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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Notas sobre falsas acusações de crime sexual de homem contra mulher (e um pouco sobre Otávio Mesquita e um homem anônimo de Mateus Leme)

Abigail Pereira Aranha

1) Introdução

O caso da ex-assistente de palco Juliana Oliveira versus o apresentador Otávio Mesquita no mês de março é mais um exemplo do que eu procuro mostrar desde o começo do meu trabalho na internet: o absurdo ou o chocante são sinais e consequências do que é considerado normal. Este caso específico tende mais a ser um tiro no pé da denunciante que um dano para o acusado: denúncia de estupro com quase 10 anos de atraso, a gravação em vídeo do crime que não existiu está circulando na internet e clichês de lesbofeminista chata que, além de lesbofeminista, é africanista (logo, mais chata ainda). Ou a Juliana vai voltar pro esquecimento menor do que saiu, ou a máquina progressista, tentando aproveitar o caso, vai levar mais homens a evitar mulheres em relacionamentos interpessoais em geral, não só para sexo.

Dois erros um tanto simétricos foram comuns neste caso e em outros casos recentes de falsa acusação de crime sexual (de homem contra mulher): o primeiro erro, do lado lesbofeminista progressista, é o de que o homem vítima de falsa acusação é inocentado daquilo que não fez por ser rico e homem (geralmente branco); o segundo erro, de alguns dos chamados "red pill", é o de que quando casos como este atingirem homens do topo da sociedade, incluindo políticos ou seus familiares, algo vai melhorar. O erro nestes raciocínios, especialmente no segundo, é que é exatamente por ser privilegiado ou ter alguma visibilidade social que um homem atrai as piores falsas acusações (porque elas sempre são feitas para ganho financeiro ou destruição de reputação); e também nas duas linhas de raciocínio, mas especialmente na primeira, o erro de concluir que um homem pode ser inocentado de acusação de crime sexual por ser homem é que ele não seria acusado se não fosse homem. E aí, novamente, o mal aceitável entre a população geral gera o caso particular do mal escandaloso. Mas que mal aceitável?

Bom, eu já observei o caso com essa visão desde o começo, mas você pode não ter se dado conta disso mesmo com o que eu expliquei há pouco. Aí me veio no mesmo dia em que eu vi as primeiras notícias, na seção de notícias aqui do Opera do meu celular, um caso de menos de 10 dias antes: um homem foi morto acusado de estupro em Mateus Leme, uma cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. O caso foi noticiado no jornal O Tempo, de Belo Horizonte, e na própria reportagem a mulher disse que o sexo foi consensual, apesar de que uma testemunha disse que ela disse ao marido (um dos autores do homicídio) que não foi. Este foi um caso entre anônimos e não deve render muito mais matérias jornalísticas, mas até este foi atípico: um caso de falsa acusação de crime sexual (de homem contra mulher) que foi descoberto, noticiado e, aparentemente, até punido juridicamente como falsa acusação. Então, eu vou desenvolver as minhas observações que eu já fazia sobre aquele caso mais famoso pedindo a sua atenção para aquele caso menos conhecido.

2) É uma questão de liberdade antissexual da mulher

O que levou várias mulheres a acusar homens de estupro ou assédio sexual em denúncias falsas com poucas provas ou sem provas é essencialmente a mesma coisa que animou homens anônimos do povo a agredir ou matar outros homens culpados ou acusados desses crimes contra mulheres: a ideia de que estes crimes são dignos da pior punição possível. Ou, mais exatamente, a ideia de que contra o sexo e a heterossexualidade masculina, valem as piores censuras, represálias e penalidades possíveis.

Não basta que as mulheres em geral tenham corpos e rostos semimasculinos, vozes cacofônicas e comportamentos desestimulantes (inclusive sexualmente): o contato de um homem com uma exceção, uma mulher com alguma feminilidade, precisa ser disciplinado na melhor das hipóteses ou criminalizado na pior, não só no aspecto (heteros)sexual, mas especialmente por causa dele. Dada a demonização do sexo que foi terrível até meados do século XX (e eventualmente, a demonização da mulher que é fisicamente agradável, comportamentalmente atrativa e sexualmente disponível aos homens), é quase um mistério pra mim que uma mulher tivesse filhos suficientes para a população não parar de crescer. Pra você também?

O combate à violência sexual não é para dar à mulher o direito de recusar sexo com um homem específico, nem para defender uma propriedade de um homem, como argumentam alguns esquerdistas; é para dar às mulheres o status social para limitar a heterossexualidade do universo masculino à sua própria libido ridiculamente baixa. Ops! Eu transei com 352 homens! Quando eu conto a minha experiência, alguns dizem que eu sou fake de homem inventando estórias, outros dizem que eu sou ninfomaníaca, outros dizem até que eu sou feminista. Mas eu sou só uma mulher normal (uma mulher hétero com certa integridade moral e mental).

