Isso o Bolsonaro não conta! (Diego Rox, trechos)[1]
[08:11 a 08:47] Uns bolsopetistas foram me marcar, foram marcar meu nome numa foto que o Bolsonaro postou[2] um dia desses aí, deve ter uns 3, 4 dias, não sei, dizendo que sancionou a Lei Romeo, que é o nome do filho do [apresentador Marcos] Mion. [Mostra a captura de tela da postagem no Instagram] E o post diz o seguinte: "Lei Romeo Mion/Espectro Autista. Sancionada hoje a Lei" tal "que cria Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista". "A referida carteira é gratuita e garante prioridade nas áreas de saúde, educação e assistência social". Aí ele foi lá e marcou a Michele com o sorrisão ali e tal, nossa, que vitória do governo.
[08:47 a 09:22] [Mostra a captura de tela de artigo da página da Câmara dos Deputados][3] Agora, o que você não sabe sobre isso é que esse projeto é da deputada Rejane Dias, do PT. E por que que ela luta por isso? Por que o PT se preocupa com as minorias, nossa? Não. O PT nunca se preocupou com minorias. Só que ela se preocupa com minorias porque ela é mãe de autista. Então ela luta por isso. O mãe vem antes de qualquer partido. E só quem tem filhos com deficiência, seja qualquer outra, ou alguém próximo da família que acaba dedicando a vida pra lutar por isso. O resto não se importa, até porque desconhece. Né?
[09:22 a 10:11] O nome dela tá no post do presidente? Eu vou perguntar pra você. Não, não tá. Ela reclamou sobre isso? Ela fez... tal, não, o PT "exigimos que fale, que"...? Não. Sabe por quê? Porque notoriedade nisso não importa, o importante é ser feito. A luta dela é genuína. Então, se escreveu ou não escreveu, dane-se. Mas notoriedade essa que o presidente fez questão de querer ter, postando foto como se fosse algo criado por ele. Não, é exatamente isso! Porque quem não sabe, quem não entende, como... a maioria das pessoas acha que a coisa é do governo. Nossa, ele sancionou, caramba! Nossa, mas esse... é só você ler os comentários. Mas esse governo aí, nossa, se preocupa mesmo, tá incluindo, e tal. E fazem isso de propósito, é um marketing de propósito, enganam de propósito.
[11:14 a 11:23] O que o Bolsonaro fez foi oportunismo em cima de autistas, foi... foi coisa de político, aquele lance de atravessar velhinho na rua, fazer carinho em cachorro.
[11:37 a 11:45] Segundo, que não resolve os problemas. Então, tá fazendo um marketing ali, tal, como se estivesse ajudando de fato, né.
[11:52 a 12:16] E ele ter sancionado não é mais que a obrigação como político, como de quem vive do dinheiro público, e ele vive há 30 anos assim. OK? É obrigação dele como político e o mínimo a se fazer como ser humano. Quem não aprovar um negócio desse, uma... algo que seja pró-deficiente, né, não importa o que seja, no mínimo, né, ele não é gente.
[12:16 a 12:30] Então, coloca na sua cabeça, seja Bolsonaro ou qualquer político que seja, ou seja qualquer agente do Estado, se tratando de policial, bombeiro ou o que seja: obrigação não é mérito, é obrigação, tá ali exercendo a função pra isso.
Meus comentários
O ponto aqui não é só sobre Jair Bolsonaro, nem só sobre política, nem só sobre o Brasil. É sobre grandeza de espírito. Ou, mais ainda, sobre pobreza de espírito.
A antipatia aparentemente repentina e incondicional contra Jair Bolsonaro de vários vlogueiros brasileiros que o apoiavam parece bem ilustrada aqui. Por exemplo, o Diego Rox diz que Bolsonaro tinha obrigação, como político e como ser humano, de aprovar uma certa lei menos de um minuto depois de dizer que a mesma lei, aprovada, era ineficaz.
