Existe um nível intelectual e até de dignidade humana mais baixo que a vida em torno da defesa da mentira? Sim, e é um nível mais baixo que crer sinceramente na mentira como se fosse verdade.
Uma região de nível regular de desenvolvimento para os padrões de um país do Terceiro Mundo tem uma vantagem em termos intelectuais, culturais, morais e até psiquiátricos: deixar mais visíveis coisas desprezíveis que a feiura, a baixa escolaridade, a velhice, a doença ou o fracasso socioeconômico podem deixar mais feias. Vantagem se você tiver, além de integridade mental, as condições para não ser oprimido ou levado você mesmo para a miséria geral, como seu próprio dinheiro, sua própria casa ou contato físico com áreas geográficas melhores.
A defesa da mentira exige pelo menos três coisas: conhecimento da verdade, conhecimento das pessoas para quem a mentira vai ser dita e um resultado prático pretendido. Portanto, a defesa de uma mentira exige uma presença no mundo real com alguma inteligência.
Mas até a mentira organizada está acima do nível mental normal das populações dos países e das regiões de nível moral e cultural baixo (e onde os índices socioeconômicos pobres costumam ser apenas consequência), especialmente onde representantes da mediocridade geral já estiveram ou ainda estão nos cargos políticos formais. Nesses lugares, um sem-número de vigaristas deveram ou ainda devem a uma corrente espúria de política e pensamento específica não apenas um status social, mas até a possibilidade de ter um emprego. Mas um número muito maior de pessoas do povo devem a essa mentira desde alguma possibilidade para um dia-a-dia menos miserável (inclusive economicamente) até a fuga do encontro humilhante com algo superior mesmo quando a mentira que apoiam é causa notória da sua própria pobreza.
O primeiro nível abaixo da vida em torno da mentira é o ódio à verdade e à grandeza. Não é mentira compulsiva. É transformar o que é nobre, justo ou bonito em como se fosse um desafeto pessoal. Isso também não chega a ser inveja das pessoas com grandeza de espírito. O invejoso tem desejo ou apreciação pelo que o invejado tem, e a pessoa neste nível não chega ao ponto nem de considerar a verdade ou a grandeza de uma pessoa como algo respeitável.
O segundo nível abaixo da vida em torno da mentira é a guerra ao mundo real. Porque a guerra à grandeza foi perdida. Aqui, o próprio mundo real é um problema em si. Pelo que podemos ver na Bíblia, o próprio Diabo ainda estaria neste nível, já que ele quer mudar a criação de Deus para alguma outra coisa no seu próprio estilo. Mas para isso, ele ainda precisa agir dentro do mundo real. A parte má da militância socialista funcional está neste nível também. Mas ainda há um nível em que nem eles chegam.
O terceiro nível abaixo da vida em torno da mentira é a guerra à sanidade mental. A guerra contra o mundo real foi perdida. Resta a essa pessoa atacar a sensatez, a inteligência, o senso de proporções e o senso do ridículo. A pessoa pode tentar fazer isso em pessoas sob sua influência, em especial crianças dependentes, mas faz isso em primeiro lugar em si mesma. A pessoa se torna doente mental no sentido técnico. Mas isso não significa que seja uma pessoa inofensiva, porque essa pessoa, dentro da doença mental e moral, ataca o mundo real. Uma mulher desequilibrada que agride fisicamente e quebra objetos em uma discussão estúpida é um exemplo desse nível.
Por exemplo, uma lésbica começa com a mentira de uma injustiça contra a homossexualidade feminina, vai para o primeiro nível com uma aversão aos homens e às mulheres heterossexuais, para o segundo nível com a guerra contra a visão predominante da heterossexualidade como biologicamente normal (ela rebaixa o fato biológico a um fato sociocultural que, mesmo reconhecido, pode ser trabalhado) e para o terceiro nível com a declaração de que ela mesma, visualmente e comportamentalmente repulsiva, é uma mulher poderosa e sexualmente desejável.