Mas se o LGBT-Feminismo progressista é o contrário da sociedade católico-protestante da primeira metade do século XX, vamos observar que o contrário (e também a negação) de A e B não é, necessariamente, não-A e não-B, pode ser A e não-B ou pode ser B e não-A. Nós vimos no episódio da Juliana que se a moralidade tradicional de fundo cristão ataca a heterossexualidade, o Feminismo Hétero nem sempre a defende (eu estou quase inventando o termo aqui, não existe um Feminismo Hétero como existe um Feminismo Gordo ou um Feminismo Negro).

3) Ser mulher é o que uma mulher quiser, menos ser mulher

Os direitos antissexuais da mulher, tanto os que ela ganha quanto os que ela reivindica, vêm de um outro direito que ela também ganhou: o de oferecer menos que o mínimo em troca do máximo de todos. Homens aterrorizados e mal formados pela figura materna trabalharam nisso ao longo da História, contentando-se com mulheres semimasculinas cumprindo porcamente um papel reprodutivo e de criação de filhos.

Estes homens ainda conseguem reconhecer e se deliciar com a feminilidade física ou comportamental de uma mulher quando conseguem encontrá-la diante deles. Então, a união de homens amestrados e mulheres sem atrativos físicos ou de mentalidade promove a vilificação da mulher com corpo feminino ou atitudes femininas, assim como a vilificação da heterossexualidade masculina; daí, assim como a mulher sensual ou "oferecida" é desprezada ou (literalmente) demonizada, o homem que manifesta sua heterossexualidade diante de uma mulher (mesmo semimasculina) é "inconveniente". Isso parece o básico das boas maneiras, mas se um homem não me disser que gostou de mim, como ele vai me comer? E se ele me fizer a proposta e eu não disser "sim" ou se eu mesma não fizer a proposta pra ele, como ele vai me comer? Bom, eu não considerei a hipótese de eu fazer a proposta a um homem e ele me dizer "não" porque isso é exceção, mesmo que isso esteja ficando cada vez mais comum porque o homem não se sente seguro ou tem uma certa raiva daquela mulher ou do universo feminino em geral. E sim, eu já recebi dezenas de "não" de homens do meu dia-a-dia. Mas já dei também, e muito mais. Ops! Eu dei centenas de "não", mas já dei centenas de "sim" também.

Enquanto a diferença entre uma mulher em um ambiente predominantemente masculino e um homem neste ambiente é esta mulher fazendo uma imitação caricatural dos homens, está tudo bem para progressistas e conservadores. Mas se a diferença (ou uma das diferenças) é esta mulher não esconder curvas visivelmente distintas do corpo masculino ou ter uma postura positiva para a aproximação masculina, as mulheres conservadoras podem tratá-la como pecaminosa e as mulheres lesbofeministas podem tratá-la como uma mulher que se objetifica.

Para a mulher conseguir direitos como mulher ou para conseguir algo que o homem tem sendo mulher, ela parte de alguma diferença entre mulher e homem. Se a igualdade da mulher em relação ao homem é algo a ser buscado, é porque mulheres e homens são diferentes, mesmo se a causa da desigualdade for uma construção social como argumentam os esquerdistas (afinal, a diferença que é usada na discriminação deve existir antes da própria discriminação). E para que a igualdade ou a desigualdade entre homens e mulheres possa ser percebida, é preciso que homens e mulheres sejam distinguidos. E qual é a diferença entre homem e mulher? Bom, a diferença é cromossômica, mas se manifesta principalmente nisso que você pensou. Então, não é por acaso que quando se fala em mulheres conquistando ou tentando conquistar espaço em ambientes predominantemente masculinos, é comum que um dos assuntos ou um dos tipos de experiências relatadas seja relacionado ao sexo, como assédio sexual ou olhar sexual vindo dos homens. Também não é por acaso que não é incomum que mulheres que dão falsos relatos de assédio sexual ou falam de objetificação da mulher na sociedade (o que sempre é falso) sejam de beleza medíocre e corpo semimasculino: essas mulheres fazem uma imaginação louca da atratividade que lhes falta. E as duas coisas não são por acaso porque, enquanto elas apontam para um distintivo feminino, elas sabem, ao contrário do que as lesbofeministas dizem, que os homens em geral estão prontos para protegê-las da demonstração da heterossexualidade masculina.

4) Uma introdução sobre a origem das falsas denúncias de crimes sexuais, com algumas notas sobre a Virgem Maria e o combate à sexualidade

Quando uma falsa acusação de crime sexual feita por uma mulher contra um homem é descoberta e exposta publicamente como tal, nós costumamos ouvir uma ou duas mulheres feministas e até alguns antifeministas conservadores (homens e mulheres) dizendo que esta denúncia falsa prejudica as vítimas dos casos similares verdadeiros. Mas por que mais pessoas conservadoras se preocupam com este desserviço lesbofeminista que o próprio movimento lesbofeminista? Dizer que o movimento LGBT-feminista tem uma força motriz própria que não tem relação com demandas reais das mulheres e das lésbicas do povo de verdade é só parte da explicação, e até esta parte sinaliza para o ponto principal: a sociedade que é chamada pelos esquerdistas de tradicional, conservadora, patriarcal, etc é mais um alicerce que faz o movimento ser possível que uma estrutura com a qual ele não é viável. O Movimento de Direitos Humanos dos Homens e Meninos precisa mais de mudanças na sociedade que o movimento LGBT-feminista. Vou explicar melhor pegando este assunto das denúncias de crimes sexuais (de homem contra mulher) e o assunto da heterossexualidade.

