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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Depreciar a retidão é exaltar a iniquidade (um pouco sobre Diego Rox e os "isentões")

Abigail Pereira Aranha

Isso o Bolsonaro não conta! (Diego Rox, trechos)[1]

[08:11 a 08:47] Uns bolsopetistas foram me marcar, foram marcar meu nome numa foto que o Bolsonaro postou[2] um dia desses aí, deve ter uns 3, 4 dias, não sei, dizendo que sancionou a Lei Romeo, que é o nome do filho do [apresentador Marcos] Mion. [Mostra a captura de tela da postagem no Instagram] E o post diz o seguinte: "Lei Romeo Mion/Espectro Autista. Sancionada hoje a Lei" tal "que cria Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista". "A referida carteira é gratuita e garante prioridade nas áreas de saúde, educação e assistência social". Aí ele foi lá e marcou a Michele com o sorrisão ali e tal, nossa, que vitória do governo.

[08:47 a 09:22] [Mostra a captura de tela de artigo da página da Câmara dos Deputados][3] Agora, o que você não sabe sobre isso é que esse projeto é da deputada Rejane Dias, do PT. E por que que ela luta por isso? Por que o PT se preocupa com as minorias, nossa? Não. O PT nunca se preocupou com minorias. Só que ela se preocupa com minorias porque ela é mãe de autista. Então ela luta por isso. O mãe vem antes de qualquer partido. E só quem tem filhos com deficiência, seja qualquer outra, ou alguém próximo da família que acaba dedicando a vida pra lutar por isso. O resto não se importa, até porque desconhece. Né?

[09:22 a 10:11] O nome dela tá no post do presidente? Eu vou perguntar pra você. Não, não tá. Ela reclamou sobre isso? Ela fez... tal, não, o PT "exigimos que fale, que"...? Não. Sabe por quê? Porque notoriedade nisso não importa, o importante é ser feito. A luta dela é genuína. Então, se escreveu ou não escreveu, dane-se. Mas notoriedade essa que o presidente fez questão de querer ter, postando foto como se fosse algo criado por ele. Não, é exatamente isso! Porque quem não sabe, quem não entende, como... a maioria das pessoas acha que a coisa é do governo. Nossa, ele sancionou, caramba! Nossa, mas esse... é só você ler os comentários. Mas esse governo aí, nossa, se preocupa mesmo, tá incluindo, e tal. E fazem isso de propósito, é um marketing de propósito, enganam de propósito.

[11:14 a 11:23] O que o Bolsonaro fez foi oportunismo em cima de autistas, foi... foi coisa de político, aquele lance de atravessar velhinho na rua, fazer carinho em cachorro.

[11:37 a 11:45] Segundo, que não resolve os problemas. Então, tá fazendo um marketing ali, tal, como se estivesse ajudando de fato, né.

[11:52 a 12:16] E ele ter sancionado não é mais que a obrigação como político, como de quem vive do dinheiro público, e ele vive há 30 anos assim. OK? É obrigação dele como político e o mínimo a se fazer como ser humano. Quem não aprovar um negócio desse, uma... algo que seja pró-deficiente, né, não importa o que seja, no mínimo, né, ele não é gente.

[12:16 a 12:30] Então, coloca na sua cabeça, seja Bolsonaro ou qualquer político que seja, ou seja qualquer agente do Estado, se tratando de policial, bombeiro ou o que seja: obrigação não é mérito, é obrigação, tá ali exercendo a função pra isso.

Meus comentários

O ponto aqui não é só sobre Jair Bolsonaro, nem só sobre política, nem só sobre o Brasil. É sobre grandeza de espírito. Ou, mais ainda, sobre pobreza de espírito.

A antipatia aparentemente repentina e incondicional contra Jair Bolsonaro de vários vlogueiros brasileiros que o apoiavam parece bem ilustrada aqui. Por exemplo, o Diego Rox diz que Bolsonaro tinha obrigação, como político e como ser humano, de aprovar uma certa lei menos de um minuto depois de dizer que a mesma lei, aprovada, era ineficaz.

