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terça-feira, 22 de agosto de 2006

Eu fui (ou sou) prostituta (ou atriz pornô), onde está o problema?

Abigail Pereira Aranha

Quantas vezes nós ouvimos uma ex-prostituta, uma ex-atriz pornô ou uma mulher que fez um ensaio erótico dizer isso? Bom, gente, eu ainda não fiz essa carreira profissional. Até porque eu só tenho 15 anos. Preconceito da sociedade contra a mulher que tem uma foto seminua num calendário, que fez um material pornográfico, que é prostituta? Mesmo que este preconceito exista, quem não tem este preconceito? Pelo menos aparentemente, entre as pessoas que não vêem uma prostituta ou uma mulher pelada como pior ou com menos dignidade que as outras mulheres, não estão elas mesmas.

E se a sua mãe ou uma irmã sua fosse prostituta, ou posasse para uma revista pornô, ou fizesse um filme pornô? Ou, você poderia perguntar, se fosse a minha mãe ou uma irmã minha? A idéia por trás da pergunta é que existe algum problema, ou alguma coisa condenável, ou alguma coisa depreciativa nisso. Mas qual é essa coisa?

Vamos supor que seja verdade que prostitutas são reféns de criminosos e agredidas por clientes, que as atrizes pornôs são mantidas em cativeiro, que as mulheres que posam para revistas pornográficas recebem drogas. Pra começar, se uma mulher só faz sexo com um homem se ela for ameaçada, drogada ou casada, ela é lésbica. Mas ela pode estar na prostituição ou na pornografia porque gosta, ou encontrar homens com quem ela gosta de estar? Mas mesmo assim, ela está sempre em alguma situação degradante, como cativeiro ou vício em drogas, ou pode não estar? Se sim, ela pode sair da degradação sem sair da prostituição ou da pornografia? Se não, se a mulher pode escolher os homens, se ela pode ter segurança contra homens agressivos, se ela pode ser respeitada, se ela pode até conseguir um sexo bom para ela mesma, onde está o problema?

Ah, e você deve ter notado na última pergunta que eu pensei na hipótese de uma mulher ser respeitada como prostituta por um cliente, ou como atriz pornô ou modelo erótica pelos colegas homens, pela produção ou pelos homens que vão ver o trabalho. Quem pensou um absurdo é quem não consegue juntar sexo ou heterossexualidade de um homem com respeito a uma mulher com quem ele não é casado. Quem pensa isso ou é um homem que além de débil mental é um infeliz, ou é uma mulher neurótica, além de também débil mental e infeliz. E os dois com problemas sexuais, tanto na idéia que têm do sexo quanto na vida sexual em quantidade e qualidade.

Ah, um momento, nós vemos ex-prostitutas, ex-atrizes pornôs, ex-modelos de material erótico, sim. Uma ou outra, quase sempre em igrejas, e pregando contra a prostituição e a pornografia, dizendo como a vida delas por lá foi horrível. Isso quando não estão ativas no trabalho do Senhor, casadas com um homem da igreja, sem dar um sinalzinho da vida passada. E por que toda coroa que prega contra a prostituição e a pornografia tem cara de quem nunca tocaria um homem na vida se pudesse?

Mesmo que exista um preconceito da sociedade contra prostitutas ou mulheres que fazem trabalhos eróticos ou pornográficos, quem seria melhor pra provar como é estúpido discriminar uma excelente candidata a um emprego de médica só porque ela fez um filme pornográfico do que uma excelente médica que assume que fez um filme pornográfico? Ah, e sociedade não tem homens e mulheres, jovens e velhos, solteiros e casados? De quem essa médica tem de esconder o "passado", dos que gostam de pornografia, e do trabalho dela, ou dos que odeiam a pornografia? Quem seria melhor pra mostrar que uma atriz pornô ou uma mulher que posou seminua para um calendário pode ser inteligente e altruísta do que uma mulher inteligente e altruísta que não tem vergonha de ter sido atriz pornô ou ter posado seminua para um calendário? Quem seria melhor pra mostrar que uma prostituta ou uma mulher que fez fotos nua não é menos respeitável que a sua irmã ou a sua mãe: uma prostituta ou uma mulher que fez fotos nua que não é menos respeitável que a sua irmã ou a sua mãe, ou uma "ex-profissional" que faz pregação de falta de orgasmo disfarçada de ajuda a supostas vítimas do crime organizado?

Saber que a prostituição e a pornografia são quase as únicas possibilidades para homens pobres honestos de ter um sexo razoável ou até de ver um corpo feminino antes dos 25 anos pode ajudar a achar algum sentido nessa coisa toda. Digo homens pobres honestos porque homens pobres bandidos ainda têm mulheres que se oferecem pra eles. A questão que eu gostaria de trazer aqui não é por que, por exemplo, uma stripper é vergonha para a família, mas a ninfeta que se casou com um homem 40 anos mais velho claramente por interesse não é. A questão é por que a stripper age como se tivesse do que se envergonhar e a ninfeta interesseira age como se não tivesse. Ou por que uma garota de 15 anos estufa o peito quando mora junto com um vagabundo, mas uma universitária não quer que descubram que ela posou para uma revista erótica. Ou por que uma atriz finge que ninguém sabe que ela só teve uma carreira de sucesso porque é parente ou foi namorada de alguém famoso ou influente, mas esconde as cenas sensuais que já fez em um filme, ou esconderia se tivesse feito. Uma coisa é a mulher não poder assumir que é prostituta, que está na pornografia, que fez material erótico ou sensual onde isso é ilegal. Outra coisa é ela não assumir como se isso fosse vergonhoso, ou pior, como se isso fosse mais vergonhoso do que o que é vergonhoso de verdade.

A prostituição e a pornografia (embora a pornografia nem tanto) parecem ser os únicos trabalhos em que as pessoas mais qualificadas fogem e as menos qualificadas entram. Que muitas prostitutas não sejam bonitas nem tenham corpos exuberantes, a gente pode até desculpar pela estatística, embora todas as poucas mulheres assim que conhecemos da nossa convivência sejam casadas com babacas possessivos, casadas com otários manipulados que se acham os bons, namoradas de vagabundos ou, digamos, prostitutas não-declaradas. Mas é difícil achar uma prostituta que não seja velha, feia de corpo, viciada em drogas, alcoólatra ou horrível de trabalho. E este último, pelo que eu ouço dos meus amigos homens e por aí, parece padrão, atender de má vontade cobrando o mais caro possível (ou o pior possível pelo preço combinado). Como regra tanto na prostituição quanto na pornografia (onde a qualidade das profissionais é menos ruim), as mulheres entram porque não têm outra opção para conseguir dinheiro, ou para conseguir dinheiro rápido e cair fora rápido. Mas o preocupante é que não é só o universo feminino que trata oferecer sexo para um homem comum, nem que seja em cenas só para ele ver, como uma degradação. O preocupante é que o universo das mulheres da prostituição e da pornografia veja o que faz como degradação, mesmo atendendo homens comuns de bom caráter. Parece que é uma vergonha na visão das próprias mulheres "divertir" homens pobres honestos.

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