O menino é ensinado a defender e a reverenciar as mulheres a partir da figura da mãe, o que só é ignorado pelas lésbicas psicóticas que falam em "cultura do estupro". E falando em reverência, o maior ramo do Cristianismo, o Catolicismo Romano, tem uma cópia mal feita da deusa Semíramis como a mãe virgem do Filho de Deus; e isso é uma imagem rápida da combinação da aversão ao sexo com a veneração da figura feminina. E a aversão ao sexo é especialmente do universo feminino. Se as mulheres são e eram ligeira maioria entre os católicos, isso vem de elas serem igualmente ligeira maioria da população total, especialmente quando uma pessoa quase não tinha a permissão de não ser católica; mas as mulheres tendem a ser mais devotas que os homens. Esta dedicação também acontece nos outros ramos do Cristianismo, mas chamo a atenção para a Igreja Católica Apostólica Romana por causa da figura da deusa mãe virgem. Somos levados a crer que para a mulher católica, a Virgem Maria é um ídolo. Bom, os evangélicos acreditam que a Virgem Maria é um ídolo, mas eu digo "ídolo" no sentido das celebridades do setor de artes e entretenimento.

E vamos observar que se o Catolicismo Romano trouxe pelo menos uma divindade feminina do Paganismo, trouxe uma deusa mãe virgem; não uma deusa notável pela beleza e pela heterossexualidade como Afrodite, que tinha festivais para receber homenagens por isso (ops!). Os cultos com orgias e prostituição sagrada no Império Grego e no Império Romano deviam ser só para a elite, porque aquilo também era para invocar fertilidade nas terras e nas criações de animais. Mas o Catolicismo Romano foi feito para ser religião anestésica de plebeus fracassados, a Igreja Católica Apostólica Romana foi feita para ter uma membresia miserável, feia, analfabeta e infeliz, como era há uns 60 ou 100 anos ou como é a das igrejas neopentecostais hoje. E uma igreja de miseráveis tem uma teologia miserável, uma igreja de fracassados tem uma teologia de fracasso, uma igreja de pessoas apequenadas tem uma teologia apequenada. E na casa da miséria, do fracasso, da pequenez de espírito e da feiura, há inveja e doença mental, que inclui o horror ao que é belo, elevado, grande e firme. Ops! Assim, com uma pérola que me permite ser vista como uma depravada ninfomaníaca, eu voltei à questão do terror com a aproximação masculina.

E foi neste contexto que o menino recebeu sua educação. A educação formal na escola pública também, mas especialmente a educação no ambiente doméstico e na sua vizinhança. É neste contexto que o menino aprende sobre o que ele supostamente é e sobre como uma mulher medíocre (incluindo a mãe dele) deve supostamente ser tratada. Não faz muito tempo, a grande maioria dos cristãos do mundo era de católicos (eram 90% ou mais da população do Brasil, por exemplo). Então, o crescimento do percentual de protestantes e evangélicos não prejudicou muito, e nem prejudicará, a imagem da mulher plebeia de terras periféricas que foi a mãe virgem do Filho de Deus, ou a imagem do sexo como o pecado original; assim, o Cristianismo como um todo sempre vai preservar a ideia de que a heterossexualidade é um pecado capital que justifica até pecados menores contra ela, como a ira, a censura e o linchamento.

5) As falsas acusações de crimes sexuais de homem contra mulher prejudicam mais o Conservadorismo que o Feminismo

Volto à fala dos homens conservadores antifeministas e das mulheres conservadoras antifeministas de que as mulheres feministas que fazem denúncias falsas de crimes sexuais contra homens prejudicam as vítimas de crimes similares verdadeiros. Esta fala mostra que os conservadores querem que estas denúncias sejam levadas a sério como verdade autoprovada, mas algumas mulheres loucas desastradas estragam tudo. Os conservadores acusam a militância lesbofeminista de os homens estarem cada vez menos se casando e cada vez mais evitando proximidade com mulheres, por causa da facilidade de acusar um homem de assédio sexual, importunação sexual ou estupro. Estes conservadores, especialmente as mulheres conservadoras, estão dizendo isso porque a merda fedeu, mas só começaram a se manifestar, praticamente todas, no fim da Terceira Onda do Feminismo, que durou do começo dos anos 1990 até 2012. Quando o antifeminismo começou a se manifestar, este cometeu duas grandes falácias que podem ser explicadas pelo interesse próprio de esconder a colaboração do denunciante com a coisa denunciada. A primeira falácia é expor as bizarrices político-jurídicas em nome da mulher e casos abomináveis do universo feminino considerando apenas a Quarta Onda do Feminismo, retrocedendo no máximo até o fim dos anos 1960, quando começou a Segunda Onda do Feminismo, como se antes estivéssemos na Terra Prometida. A segunda falácia é, além de culpar a militância feminista, acusar as mulheres feministas de uma liberalidade heterossexual muito maior do que a que elas têm (sem deixar de acusá-las de promover a homossexualidade e de tratar a aproximação do homem como crime sexual) e, nessa liberalidade, abrir a bo... a caixa de Pandora.