Os méritos do governo Jair Bolsonaro não são desprezíveis, mas o presidente continua de pé, com grandes chances de completar os 4 anos de mandato, por falta de uma oposição com capacidade para derrubá-lo. Essa oposição é uma legião de bandidos aloprados que age como quem perdeu um produto de crime, não uma eleição. Na parte de "bandidos aloprados", estou sendo literal: o crime menos grave é difamação por pessoas que usam o nome de jornalistas. Contra pessoas da família ou da equipe de Jair Bolsonaro, ou até eleitores mais entusiastas, nós tivemos difamação, calúnia, denunciação caluniosa, fraude processual, ataque de "hacker" e até agressão física. A mesma oposição também diz representar o povo, mas você que é uma pessoa do povo de verdade sabe quantas mulheres sequer mencionam os assuntos do movimento feminista, ou afrodescendentes do Movimento Negro, ou homossexuais do Movimento LGBT. Mesmo com domínio das universidades e da comunicação de massa fora da internet, essa oposição se mostra com uma notória pobreza intelectual e uma estupidez cada vez maior. Mas 8 anos antes, era Dilma Rousseff quem estava de pé por falta de uma oposição qualificada (Lula, 4 anos antes, mais ainda, mesmo com o escândalo do Mensalão). O que tínhamos contra uma "poste" do Lula era uma oposição liberal-conservadora cuja formação cultural, intelectual e acadêmica foi conseguida com muito estudo e com muitas viagens ao exterior pagos com a herança do avô. Essa oposição de antes é o apoio ao governo de hoje, e vice-versa.

Depois do fim do tempo do PT na Presidência da República, o Brasil mostrou a pobreza intelectual e de espírito nos dois lados. Ou melhor, três lados (já vou explicar). Vou pular o lado dos petistas. O lado liberal-conservador chegou ao governo Bolsonaro acreditando que ele foi eleito porque o povo aprecia as ideias que só são levadas a sério por mulheres provincianas sexofóbicas e herdeiros mal acostumados de coronéis latifundiários. Bastou a Rainha Louca perder o mandato para aparecerem, como vindos de uma Caixa de Pandora, os defensores de um novo golpe militar de 1964[4], os monarquistas e até o grupo da Terra Plana.

Depois de esquemas de corrupção inéditos na história do Brasil e de mandatos presidenciais cujos méritos reais foram de aproveitar heranças de antecessores, a própria sobrevivência política ou mesmo formal do PT vem de um pacto do Brasil praticamente inteiro em torno da pequenez de espírito e de intelecto. E aqui entra também o terceiro lado: o grupo que se diz acima da divisão entre esquerda e direita, ou mesmo da própria política. É o que chamamos hoje de "isentões" mais o que os marxistas sempre chamaram de "alienados". Aqui eu volto à fala do Diego Rox. Essas pessoas que se dizem contra a política ou contra uma coisa confusa que chamam de "o Estado", por que elas só se manifestaram publicamente depois da queda de popularidade da Dilma? Porque uma legião de eleitores da Dilma se deu mal e não conseguia assumir, pelo menos publicamente, sua culpa pessoal. Eram aquelas pessoas que viam as eleições como um ou dois domingos perdidos a cada dois anos, que seriam melhor aproveitados na frente de uma televisão ou numa mesa na calçada numa frente de bar. Quando o governo Dilma Rousseff trouxe o crescimento zero para suas vidas em 2014, essas pessoas começaram a se interessar por política. Ou melhor, se interessar em falar mal do PT.

Mas (não me lembro de onde eu ouvi isso) nenhuma ação é mais nobre do que a intenção que a gera. Assim, uma fala contra a falta de honradez na política que vem de um ex-cúmplice mal sucedido da corrupção do governo anterior não é mais do que inveja vinda de um hipócrita mal sucedido, e ainda pode ter por trás um certo ódio à virtude. Volto aqui à fala do Diego Rox: uma coisa boa foi feita, Jair Bolsonaro não passa de um político que não fez mais do que a obrigação, mas uma deputada do mesmo partido de Lula e Dilma Rousseff não é sequer uma política, é u'a mãe dedicada a uma boa causa e para quem "notoriedade nisso não importa, o importante é ser feito". Depreciar o justo é glorificar o ímpio. Não digo que é o caso da pessoa da deputada Rejane Dias, mesmo que eu acredite que ela estar no PT não é bom sinal. Mas você já ouviu alguém dizer que Lula ou Dilma Rousseff apenas cumpriram obrigações em serem honestos e cuidarem dos pobres em programas sociais?

