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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Mídia machista tenta desqualificar mulheres terroristas usando a vida amorosa e o ser mulher

Abigail Pereira Aranha

Bom dia / boa tarde, meus amigos e minh@s inimig@s. Estava eu navegando em uma página feminista (Unidade Feminista PT) e vi um compartilhamento de um texto da revista Fórum. Antes da pérola, uma breve explicação para não-brasileiros.

O desembargador Flávio Marcelo de Azevedo Horta Fernandes, do Tribunal de Justiça do Rio, negou os respectivos pedidos de habeas corpus de 23 pessoas acusadas de envolvimento em atos violentos em protestos. Dezoito se encontram foragidos. Entre os presos, estão Eliza Quadros, a tal Sininho; Camila Jourdan, professora de filosofia da Uerj (!!!), e seu namorado, Igor D'Icarahy — cujo pai é advogado, papa-fina. Além de negar o pedido, Horta Fernandes repudiou os termos ofensivos empregados pela defesa dos acusados, que classificou o magistrado Flávio Itabaiana, que acolheu a denúncia do Ministério Público e determinou a prisão preventiva dos 23 acusados, de "juiz prepotente" e "espírito de carcereiro".

(...) Não se esqueçam a quem apelou Sininho quando um dos assassinos do cinegrafista Santiago Andrade foi preso: o deputado estadual Marcelo Freixo.

(...) O Fantástico teve acesso à denúncia oferecida pelo Ministério Público. Informa a reportagem:

De acordo com a denúncia, o Movimento Frente Independente Popular estabeleceu, em reuniões fechadas, que o protesto pacífico não seria meio hábil para alcançar os objetivos dos grupos. E decidiu que deveria ser incentivada a prática de ações violentas no momento das manifestações, tais como a depredação de bancos, de estabelecimentos comerciais e o ataque a ônibus e viaturas policiais. Segundo o promotor de justiça Luis Otávio Figueira Lopes, a denunciada Eliza de Quadros Pinto Sanzi, conhecida como Sininho pode ser identificada como uma das principais lideranças da frente.

A ocupação da Câmara Municipal por manifestantes, em agosto do ano passado, poderia ter tido consequências mais graves. Segundo a denúncia, havia um plano para incendiar a sede do poder legislativo do Rio. A denúncia afirma que Eliza foi vista comandando manifestantes, no sentido de carregarem três galões de gasolina para a Câmara Municipal, passando a incitar os demais manifestantes a incendiar o prédio. O objetivo, segundo a denúncia, não foi alcançado em razão da intervenção de outros participantes dos atos, fatos apontados no depoimento de uma testemunha, que teve a identidade preservada pelo Ministério Público.

Escutas telefônicas feitas com autorização da Justiça revelaram que Camila Jourdan, professora de filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, participava da elaboração dos artefatos e da distribuição deles para os black blocs. A denúncia afirma também que menores de idade dos participaram de atos violentos. Nos autos do processo, um adolescente teria afirmado ter a intenção de matar um policial nos protestos contra a Copa do Mundo.

"Black blocs e seus amiguinhos - Juiz e desembargador do TJ-RJ estão de parabéns por não se deixar intimidar por patrulha baguncista de deputados, setores da imprensa e advogados do caos. Cana na turma!", Reinaldo Azevedo, 21/07/2014, http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/black-blocs-e-seus-amiguinhos-juiz-e-desembargador-do-tj-rj-estao-de-parabens-por-nao-se-deixar-intimidar-por-patrulha-baguncista-de-deputados-setores-da-imprensa-e-advogados-do-caos-cana

Agora, vamos à pérola: a imprensa machista patriarcal misógina homofóbica direitista fuçou, fuçou e só descobriu que a mocinha praticou vandalismo, tentou favorecimento pessoal para um assassino (artigo 348 do Código Penal) e ia participar de um incêndio criminoso e um homicídio. Então, resolveu inventar algo pesado:

Desde a prisão dos ativistas no Rio de Janeiro, vários fatos chamaram a atenção e geraram pautas nos meios de comunicação, entre eles, a citação do filósofo Mikhail Bakunin, morto em 1876, como suspeito, e a utilização dos termos "anarquista" e "esquerdista" para classificar as pessoas investigadas pelo inquérito. Sem contar a acusação de que o grupo iria "explodira a Câmara Municipal" da cidade do Rio de Janeiro. Porém, outro fator que começa a ser utilizado por parte da imprensa como maneira de desqualificar a atuação política de Elisa Quadros são "conflitos" de sua vida pessoal amorosa.