Está certo que as mulheres feministas não se parecem com a mulher do povo de verdade, tanto nos erros de umas quanto nos acertos de outras, e nem parece que a militância feminista tem contato com mulheres normais. Mas por que não aplicar, então, aquela frase de Napoleão Bonaparte, "nunca interrompa seu inimigo enquanto ele estiver cometendo um erro"? Porque os erros do LGBT-Feminismo vêm dos erros do Conservadorismo. Um sinal disso é que se a mulher feminista radical não é segura para um homem se aproximar, a mulher conservadora antifeminista não parece melhor o suficiente para um casamento.

A mulher mediana de hoje pode não ser uma lesbofeminista, mas não é visivelmente diferente. Ela não é visivelmente uma mulher com o caráter suficiente para não acusar falsamente um homem de crime sexual, e talvez ela possa mesmo entender um assédio sexual ou uma importunação sexual onde eles não existiram. Esta mulher com quem talvez se possa manter um contato formal como colega de trabalho, atendente de comércio, cliente ou vizinha não será uma mulher com quem um homem pode pensar em se casar e ter filhos. Isso mesmo se ela se mostrar uma devota cristã.

Nisso, nós teremos (aliás, já temos agora) uma baixa do número de casamentos e uma baixa do número de filhos por mulher. Isso sinaliza para o fim dos sonhos conservadores de muitas mulheres de uma sociedade ainda de maioria nominalmente cristã, sonhos como se apoiar em um marido que ganha bem. Mas a própria sociedade conservadora fica abalada. Uma população produtiva esgotando dinheiro e tempo fora do trabalho para cuidar de uma grande parcela de idosos é um dos problemas. Um outro possível problema é ter uma vida de competência profissional e integridade moral atrapalhada por uma falsa acusação de crime sexual ou pelo suporte a um homem próximo que foi acusado. Mais um problema, que vem deste, é a crise moral geral, com a impressão ou a percepção, de um lado, de que a honestidade e o mérito não têm o valor que deviam e, do outro lado, de que é possível ascender na vida profissional ou na posição socioeconômica sem qualidades técnicas ou intelectuais à altura. E mais um problema, agora para os cristãos conservadores: suas igrejas vão acabar como comunidades e, antes disso, no sentido moral. Já foi reconhecido por vários escritores cristãos, já no século passado, que o que as igrejas cresciam parcamente na época era com os filhos dos membros; e vários escritores cristãos, ainda no século passado, denunciaram o que várias igrejas toleravam ou chamaram para dentro para crescerem numericamente ou não perderem muitos membros, e isso incluiu o Feminismo; e fora das igrejas, a pose de que a igreja é baluarte moral já não convence mais. Tudo isso sem o problema das falsas acusações de crimes sexuais e sem o medo, dos homens, de estas falsas acusações acontecerem dentro das igrejas (igrejas no sentido de comunidades); mas sem a reputação de que estas falsas acusações não venham a ser frequentes em breve ou que não sejam frequentes agora, ou que, mesmo sem elas, valha a pena se casar com uma "mulher de Deus".

O Cristianismo e o Conservadorismo criaram os homens capazes de agredir ou matar o consorte que teve uma postura não autorizada com uma mulher, e com isso criaram a casa do Feminismo que faz denúncias falsas de crimes sexuais de homens contra mulheres. Agora, os conservadores precisam limpar a porcaria que fizeram sem ir pra lixeira junto. A esquerda, dona do LGBT-Feminismo atual, conseguirá se salvar da porcaria que aproveitou já pronta ou que ela mesma produziu, tanto ouvindo as mulheres do povo de verdade quanto reprimindo-as com o poder que veio com as ondas do Feminismo.

Apêndices

"Otávio Mesquita rebate acusação de estupro por ex-humorista do SBT". Splash, UOL, 27 de março de 2025. Disponível em https://www.uol.com.br/splash/noticias/2025/03/27/otavio-mesquita-rebate-acusacao-de-estupro-por-ex-humorista-do-sbt.htm

Otávio Mesquita rebate acusação de estupro por ex-humorista do SBT

De Splash, no Rio

27/03/2025 20h14

Otávio Mesquita usou o Instagram para se pronunciar sobre a acusação de estupro por Juliana Oliveira, ex-assistente de palco do The Noite, durante gravação da atração de Danilo Gentili, em abril de 2016.