Você pode descobrir neste blogue o elogio que eu fiz à então senadora pelo PCdoB do Amazonas Vanessa Grazziotin pelo projeto de lei PLS 652/2015 que "acrescenta dispositivos à Consolidação das Leis do Trabalho" "para estabelecer licença-paternidade de 120 dias". E à mesma senadora pelo projeto de lei PLS 514/2015 que "garante o direito à amamentação em público, transformando em crime a sua violação, que também ensejará indenização por danos morais à vítima". E ao então deputado pelo PSOL do Rio de Janeiro Jean Wyllys pelo projeto de lei PL 4211/2012 para regulamentação da prostituição. Você vai perceber que eu reconheci méritos de uma pessoa sem a intenção de depreciar uma outra.

Isso me lembrou um caso que um leitor compartilhou comigo no Facebook: "Estrela adulta é banida do Instagram por salvar Coalas"[5]. "A subsidiária do Facebook, Instagram, demonstrou seu compromisso de tornar o mundo um lugar melhor, proibindo uma camgirl que arrecadou US $ 1 milhão para instituições de caridade que combatem os efeitos dos recentes incêndios na Austrália, oferecendo fotos nuas para aqueles que doaram US $ 10". "A exibicionista on-line de 20 anos, cujo nome verdadeiro é Kaylen Ward e usa o apelido de 'The Naked Philanthropist', (...) relatou que ela foi deserdada por sua família e que sua conta foi banida por 'conteúdo sexualmente sugestivo', apesar de não publicar fotos nuas no próprio instagram". Leitores compartilham comigo com frequência no Facebook alguma notícia com algo relacionado a nudez ou sexo. Eles veem e se lembram de mim. Não só porque eu tenho um blogue com pornografia e eu digo a minha posição sobre sexualidade. Também é porque mesmo o que eu digo da minha vida de licenciosidade está dentro de uma proposta moral e intelectual. Mas o que isso tem a ver com o caso que eu estava comentando? A desqualificação de uma pessoa (ou das suas ideias ou das suas ações) por picuinhas; ou o contrário, a supervalorização por outras picuinhas. Por exemplo, a mulher é ou foi profissional do sexo, é razoável ela desde perder uma vaga de trabalho até ser assassinada. Ou o contrário, se a mulher dá sinais visíveis de que odeia sexo, é razoável ela ser vista, por exemplo, no ambiente de trabalho como melhor profissional que um homem ou uma mulher bonita. No meu caso, eu tenho sorte hoje de que ninguém ataca o que eu escrevo dizendo que o meu blogue tem pornografia e eu tive sexo com mais de 300 homens. Porque hoje, quem discorda de mim e vê as coisas "indecentes" não lê o que eu escrevo (em 2014, algumas feministas liam).

Eu escrevi em 2010 sobre a eleição da Dilma Rousseff.[6] Onde estavam aqueles "isentões", alienados e traidores em 2014?

A oposição a Jair Bolsonaro que diz também abominar o PT e parece dizer a verdade nos traz pelo menos duas lições, e não só para o Brasil. A primeira é que pessoas que não compreendem bem o que ouvem, leem, falam ou escrevem não podem ter atos de grandeza moral. A segunda é que pessoas que foram covardes para enfrentar um mal ou mesmo que colaboraram com ele pessoalmente também podem trabalhar contra ele ou os seus efeitos, mas precisam, como disse João Batista a alguns fariseus e saduceus, produzir frutos dignos de arrependimento (Mt 3: 8). Se foi possível em séculos distantes um analfabeto fazer um ato nobre, uma pessoa medíocre e analfabeta funcional de hoje com culpas não confessadas só pode fazer desastres em cima do uso de palavras nobres mal entendidas, contra quem tem a grandeza que lhe falta.

NOTAS E REFERÊNCIAS:

[1] "Isso o Bolsonaro não conta!", Diego Rox Oficial, 12 de janeiro de 2020, https://www.youtube.com/watch?v=X3oDKfC7uxs.

[2] jairmessiasbolsonaro, 08 de janeiro de 2020, https://www.instagram.com/p/B7ExaqfBLII.