De acordo com matérias veiculadas em alguns veículos, a denúncia teria partido de uma integrante da FIP (Frente Independente Popular), que teria tido uma desavença com Elisa Quadros (Sininho), pois, esta teria "roubado" o namorado da denunciante. A primeira questão é a seguinte: utiliza-se tal acusação sem nenhum critério, apenas para atingir Quadros (...)

A socióloga e pesquisadora em estudos feministas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Carla Cristina Garcia, atenta para o fato de que o discurso utilizado pela imprensa clássica, além do teor machista, possui também caráter eleitoral. "Quando a então candidata à presidência da República Dilma Rousseff era atacada, qual foi o discurso utilizado contra ela? Mulher, terrorista e ex-gruerrilheira. Aí devemos fazer a leitura: estamos em ano de eleição. De que maneira estão tratando essa ativista na imprensa? Mulher e terrorista", analisa.

"Elisa Quadros e a desqualificação política a partir do discurso machista", Marcelo Hailer, 31/07/2014, http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/07/elisa-quadros-e-desqualificacao-politica-partir-discurso-machista. Grifos meus.

Entenderam? O machismo de antigamente tentava desqualificar uma mulher dizendo que ela é terrorista, o de hoje tenta desqualificar uma terrorista dizendo que ela é mulher.

Apêndice

Elisa Quadros e a desqualificação política a partir do discurso machista

http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/07/elisa-quadros-e-desqualificacao-politica-partir-discurso-machista

julho 31, 2014 12:50

Elisa Quadros e a desqualificação política a partir do discurso machista

Socióloga atenta para o fato de que a vida pessoal e amorosa de ativistas homens nunca é utilizada para provocar descrédito político

Por Marcelo Hailer

Desde a prisão dos ativistas no Rio de Janeiro, vários fatos chamaram a atenção e geraram pautas nos meios de comunicação, entre eles, a citação do filósofo Mikhail Bakunin, morto em 1876, como suspeito, e a utilização dos termos “anarquista” e “esquerdista” para classificar as pessoas investigadas pelo inquérito. Sem contar a acusação de que o grupo iria “explodira a Câmara Municipal” da cidade do Rio de Janeiro. Porém, outro fator que começa a ser utilizado por parte da imprensa como maneira de desqualificar a atuação política de Elisa Quadros são “conflitos” de sua vida pessoal amorosa.

De acordo com matérias veiculadas em alguns veículos, a denúncia teria partido de uma integrante da FIP (Frente Independente Popular), que teria tido uma desavença com Elisa Quadros (Sininho), pois, esta teria “roubado” o namorado da denunciante. A primeira questão é a seguinte: utiliza-se tal acusação sem nenhum critério, apenas para atingir Quadros; segundo e mais importante é a desqualificação política baseada no discurso de gênero e marcadamente machista e a retomada do velho discurso de “lugar de mulher não é na política”.

A socióloga e pesquisadora em estudos feministas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Carla Cristina Garcia, atenta para o fato de que o discurso utilizado pela imprensa clássica, além do teor machista, possui também caráter eleitoral. “Quando a então candidata à presidência da República Dilma Rousseff era atacada, qual foi o discurso utilizado contra ela? Mulher, terrorista e ex-gruerrilheira. Aí devemos fazer a leitura: estamos em ano de eleição. De que maneira estão tratando essa ativista na imprensa? Mulher e terrorista”, analisa.

Garcia também analisa o fato de que apenas as mulheres são mostradas nas reportagens, por meio de fotos e conversas gravadas. “Eu não tenho dúvida de que, além da aproximação com a história da Dilma Rousseff há aí, também, um discurso fortemente machista. Só se fala da Elisa Quadros e de outras meninas, os homens não aparecem. Isso não é por acaso”, critica a socióloga.

A pesquisadora também questiona o fato de que a vida privada e amorosa só é utilizada para desqualificar as ativistas mulheres. “E pra piorar utilizam essa história de que a denúncia foi feita por que a Elisa teria roubado o namorado de uma outra ativista. É óbvio que isso é machismo. Quantas vezes se usou esse tipo de discurso com homens – o fulano denunciou o beltrano por que ele roubou a sua namorada? Eu nunca vi. E olha o termo utilizado: roubou. Ou seja, o velho discurso machista de que mulheres, mesmo na política, disputam um macho. Esse tipo de argumento é utilizado historicamente para desqualificar a luta das mulheres”, finaliza Carla Cristina Garcia.

Foto: Fotos Públicas

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