O que aconteceu

Mesquita diz estar "muito triste" ao ser surpreendido com uma acusação de estupro. Ele chama o que motivou a denúncia de "brincadeira" combinada com o elenco do programa.

Esse programa foi o ar há, repito, há quase 10 anos, né? E nesse período todo não houve nenhum registro de desagravo ou reclamação. Nem mesmo no dia da gravação houve alguma reclamação ou pedido, que alguém falasse: "Ah, não quero que isso vá para o ar, que essa brincadeira não fosse exibida". Isso é absurdo, né? Aliás, sinto muito se essa cena combinada com o elenco do programa foi mal interpretada, né?.

- Otávio Mesquita

Juliana Oliveira abriu representação criminal no MP-SP (Ministério Público de São Paulo) contra Otávio Mesquita por estupro. Humorista foi assistente de Danilo Gentili por 11 anos e alega que foi alvo de atos libidinosos sem consentimento. No programa disponível no YouTube, é possível ver Juliana Oliveira sendo tocada nos seios após a chegada de Otávio Mesquita, que ingressa ao palco de ponta-cabeça, pendurado por um cabo.

Em contato com Splash, a defesa de Juliana alega que a jurisprudência atual aponta que "a prática de atos libidinosos configura estupro", ainda que não haja penetração. No vídeo, enquanto Juliana tenta retirar os equipamentos de segurança de Mesquita, ele a segura e simula movimentos de sexo.

Leia o pronunciamento na íntegra:

"Pessoal, seguinte, sempre venho aqui com felicidade alto-astral que vocês conhecem, né? Mas hoje eu estou realmente muito chateado, muito triste, aliás, bom, todo mundo sabe que fui surpreendido com uma acusação de estupro, gente. Olha que loucura isso. Eu demorei para entender tudo do que se tratava, no fim percebi que esta acusação era sobre uma brincadeira na abertura do programa do Danilo Gentili que foi tudo combinado aí de uma maneira informal, onde eu participei, aliás, como convidado, em 2016. Olha isso, o tempo que foi isso, mas enfim", iniciou.

"Esse programa foi o ar há, repito, há quase 10 anos, né? E nesse período todo não houve nenhum registro de desagravo ou reclamação. Nem mesmo no dia da gravação houve alguma reclamação ou pedido, que alguém falasse: "Ah, não quero que isso vá para o ar, que essa brincadeira não fosse exibida". Isso é absurdo, né? Aliás, sinto muito se essa cena combinada com o elenco do programa foi mal interpretada, né?

Mas enfim, mas eu digo para vocês, nunca, nem perto de ser tratada como estupro, crime gravíssimo. Isso não. Aliás, tomarei as medidas aqui para defesa da minha honra e também da minha família, né? Porque afinal de contas, lembrei, aliás, inclusive, para jornalista que publicou essa matéria, o fato de que a minha ex-mulher na época, olha isso gente, ela estava na plateia com o meu filho. Como é que eu ia fazer uma bobagem dessa, né?

Tudo foi ao ar há quase 10 anos e hoje nasce aí essa essa acusação caluniosa contra mim, gente. Que absurdo isso, né? Então, sinto muito, se exagerei na brincadeira, agora vendo o vídeo com o olhar dos tempos atuais, sei que não repetiria isso, né? Porque naquela época podia brincar muito, mas enfim. A distância entre o que aconteceu no palco e um estupro é gigantesca mesmo, é absurdo isso.

Bom, encaminhei o problema aqui para os meus advogados e confesso a vocês que vou manter vocês todos informados disso que aconteceu, que lamento mesmo, mas você sabe quem é o Otávio Mesquita ao longo desses 65 anos de idade, 40 quase de televisão, que sempre fui uma pessoa muito brincalhona e sempre respeitei todo mundo, nunca tive nenhum processo, mas agora tô meio chateado".

"Idoso é morto após ser flagrado na cama com mulher casada na Grande BH". O Tempo, 19 de março de 2025. Disponível em https://www.otempo.com.br/cidades/2025/3/19/idoso-e-morto-apos-ser-flagrado-na-cama-com-mulher-casada-na-grande-bh?dicbo=v2-J5exelc

Idoso é morto após ser flagrado na cama com mulher casada na Grande BH

Inicialmente, marido e irmãos da mulher foram informados sobre estupro, mas após idoso ser morto, ela contou que relação foi consentida

Por Lucas Gomes

Publicado em 19 de março de 2025 | 07:56

Um idoso de 61 anos foi morto com 10 facadas no peito e ainda teve a mandíbula quebrada na tarde dessa terça-feira (18 de março) em Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte. O crime aconteceu após o idoso ser flagrado nu com uma mulher casada no bairro Jardim Serra Azul. O caso circulou no bairro como um suposto estupro, versão desmentida pela mulher após o homicídio.

O corpo do idoso foi encontrado caído na alameda Ipê Roxo com várias perfurações. A perícia indicou que o homem teve a mandíbula quebrada, provavelmente por um soco forte, e que os ferimentos foram causados por uma faca com lâmina grande.