[3] "Lei que cria carteira de identificação da pessoa autista é sancionada", Portal da Câmara dos Deputados, 09 de janeiro de 2020, https://www.camara.leg.br/noticias/630372-lei-que-cria-carteira-de-identificacao-da-pessoa-autista-e-sancionada.

[4] "Defesa da Intervenção Militar é provincianismo mais burrice mais golpismo", 06 de fevereiro de 2018, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2018/02/defesa-da-intervencao-militar-e.html.

[5] "Estrela adulta é banida do Instagram por salvar Coalas", Tokusatsu Mil Grau, 11 de janeiro de 2020, https://tokusatsumilgrau.blogspot.com/2020/01/estrela-adulta-e-banida-do-instagram.html.

[6] "Dilma Rousseff eleita presidente: em 2010, quem ganhou foi a gentalha", 18 de novembro de 2010, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2010/11/dilma-rousseff-eleita-presidente-em.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2010/11/dilma-rousseff-eleita-presidente-em.html.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Rainhas montadas em cavaleiros brancos

Abigail Pereira Aranha

Quando a lei que dava à mulher os direitos de votar e de ter cargos políticos foi aprovada, quantas mulheres do Congresso votaram a favor? Que piada ruim! Está certo, se mulheres não podiam votar nem ter cargo político, não existiam mulheres no Congresso. Mas com isso, eu chamo a sua atenção para uma coisa um pouco menos óbvia: uma pessoa não pode chegar a uma posição de poder sem ter alguma forma de poder pessoal ou a ajuda de alguém que já está nesta posição ou acima.

Como começou o Feminismo? De acordo com as mulheres feministas, um grupo de mulheres se levantou contra a opressão de uma sociedade que por séculos colocava as mulheres em uma posição inferior. De acordo com os conservadores, um grupo de lésbicas malucas se levantou por um poder diabólico para destruir o Paraíso na Terra que existia por séculos. Os conservadores não sabem explicar como esse grupo de lésbicas malucas chegou a algum lugar (mas eu sei, e é o que eu vou fazer aqui), mas se as mulheres feministas lutassem, hoje ou no século XX, contra uma sociedade como elas dizem que é aquela em que elas vivem, a história do Feminismo seria a preparação para algum dia dos anos 1960 que terminou com algumas lésbicas com ossos quebrados.

Do outro lado, qual foi a oposição masculina que o Feminismo teve? No máximo, alguma reação burra de quem consegue dizer (e acreditar) que as mulheres feministas são lésbicas gordas repulsivas e elas têm vida promíscua com homens (nenhum homem teria interesse sexual por uma mulher feminista mesmo se ela quisesse homens, mas ela consegue vários homens, entendeu?). Os homens conservadores (e algumas mulheres) também tentam provar que o Feminismo é prejudicial para a mulher e o bom é o Conservadorismo, que oferece a ela tudo que o Feminismo promete e muito mais. Aqui eu chego ao ponto: entre os homens, tratar as mulheres de forma especial é a regra geral.

Várias mulheres feministas publicaram livros defendendo a redução da população masculina a algo como 10% da população total, mas nós nunca vimos um livro inteiro defendendo a violência contra a mulher. É isso o que chamam de machismo. Por sinal, quando a palavra "machismo" teve um significado positivo? E por que "machismo" é depreciação da mulher, mas "feminismo" é a defesa da igualdade entre homens e mulheres, incluindo, de acordo com algumas mulheres feministas, ações em favor dos homens? Como regra geral, quando os homens não dão às mulheres o respeito normal entre duas pessoas, eles depreciam a própria masculinidade. Hoje que "feminismo" não é mais uma coisa chique, nós podemos ouvir homens dizendo "eu sou contra o machismo e o feminismo". Mas enquanto o Feminismo é um movimento e uma ideia, o machismo não é. Portanto, este homem iguala o mau entendimento de o que são atitudes masculinas ao feminismo radical. O que ele defende é o Conservadorismo ou um feminismo de esquerda elegante. Nos dois casos, o ser homem só tem sentido e elegância quando está a serviço da mulher (a própria liderança masculina é para dar proteção ou conforto a ela).