Os méritos do governo Jair Bolsonaro não são desprezíveis, mas o presidente continua de pé, com grandes chances de completar os 4 anos de mandato, por falta de uma oposição com capacidade para derrubá-lo. Essa oposição é uma legião de bandidos aloprados que age como quem perdeu um produto de crime, não uma eleição. Na parte de "bandidos aloprados", estou sendo literal: o crime menos grave é difamação por pessoas que usam o nome de jornalistas. Contra pessoas da família ou da equipe de Jair Bolsonaro, ou até eleitores mais entusiastas, nós tivemos difamação, calúnia, denunciação caluniosa, fraude processual, ataque de "hacker" e até agressão física. A mesma oposição também diz representar o povo, mas você que é uma pessoa do povo de verdade sabe quantas mulheres sequer mencionam os assuntos do movimento feminista, ou afrodescendentes do Movimento Negro, ou homossexuais do Movimento LGBT. Mesmo com domínio das universidades e da comunicação de massa fora da internet, essa oposição se mostra com uma notória pobreza intelectual e uma estupidez cada vez maior. Mas 8 anos antes, era Dilma Rousseff quem estava de pé por falta de uma oposição qualificada (Lula, 4 anos antes, mais ainda, mesmo com o escândalo do Mensalão). O que tínhamos contra uma "poste" do Lula era uma oposição liberal-conservadora cuja formação cultural, intelectual e acadêmica foi conseguida com muito estudo e com muitas viagens ao exterior pagos com a herança do avô. Essa oposição de antes é o apoio ao governo de hoje, e vice-versa.
Depois do fim do tempo do PT na Presidência da República, o Brasil mostrou a pobreza intelectual e de espírito nos dois lados. Ou melhor, três lados (já vou explicar). Vou pular o lado dos petistas. O lado liberal-conservador chegou ao governo Bolsonaro acreditando que ele foi eleito porque o povo aprecia as ideias que só são levadas a sério por mulheres provincianas sexofóbicas e herdeiros mal acostumados de coronéis latifundiários. Bastou a Rainha Louca perder o mandato para aparecerem, como vindos de uma Caixa de Pandora, os defensores de um novo golpe militar de 1964[4], os monarquistas e até o grupo da Terra Plana.
Depois de esquemas de corrupção inéditos na história do Brasil e de mandatos presidenciais cujos méritos reais foram de aproveitar heranças de antecessores, a própria sobrevivência política ou mesmo formal do PT vem de um pacto do Brasil praticamente inteiro em torno da pequenez de espírito e de intelecto. E aqui entra também o terceiro lado: o grupo que se diz acima da divisão entre esquerda e direita, ou mesmo da própria política. É o que chamamos hoje de "isentões" mais o que os marxistas sempre chamaram de "alienados". Aqui eu volto à fala do Diego Rox. Essas pessoas que se dizem contra a política ou contra uma coisa confusa que chamam de "o Estado", por que elas só se manifestaram publicamente depois da queda de popularidade da Dilma? Porque uma legião de eleitores da Dilma se deu mal e não conseguia assumir, pelo menos publicamente, sua culpa pessoal. Eram aquelas pessoas que viam as eleições como um ou dois domingos perdidos a cada dois anos, que seriam melhor aproveitados na frente de uma televisão ou numa mesa na calçada numa frente de bar. Quando o governo Dilma Rousseff trouxe o crescimento zero para suas vidas em 2014, essas pessoas começaram a se interessar por política. Ou melhor, se interessar em falar mal do PT.
Mas (não me lembro de onde eu ouvi isso) nenhuma ação é mais nobre do que a intenção que a gera. Assim, uma fala contra a falta de honradez na política que vem de um ex-cúmplice mal sucedido da corrupção do governo anterior não é mais do que inveja vinda de um hipócrita mal sucedido, e ainda pode ter por trás um certo ódio à virtude. Volto aqui à fala do Diego Rox: uma coisa boa foi feita, Jair Bolsonaro não passa de um político que não fez mais do que a obrigação, mas uma deputada do mesmo partido de Lula e Dilma Rousseff não é sequer uma política, é u'a mãe dedicada a uma boa causa e para quem "notoriedade nisso não importa, o importante é ser feito". Depreciar o justo é glorificar o ímpio. Não digo que é o caso da pessoa da deputada Rejane Dias, mesmo que eu acredite que ela estar no PT não é bom sinal. Mas você já ouviu alguém dizer que Lula ou Dilma Rousseff apenas cumpriram obrigações em serem honestos e cuidarem dos pobres em programas sociais?
Você pode descobrir neste blogue o elogio que eu fiz à então senadora pelo PCdoB do Amazonas Vanessa Grazziotin pelo projeto de lei PLS 652/2015 que "acrescenta dispositivos à Consolidação das Leis do Trabalho" "para estabelecer licença-paternidade de 120 dias". E à mesma senadora pelo projeto de lei PLS 514/2015 que "garante o direito à amamentação em público, transformando em crime a sua violação, que também ensejará indenização por danos morais à vítima". E ao então deputado pelo PSOL do Rio de Janeiro Jean Wyllys pelo projeto de lei PL 4211/2012 para regulamentação da prostituição. Você vai perceber que eu reconheci méritos de uma pessoa sem a intenção de depreciar uma outra.