A Polícia Militar (PMMG) foi acionada e foi informada, inicialmente, que o crime teria sido motivado por uma rixa do idoso com um suspeito por desentendimento em data passada. Esse suspeito estava na companhia de outro homem, que apesar de apresentarem nervosismo, foram encaminhados para a delegacia, mas liberados posteriormente.

Durante o registro do boletim de ocorrência, a polícia foi informada que instantes antes do crime a vítima estava em um bar com uma mulher e outro homem. O dono do bar relatou que, depois, outros dois homens chegaram e foram atrás do idoso depois de ele ir embora.

Boatos apontam suposto estupro

Nas proximidades da casa da mulher, uma testemunha contou que o idoso teria mantido relações sexuais com a vizinha, mas que a mulher teria dito ao marido que foi estuprada. Na casa da mulher, os militares conseguiram ouvir o marido ameaçar o filho, dizendo que a criança “estava inventando história e queria que ele morresse”. O menino, de 10 anos, estava assustado com a ameaça do pai, momento em que os militares chamaram no imóvel e foram recebidos pelo suspeito.

A criança estava com a boca sangrando e tinha um pano para estancar o sangramento. Durante a ocorrência, o homem deu três versões para o machucado da criança, mas ele acabou preso por tortura contra o filho. Ele chegou a dizer que a criança levou um soco na boca na escola, depois que o menino sangra quando faz sol, sendo que estava à noite e chovendo, e por fim disse que houve um acidente doméstico.

Sobre o homicídio, o homem disse desconhecer o fato e que a mulher saiu com os irmãos para buscar pinga. Ele entrou em contradição várias vezes sobre um ferimento que tinha no rosto e ficou bastante nervoso quando os policiais perguntaram sobre o suposto estupro.

A mulher foi encontrada no bairro com os irmãos. Uma faca de 22 cm foi encontrada na cintura dela. Apesar de o objeto aparentar ter sido lavado, ainda foram encontrados pontos de sangue. A mulher e um irmão relatou que não sabiam nada sobre o homicídio.

Mulher garante relação consensual

Outro irmão, entretanto, relatou aos policiais o que teria ocorrido. Segundo ele, uma sobrinha contou para os tios que “um velho estaria abusando da mãe dentro de casa”. Os irmãos foram até a residência da mulher e encontraram ela e o idoso nus. Houve uma discussão, o idoso chegou a ser agredido e, ao ser mandado embora, pediu para não fazerem covardia com ele.

Depois, todos foram para a rua e fizeram uma emboscada contra o idoso. O marido da mulher deu um soco no rosto do idoso e deu chutes na vítima com a ajuda de um cunhado. O marido da mulher pegou a faca da mão do cunhado e desferiu cinco facadas no tronco do idoso, em seguida o cunhado deu mais três golpes na vítima. O outro irmão contou aos policiais que não concordou com a ação e pediu para os suspeitos pararem.

Após o crime, todos foram para a casa da mulher, que lavou a faca e começaram a beber. Durante a bebedeira, a mulher contou ao marido que não foi estuprada, mas que manteve relação com o idoso com total consentimento, o que gerou uma briga entre o casal.

O Conselho Tutelar foi acionado, uma vez que o casal tem quatro filhos, que ficaram sob a guarda da vizinha. A mulher, os dois irmãos e o marido foram presos por homicídio. O marido ainda foi preso por tortura contra um filho, uma vez que há indícios que ele espancou a criança.

Texto original em português sem vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "Notas sobre falsas acusações de crime sexual de homem contra mulher (e um pouco sobre Otávio Mesquita e um homem anônimo de Mateus Leme)", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/05/notas-sobre-falsas-acusacoes-de-crime.html
Texto original em português com vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "Notas sobre falsas acusações de crime sexual de homem contra mulher (e um pouco sobre Otávio Mesquita e um homem anônimo de Mateus Leme)", https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/05/notas-sobre-falsas-acusacoes-de-crime.html

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Introdução à psicanálise textual de brasileiros - parte 4

Abigail Pereira Aranha

01) Introdução - parte 1: notas sobre a linguagem humana

A introdução é repetida em toda a série. A numeração dos subtítulos é sequência desde a parte 1. Os atalhos diretos dos subtítulos estão nos números.