Eu dizia que os homens em geral depreciam a própria masculinidade e você pode ter achado estranho. A primeira coisa que eu tinha em mente é a ideia da masculinidade que só tem sentido para servir à mulher, como expliquei há pouco. A segunda coisa é o desprezo da heterossexualidade masculina pelo próprio homem. O "autocontrole" desse homem na presença de alguma senhora feia e desagradável é uma imagem disso. Um crime de homem contra homem porque a vítima fez sexo com uma mulher da família do autor é uma outra imagem. E onde existe proibição ou censura contra seminudez, pornografia ou prostituição, quem faz as ações práticas, inclusive prisões, são homens. Mas eles não são apenas policiais que cumprem leis e ordens? Não é só a eles que eu me refiro. Os superiores hierárquicos também são homens. Se o que é relacionado a sexo é crime, quem fez a lei foi um homem e a maioria que aprovou também é de homens. Certo, isso é regra geral. As mulheres que estão nessas posições explicam a regra: é para isso que os homens existem, para ajudar que as mulheres cheguem aos céus quando elas acharem conveniente ir além do ambiente doméstico.

Pelo menos desde a implantação do Cristianismo, os homens também têm protegido as mulheres com aversão a sexo de qualquer sinal de sexo ou de mulheres que parecem não ter aversão a sexo. Por isso um homem que agride um homem que se aproxima de uma filha dele por supostas intenções sexuais pode agredir essa mesma filha se ela tiver um namorado. Eu já experimentei tentativas de agressão de mulheres porque eu conversei ou transei com o marido ou um filho adolescente dela, mas mais vezes eu experimentei homens que fizeram isso por alguma mulher. Mas quando um grupo de mulheres falou em liberdade sexual, alguns homens as apoiaram, nem sempre com a intenção ter a sua parte nisso; e os homens contrários a esse grupo queriam, em última análise, apoiar as mulheres que não gostam de sexo.

E se um homem vilipendia a própria masculinidade, ele deprecia a sua própria individualidade humana. Esse homem se contém pra não falar perto de mulheres (ou entidades bizarras que levam esse nome) qualquer coisa que seja ou possa ser entendida como relacionada a sexo; ele faz por uma mulher algo que não faria por um homem; ele atrapalha a sexualidade de todos os outros homens que puder e renuncia a sua própria. A troco de quê? De nada. Nada além de agradar o universo feminino.

Homens pelo fim da violência contra as mulheres. Fonte: Emerson Reis NL, 06 de dezembro de 2019 às 09:04, www.facebook.com/emersonreis2014/posts/10157116133382955

"Homens pelo fim da violência contra as mulheres", você pode ter visto essa campanha por aí. Assim como você também viu mulheres defendendo os Direitos Humanos dos Homens. E talvez você também tenha visto mulheres feministas tentando explicar como o Feminismo também pode ajudar os homens. As comunidades masculinas antifeministas usam o termo "cavaleiro branco" para o homem disposto a defender uma mulher só por ser mulher. Os "homens pelo fim da violência contra as mulheres" são "cavaleiros brancos", homens como eles tratam as mulheres como rainhas e, quando podem, até fazem que elas sejam algo perto disso literalmente. Eles fazem isso por nada, às vezes até pra receber o mal pelo bem. Mas as mulheres feministas e as mulheres conservadoras antifeministas não consideram que tomar no cu é princípio moral superior (para muitas, é degradante no sentido figurado e no sentido literal). É bom ganhar o próprio dinheiro, mas um bom marido que ganha mais pode fazer falta. É bom contar problemas para um marido ou um amigo homem, mas é preocupante saber que ele pode se suicidar antes pelos próprios problemas. Os homens conservadores seguem o caminho que sempre seguiram. As mulheres menos estúpidas querem voltar desse caminho novo, mesmo que não exatamente para a idealização que os homens conservadores fazem da época em que os pais nasceram.

