-se de passagem, é de ter juntado 40 analfabetos funcionais para uma denúncia falsa. A comunidade já foi denunciada, algumas denúncias com o print screen da confissão, e o Facebook dizia sempre que a página não viola os termos de uso da rede. Em outra ocasião, uma foto do mesmo Olavo em um vídeo no Youtube foi denunciada por nudez. Para reprimir que rapazes heterossexuais normais possam ver seios nus na internet ou na televisão em nome da preservação da família, os direitistas cristãos alimentaram ou pediram eles mesmos medidas repressivas que os socialistas, tanto governos quanto militantes, usam contra eles agora. Eu dei esse aviso nos meus blogues em 2010. Talvez os direitistas cristãos entendem agora.
13) A classificação indicativa que diz que, por exemplo, os filmes American Pie não são recomendáveis para menores de 16 anos foi aprovada no governo do mesmo PT que defende a liberação do aborto ou que financiou a Parada LGBT deste ano. Se as bandeiras da direita continuarem sendo a defesa do capitalismo (que não está sob ataque) e a defesa da família, o futuro da direita é preparar o próprio enterro.
14) Eu já escrevi em 2010 sobre como a mãe que encarna o amor é uma farsa para bajular as mulheres, inclusive e principalmente as vadias despreparadas. Não seria justo eu omitir os mesmos critérios para exaltar a figura paterna. Quem defende os direitos humanos dos homens não quer um feminismo invertido, quer que os mesmos padrões, para o bem e para o mal, se apliquem a todos. Então, eu devo dizer que muitos pais foram horríveis, outros ausentes, outros abandonaram as mães dos seus filhos. E a maioria dos pais foram mais ou menos tão despreparados para ter filhos quanto as mães destes filhos. Mas devo dizer que sempre existiram mais bons pais do que boas mães. Se você conhece a vida de um pai separado que visita um filho sob a guarda da mãe que vive da pensão, você deveria duvidar de que amor verdadeiro é só de mãe.
15) Quando alguém ainda vê amor em uma família que desaprova uma filha que perdeu a virgindade, é porque a idolatria à família obscureceu o conceito de ódio ou o de amor. Amor é querer o bem da pessoa amada, portanto se sentir bem com o bem dela. Ódio é querer o mal da pessoa odiada, portanto se sentir mal com o bem dela. Se o pai ama a filha, por que ele vai se indignar quando souber que ela perdeu a virgindade? Ele pode se preocupar com doenças venéreas, com gravidez indesejada, com a qualidade do rapaz que transou com ela. Isso considerando que ele não tenha falado de sexo com a filha antes por achar, por exemplo, que ainda era cedo. Mas este pai não expulsaria a filha de casa. Quando uma adolescente era expulsa de casa pelos pais por ter perdido a virgindade, era por inveja da filha por ter tido, pelo menos aparentemente, um prazer sexual que os pais não tiveram eles mesmos. Se isso não era ódio, amor também não era. Foi isso que eu pensei antes de perder a virgindade aos 14 anos. Eu contei um bom tempo depois, no meio tempo eu me mostrei meio "à vontade". Não é qualquer pai ou irmão que se sente à vontade tendo uma "puta" na família, a minha família é evangélica, só eu sou ateia. Mas temos um excelente relacionamento. São outras pessoas da minha família que não vão a um encontro familiar se eu estiver lá.
16) Como a própria Estatística implica que pessoas medíocres vão ser a composição mais provável de uma família típica, a situação mais provável é termos uma família onde a maioria dos membros não tenta ganhar o respeito dos outros, talvez nem tentem se dar ao respeito eles mesmos. Pedir a valorização da família neste caso é querer a estupidez como base da autoridade. Eu pensei nisso vendo o meu relacionamento com os meus pais e os meus irmãos, todos eles pessoas honradas. Eu ainda morava com os meus pais quando eu via aquelas pessoas como pessoas amigas, honradas e intelectualmente respeitáveis. Apenas isso me bastaria para amar e respeitar essas pessoas. Quando a primeira justificativa para você respeitar uma pessoa é o laço familiar, isso não é bom sinal. Eu já saí com o meu pai ou com algum dos meus irmãos homens e já dei demonstrações de carinho e alegria que deixaram casais envergonhados. Uma das vezes em que tive que explicar que aquele senhor ao meu lado era o meu pai, eu quase fiz a piada de que eu o amo e só faltava eu dar pra ele. Mas como anticomunista e antifeminista, eu não queria ver ninguém "vermelho" por minha causa.
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