A vida nacional brasileira em geral desde a eleição de Lula para a Presidência da República é um exemplo desses três níveis. Também é um sinal de que mesmo que a imagem do terceiro nível seja uma periferia deprimente de residências de pessoas feias e fracassadas, uma comunidade como essa tem uma importância sociopolítica que não pode ser ignorada. Especialmente quando políticas como o sistema de cotas sociorraciais e o voto dos analfabetos podem introduzir a pobreza de espírito onde é mais desejável que ela não esteja. Lula foi reeleito depois da denúncia do Mensalão com ainda mais votos que para o primeiro mandato e conquistou ainda mais votos para uma irrelevância chamada Dilma Rousseff porque naquela altura, milhões de pessoas passaram a dever suas vidas socioeconômicas, desde um bom cargo no serviço público até um benefício do Bolsa Família, ao sistema político-administrativo do governo PT. As universidades, a imprensa, a produção artística-cultural, o serviço público e mesmo grandes empresas privadas se aproximaram do povo no sentido pejorativo, no sentido da representatividade do medíocre. Isso realmente só podia ser feito por pessoas que já estavam em posições de poder ou decisão, para interesses pessoais, grupais ou ideológicos. Mas a base popular existiu e foi importante, o suficiente para fazer toda a tragédia, pelo menos no começo e por enquanto, através dos meios normais de uma democracia formal. E como comprovaram as vitórias eleitorais do PT depois das denúncias do Mensalão e do Petrolão (esquemas feitos, portanto, enquanto o partido não estava dedicado a fazer um governo formidável, como a crise posterior confirmou), uma nação que está nesses três níveis abaixo da mentira pode continuar ou se aprofundar nesse processo de degradação inclusive ou talvez principalmente quando paga caro pela guerra contra a verdade e a grandeza até mesmo nas partes, digamos, menos intelectuais do seu cotidiano.
O problema que eu descrevo aqui também acontece nas alas políticas liberal e conservadora. Também acontece na comunidade cristã tradicional. Também acontece no Primeiro Mundo. Mas a esquerda da década de 2010 especialmente no Brasil e nos Estados Unidos, e mais ainda as populações alienadas influenciadas ou favorecidas por essa esquerda, ajudam a nos mostrar esse problema de uma forma visual impressionante. Por exemplo, o perfil no Facebook de uma típica mulher feminista ou cristã de hoje mostra um não dar-se a obrigação de merecer respeito que uma mulher de meados do século XX ainda se dava, mesmo quando ela era semianalfabeta, psiquiatricamente instável e simpatizante da violência policial-jurídica contra ateus e mulheres profissionais do sexo.
Talvez você tenha notado, mas digo aqui mais diretamente: o Brasil em geral ainda tem que melhorar muito no sentido clínico (nem é no sentido intelectual) para que uma pessoa intelectualmente qualificada possa entrar em um debate intelectual e correr o risco de encontrar no mínimo um trapaceiro. Por sinal, foi um erro meu quando pensei, desde 2006, que qualquer exposição de ideias feita por uma garota desconhecida geraria debates ou pelo menos atrairia atenção de um número significativo de pessoas desde que fosse razoavelmente lúcida. O trabalho só não foi perdido porque eu o deixei na internet e ele foi achado por outros anônimos aqui e ali que estavam tão sedentos de ver manifestações de integridade mental quanto eu mesma. Bom, alguns rapazes procuravam putaria e me descobriram, mas gostar de licenciosidade (na teoria e na prática) também significa uma certa integridade moral e mental.
Eu ainda estou tentando entender como enfrentar este problema, mas quatro coisas eu entendi. 1) o nível a ser confrontado é sempre o último, porque a derrota em um nível leva ao nível mais baixo. 2) para cada pessoa com integridade moral e mental, confrontar pessoas no terceiro nível no contexto nacional, no contexto regional ou mesmo na internet é essencialmente o mesmo que confrontar pessoas no mesmo nível no ambiente próximo no mundo físico. 3) esse confronto envolve aumento de poder pessoal, em especial quando a pessoa em questão é da própria família (e lembro que poder pessoal é autonomia sobre a própria vida no sentido individual, e isso inclui a capacidade de se livrar do poder negativo de outras pessoas). 4) visto que fazer a própria presença desagradável faz parte do poder de ação limitado dessas pessoas, o confronto envolve bom humor e ridicularização dessas pessoas no nível rasteiro da presença delas no mundo físico, e não no nível de conversa sã e inteligente com pessoas mentalmente saudáveis.
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