Mais uma coisa que os homens e as mulheres antifeministas podem ter notado: por que tantas vezes um homem feminista faz uma bajulação vergonhosa ao universo feminino e ele não se corrige quando vê que as mulheres em geral não o veem como uma espécie de "amigo da mulher" e muitas delas até o reprovam? Melhor: por que esse homem nem sabe que foi essa a reação do universo feminino? Isso se aplica ao homem feminista militante que usa um vestido em u'a manifestação contra a violência contra a mulher, mas também é o caso de um vereador que cria uma lei para que todos os assentos dos ônibus urbanos sejam preferenciais para as mulheres (sim, isso aconteceu em Fortaleza). Mas isso não é só porque esse homem reverencia a mulher sem esperar nada em troca. Quando esse homem não observa o "feedback" dos seus atos nem que seja pra pensar "como eu posso me rebaixar mais?", o modelo mental de ginolatria é dogmático e automático o suficiente para não depender da resposta do mundo real externo, mesmo daquela coletividade feminina que ele quer agradar.

Mas se é verdade que a mulher típica de hoje tornou-se desinteressante, insalubre e até perigosa não para casamento, mas para contato próximo, mas tem uma autoestima tão grande quanto a pobreza de espírito; alguns homens só estão em comunidades antifeministas como Real, MGTOW ou Red Pill porque, por isso mesmo, não encontraram uma bela mulher frígida provinciana disposta a se casar virgem com um falso moralista de pau pequeno. Esses homens idolatram a época em que os pais nasceram. Eles de coração trocariam o que chamam de perdição moderna por um passado em que mulheres não saíam à rua desacompanhadas e em que qualquer foto de uma mulher que só mostra os braços e as pernas era tão clandestina quanto uma droga ilícita. Naquele tempo, era até mais provável um homem morrer por acidente de trabalho ou por falsa acusação de assédio sexual. Mas como eu já vi homens conservadores dizendo em 2019, a vida de um homem não pertence a ele e o casamento não é para um homem ser feliz. Quando alguns homens heterossexuais cristãos foram rejeitados pelas mulheres porque o seu tradicionalismo não lhes era atraente, eles perceberam que todos menos eles têm direito a alguma coisa; só então eles começaram a defender os seus próprios direitos.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O Brasil não pode ser salvo, só superado

Abigail Pereira Aranha

Já é otimismo falar em "restauração da alta cultura", nas palavras de Olavo de Carvalho, em um país onde a maioria dos universitários é analfabeta funcional. Isso sem entrar na questão de quando essa "alta cultura" existiu e como ela era. E também sem entrar na questão de como o processo de destruição dessa coisa gloriosa pôde acontecer por 20 ou 30 anos sem protestos visíveis de quem a conheceu pessoalmente na adolescência.

Vamos admitir que um governo federal tenha um plano eficaz para erradicar o analfabetismo funcional. Vamos admitir que, neste caso, esse governo não tenha um único analfabeto funcional nos 3 níveis mais altos. O plano não será executável. Por exemplo: nas coordenações das secretarias de Educação dos estados ou nas reitorias das universidades, dirão "querem tirar os negros e as mulheres das universidades". Porque a avaliação de um candidato a vaga em universidade não terá outro critério além do conhecimento. Daí, para que um candidato analfabeto funcional não entre, acabam as políticas afirmativas no processo seletivo; para que este candidato, se entrar, não seja diplomado, acabam as políticas afirmativas também na assistência estudantil. Mas estes que protestam não são necessariamente militantes de esquerda em uma artimanha contra o governo. Eles podem ser apenas pessoas que acreditam de verdade no que estão dizendo.

Mas vamos admitir que seja formada uma elite intelectual para uma guerra cultural pela restauração da alta cultura. Estou misturando termos do Olavo de Carvalho com a "guerra cultural" dos "olavetes". E vamos admitir que essa elite intelectual participe da vida universitária e ganhe os debates em universidades cheias de esquerdistas e analfabetos funcionais. Temos um outro problema: a única plateia possível além da própria elite intelectual e além dos próprios professores, estudantes e ex-alunos das universidades é a parte da população num nível ainda mais baixo que a classe universitária pelo menos em escolaridade.

Se o analfabeto funcional é alguém que não entende bem o que lê e representa a maioria inclusive das pessoas de formação universitária, o Brasil já tem só na parte intelectual uma situação onde é quase inviável alguém entender ou explicar qualquer coisa, e não só em tópicos de política. Juntando a parte ética e a parte cultural que são medíocres, já é impraticável qualquer projeto de nação acima da pobreza de espírito.