Com as honrosas exceções de nível mental humano, o que um brasileiro fala ou escreve não deve ser ouvido ou lido, mas examinado. Na linguagem humana, o mundo real é a referência e o assunto principal. Um dos casos em que isso pode ser diferente é a função metalinguística da linguagem, em que a linguagem se refere a elementos dela mesma. Um outro caso é de objetos em ciências abstratas, como Lógica e Matemática. Um outro caso é o de objetos ainda não existentes, mas previstos, como em projetos de engenharia. Mas em geral, o mundo real não é apenas referência da linguagem, também é referência do universo interior do ser humano. A partir do mundo real externo, o homem molda o que pensa, o que sente e o que faz (eu usei a palavra "homem" no sentido de ser humano, para incomodar alguma lesbofeminista que está lendo, hua, hua, hua, hua, hua). No Brasil, a linguagem humana é exceção. Não são só as falas que têm grande limitação intelectual, limitação de vocabulário ou até limitação geográfica. A própria ideia de que a linguagem usada por seres humanos possa ser mais abrangente e mais elevada que isso parece uma ideia alienígena no Brasil. Eu tenho uma tese para explicar por que isso acontece no Brasil de uma forma particular mais horrorosa, mas vou deixar essa minha parte para o final porque eu vou tentar evitar que essa explicação comprometa o entendimento da minha descrição do fenômeno em si, e também porque o assunto principal aqui não é essa origem histórica (ops!).

Para o leitor estrangeiro, eu desenvolvo a exposição a partir da experiência do Brasil não só porque eu sou brasileira e nunca saí do Brasil, também faço isso como uma espécie de alerta. Se o leitor é de um país desenvolvido, talvez eu mostre um aspecto insano da vida nacional brasileira que está menos longe de se reproduzir no seu país do que se imagina. Se o leitor é de um país ainda mais pobre economicamente que o Brasil, eu vou deixar mais claro que ter um dos 10 maiores PIB's do mundo pode não ser um reflexo da grandeza do país.

Dado que os brasileiros comuns não dominam a linguagem humana no sentido de linguagem associada com o mundo real, eles dão um status superior ao próprio universo interior subjetivo, especialmente o universo emocional, e ao universo verbal próprio. Estes universos interior e verbal podem ser moldados por aqueles a quem esses brasileiros comuns atribuem autoridade, como "a ciência" ou o governo de esquerda. Então, se você é uma pessoa normal e vai interagir com uma pessoa brasileira, você precisa verificar primeiro que essa pessoa não é doente mental; segundo, que essa pessoa não é semianalfabeta; terceiro, que essa pessoa não é de mau caráter. Tentar interagir com essa pessoa sem verificar isso é um risco de conversar com uma pessoa com um destes defeitos ou um risco de cair numa armadilha de manipulação psicológica. Uma interação semelhante a uma conversa com um intercâmbio de ideias ou de informações será a disputa da fala de um ser humano de mente normal contra a logorreia de um desequilibrado mental semianalfabeto (ou, com sorte, contra uma pessoa farsante).

Apesar de esta exposição ser sobre falas e escritos (e um tanto sobre comunicação de outras formas), a abordagem não é sobre debate de ideias, não é sobre a vida universitária, não é um rascunho de observatório de imprensa e nem mesmo sobre a vida em cidades grandes. A questão é a linguagem oral e escrita do brasileiro comum. Mais exatamente, a manifestação de algo que está acima (ou melhor, abaixo) da expressão de ideias mesmo no que devia ser conversa sobre assuntos grandes.

A diferença de raciocínio e de habilidade de expressão em língua culta que existiu no passado entre o brasileiro médio e a, digamos, elite falante diminuiu muito e está cada vez menor. Não porque o nível do povão está aumentando, e nem tanto por causa da popularização da internet que traz mais popularização da expressão de ideias e da circulação de informações e conhecimentos; mas principalmente porque essa elite falante e a elite em geral está ela mesma se aproximando do povo medíocre quando não está recebendo alguns indivíduos desta parte da população. Sim, eu me refiro às cotas sociorraciais e as cotas para mulheres. Ah, mulheres de verdade! Também existe aqui e ali uma cota LGBT ou alguma preferência de seleção para LGBT para cargos públicos, mas essa parte da população é minoria. Em qualquer país da América, as mulheres são cerca de metade da população e os não-brancos são, se não maioria, uma parte considerável. Portanto, em um país destes (não só no Brasil), a simples preferência por uma mulher ou um não-branco para uma vaga em posição de destaque é a promoção da mediocridade. Mas isso é uma particularidade recente, e até isso mostra, hoje com mais clareza, que uma coletividade não pode ter uma elite virtuosa e um povo néscio, ou uma elite inteligente e amante da sabedoria ao lado de um povo inculto e animalesco.

E isso que eu disse pode levar alguns leitores a me encaixarem na "extrema direita" e na "elite branca". E até isso tem a ver com o assunto que eu estou introduzindo aqui. Sim, eu sou uma mulher branca, sem vergonha. Ops, sem vergonha de ser branca, mas também me chamam de sem vergonha com razão.