Isso me lembrou um caso que um leitor compartilhou comigo no Facebook: "Estrela adulta é banida do Instagram por salvar Coalas"[5]. "A subsidiária do Facebook, Instagram, demonstrou seu compromisso de tornar o mundo um lugar melhor, proibindo uma camgirl que arrecadou US $ 1 milhão para instituições de caridade que combatem os efeitos dos recentes incêndios na Austrália, oferecendo fotos nuas para aqueles que doaram US $ 10". "A exibicionista on-line de 20 anos, cujo nome verdadeiro é Kaylen Ward e usa o apelido de 'The Naked Philanthropist', (...) relatou que ela foi deserdada por sua família e que sua conta foi banida por 'conteúdo sexualmente sugestivo', apesar de não publicar fotos nuas no próprio instagram". Leitores compartilham comigo com frequência no Facebook alguma notícia com algo relacionado a nudez ou sexo. Eles veem e se lembram de mim. Não só porque eu tenho um blogue com pornografia e eu digo a minha posição sobre sexualidade. Também é porque mesmo o que eu digo da minha vida de licenciosidade está dentro de uma proposta moral e intelectual. Mas o que isso tem a ver com o caso que eu estava comentando? A desqualificação de uma pessoa (ou das suas ideias ou das suas ações) por picuinhas; ou o contrário, a supervalorização por outras picuinhas. Por exemplo, a mulher é ou foi profissional do sexo, é razoável ela desde perder uma vaga de trabalho até ser assassinada. Ou o contrário, se a mulher dá sinais visíveis de que odeia sexo, é razoável ela ser vista, por exemplo, no ambiente de trabalho como melhor profissional que um homem ou uma mulher bonita. No meu caso, eu tenho sorte hoje de que ninguém ataca o que eu escrevo dizendo que o meu blogue tem pornografia e eu tive sexo com mais de 300 homens. Porque hoje, quem discorda de mim e vê as coisas "indecentes" não lê o que eu escrevo (em 2014, algumas feministas liam).
Eu escrevi em 2010 sobre a eleição da Dilma Rousseff.[6] Onde estavam aqueles "isentões", alienados e traidores em 2014?
A oposição a Jair Bolsonaro que diz também abominar o PT e parece dizer a verdade nos traz pelo menos duas lições, e não só para o Brasil. A primeira é que pessoas que não compreendem bem o que ouvem, leem, falam ou escrevem não podem ter atos de grandeza moral. A segunda é que pessoas que foram covardes para enfrentar um mal ou mesmo que colaboraram com ele pessoalmente também podem trabalhar contra ele ou os seus efeitos, mas precisam, como disse João Batista a alguns fariseus e saduceus, produzir frutos dignos de arrependimento (Mt 3: 8). Se foi possível em séculos distantes um analfabeto fazer um ato nobre, uma pessoa medíocre e analfabeta funcional de hoje com culpas não confessadas só pode fazer desastres em cima do uso de palavras nobres mal entendidas, contra quem tem a grandeza que lhe falta.
NOTAS E REFERÊNCIAS:
[1] "Isso o Bolsonaro não conta!", Diego Rox Oficial, 12 de janeiro de 2020, https://www.youtube.com/watch?v=X3oDKfC7uxs.
[2] jairmessiasbolsonaro, 08 de janeiro de 2020, https://www.instagram.com/p/B7ExaqfBLII.
[3] "Lei que cria carteira de identificação da pessoa autista é sancionada", Portal da Câmara dos Deputados, 09 de janeiro de 2020, https://www.camara.leg.br/noticias/630372-lei-que-cria-carteira-de-identificacao-da-pessoa-autista-e-sancionada.
[4] "Defesa da Intervenção Militar é provincianismo mais burrice mais golpismo", 06 de fevereiro de 2018, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2018/02/defesa-da-intervencao-militar-e.html.
[5] "Estrela adulta é banida do Instagram por salvar Coalas", Tokusatsu Mil Grau, 11 de janeiro de 2020, https://tokusatsumilgrau.blogspot.com/2020/01/estrela-adulta-e-banida-do-instagram.html.
[6] "Dilma Rousseff eleita presidente: em 2010, quem ganhou foi a gentalha", 18 de novembro de 2010, A Vez das Mulheres de Verdade, http://avezdasmulheres.blogspot.com/2010/11/dilma-rousseff-eleita-presidente-em.html; e A Vez dos Homens que Prestam, https://avezdoshomens.blogspot.com/2010/11/dilma-rousseff-eleita-presidente-em.html.