Os governos Lula e Dilma Rousseff foram os de mais corrupção, estupidez e recompensa à mediocridade da história da República. O que tivemos depois disso? O fenômeno do "isentão", a pessoa que se diz acima da divisão entre esquerda e direita, ou até da própria política, mas nunca se manifestou naquela época e acredita que o problema do Brasil é que nem todos gostam do PT. Portanto, alguém que junta a amoralidade com a burrice. A autocrítica não só está acima da capacidade moral e mental do povo brasileiro como um todo, mas está acima do que ele poderia suportar mesmo se não estivesse.

O Brasil chegou ao ponto em que quem nasceu antes de 1985 vai ter de lutar não para ter um país melhor, mas para ter o país que conheceu no tempo em que não discutia política. Mas isso não pode ser feito com um movimento de volta ao passado, como o Brasil Império, o governo militar ou algum tempo em que as mulheres, mesmo quando pensavam que era pecado ter um orgasmo na vida, ainda tinham uma aparência civilizada. Não apenas porque aquele cenário é inviável hoje, é principalmente porque nada daquilo é impeditivo daquilo que temos hoje que queremos mudar. Se fosse, não teríamos ido de uma coisa à outra. Na esquerda, qualquer secundarista sabe que a História não dá saltos, ainda mais em visão de mundo de uma geração inteira em relação à anterior. Só os conservadores pensam que mudar o mundo pra pior é tão fácil quanto a vontade de um ou dois multimilionários patrocinando três ou quatro líderes revolucionários saídos do anonimato.

Ainda sobre os conservadores, nós ainda temos o problema de que mesmo que seja verdade que os progressistas são os culpados por uma degeneração moral sociopolítica do Brasil (e realmente é), os próprios conservadores não fazem mais do que representar uma outra forma de burrice. Em geral, eles não imaginam coisas como moral, inteligência e maturidade como compatíveis com uma vida sexual ativa ou com a manifestação de heterossexualidade. Bom, na parte da vida sexual ativa, eles até podem compartilhar vídeos e postagens de redes sociais de homossexuais de direita, mas vários leitores meus já me disseram que não se sentem à vontade para compartilhar textos meus com amigos conservadores "por causa da sacanagem". Aqueles homossexuais de direita "quebram a narrativa" do Movimento LGBT e defendem o "livre mercado", então eles ajudam a juntar os preconceitos de netos de condenados pela Justiça do Trabalho com a ideia de que essa é a única forma possível de enfrentamento ou mesmo de discordância do Socialismo. Os conservadores aceitam o risco de divulgar mulheres antifeministas bonitas e descobrir depois que elas eram pobres de conteúdo ou de caráter, e dizer que elas se aproveitaram da beleza e às vezes da sensualidade para ganhar notoriedade; mas eles não têm tanto entusiasmo para divulgar escritos antifeministas mais substanciosos de mulheres licenciosas como eu ou de profissionais do sexo como a Yasmin Mineira ou a Mercedes Carrera. O máximo que o eixo do PT tem de oposição é um grupo que quer "quebrar a narrativa" deles sem quebrar os erros da própria.

A burrice, o preconceito, a inveja ou a repressão sexual podem ser coletivos, de uma cidade ou de um país. A formação do grupo social pode até ser um instrumento para favorecer os vícios pessoais dos indivíduos. No lado contrário, a inteligência e a virtude, e mais ainda descobertas técnico-científicas ou intelectuais, são em boa parte méritos de indivíduos ou de pequenos grupos de pessoas. Por exemplo, um Louis Pasteur com uma pequena equipe pode descobrir microorganismos patogênicos e vacinas enquanto países inteiros acreditam que as doenças têm origem sobrenatural, mas não vice-versa.

Mesmo que o Brasil ainda seja melhor que dezenas de países, o patriotismo é uma atitude (ou um sentimento) dispensável. Mesmo antes de termos maioria de semianalfabetos sem caráter nos postos decisivos, o Brasil não tinha muito que mostrar de honroso como nação (pressuposto que uma nação possa dar motivo de orgulho ao cidadão em vez de vice-versa). Se mesmo assim precisarmos ver o Brasil como a nossa casa, nós não temos o dever de consertar as besteiras de quem elegeu o PT 4 vezes. Assim, as pessoas com alguma grandeza que nasceram no Brasil podem se ver como parte e representante não da nação brasileira, mas da decência humana.

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