02) Introdução - parte 2: notas sobre o analfabetismo

Analfabetismo é o desconhecimento da associação dos signos da linguagem humana entre si e com a realidade. Signo é a "ligação associativa entre o significado e o significante: signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Significante é a "imagem acústica ou manifestação fônica do signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Não saber ler ou escrever na língua nativa é só a imagem caricata do analfabetismo. Outro aspecto caricato é essa situação na língua nativa (fora os idiomas que não têm escrita). Chamo a sua atenção para que eu mencionei a linguagem humana, não a língua nativa, porque um imigrante que desconhece o idioma do país onde está não é considerado analfabeto, exatamente porque este imigrante pode, a partir do conhecimento do idioma nativo, aprender o idioma local. O aprendizado é mais difícil se o idioma local e o idioma nativo do imigrante usam alfabetos diferentes, como o latino e o grego, ou se um deles ou ambos são ideográficos, como o mandarim. Mas os idiomas em geral são aplicações da linguagem humana, que associa signos e significantes a objetos do mundo real. Por isso é possível o dicionário bilíngue, porque os signos de cada idioma se associam a um mesmo objeto extralinguístico, ou, numa função metaliguística, têm funções equivalentes em seus respectivos idiomas. E isso não desaparece quando uma palavra não tem uma palavra ou uma expressão correspondente no outro idioma, e é incorreto dizer que a palavra não tem tradução: a palavra tem significado, e o significado é traduzível.

Mas o analfabetismo não é exatamente o resultado da opressão socioeconômica. No máximo, foi uma obra repressiva de reinos passados (incluído o reino da Igreja Católica Apostólica Romana) da qual algumas pessoas amantes da verdade tiveram dificuldades para escapar. O analfabetismo é em primeiro lugar, mesmo nestes contextos, uma deficiência mental e moral, o desprezo ao que é superior, ao que é grande, ao que é duradouro, à comunhão com a verdade. Como consequência, desprezo à linguagem humana. Não é por acaso que a divisão entre Pré-História e História foi a invenção da escrita, nem que os primeiros usos da escrita foram feitos por povos desenvolvidos (a escrita foi um meio para o desenvolvimento intelectual e cultural, do qual uma das consequências foi a prosperidade econômica e outra foi mais aplicação da escrita). Para produzir o esquecimento disso, corre este discurso de que o analfabetismo é obra maligna dos ricos, em vez de pequenez de outros pobres que estes impõem aos outros sempre que podem. Nós tivemos no passado analfabetos denunciando alfabetizados à Inquisição, nós temos no Brasil do século XXI moradores de favelas tratando outros moradores que lêem livros como esquisitos.

Para os analfabetos e os semianalfabetos, o universo verbal pode ganhar uma vida própria independente da realidade ou pode ser o próprio mundo real. Para estes, a parte mais sofisticada da linguagem fica reduzida a gatilhos emocionais e extravasões emocionadas. Ah, e os analfabetos e os semianalfabetos entendem a linguagem animal, que é a linguagem como voz de comando ou como produtora de impacto no receptor, como o máximo da linguagem humana, porque esta linguagem tem efeitos "rápidos" e "práticos". A frase "as palavras têm poder" é uma ideia de analfabetos e semianalfabetos, porque as palavras foram feitas para serem SOBRE a realidade, não PARA ela. A magia é analfabetismo aplicado. Eu até poderia demonstrar essa frase com dados conhecidos, mas eu posso ser presa.

Dois efeitos comuns do analfabetismo e do semianalfabetismo são confundir aspectos da realidade muito diferentes só porque lhes foram dados nomes parecidos ou o mesmo e o contrário, não perceber semelhanças entre aspectos da realidade semelhantes ou interligados só porque lhes foram dados nomes diferentes. E aqui eu usei a voz passiva. Os nomes "foram dados" por quem? Quem tem ideias de esquerda tem uma lista de quem domina a comunicação de massa, a cultura, a política e a educação; quem tem ideias cristãs conservadoras tem outra lista. Mas no geral, cada indivíduo desta lista tem as mesmas características essenciais, como dominar o idioma (no sentido de conhecimento), ter recursos materiais para conseguir seus objetivos, ter habilidades para usar estes recursos e ter um conhecimento do indivíduo médio do público-alvo. E na linguagem, podemos adaptar aquela frase de Arnold Toynbee sobre política: os que não se interessam pela linguagem serão governados pelos que se interessam. Mas aqui, o desinteresse pela humanidade da linguagem é uma tentativa de domínio político pelo semianalfabeto comum, que serve ao poder de quem o governa.

E visto que o analfabetismo e o semianalfabetismo são a conexão precária entre a fala e a realidade, não apenas o analfabeto e o semianalfabeto têm uma barreira para entender o que é falado a eles, eles também descrevem muito mal a eles mesmos pelo que eles falam, se as palavras forem interpretadas pelo uso de pessoas mentalmente normais. Porque o objeto mais feio que o analfabeto e o semianalfabeto têm para descrever pela linguagem é a sua própria pessoa, feio demais para ser descrito pela linguagem saudável sem comprometer a autoestima. Daí a proposta desta exposição é examinar as falas do brasileiro típico, que geralmente é semianalfabeto mesmo quando tem um nível de instrução superior, pelo que elas manifestam, não pelo que as palavras deles dizem se forem interpretadas no uso culto do idioma.

13) Psicanálise verbal e textual - parte 11: Ser vítima de inveja e perseguição

Aí é clara a negação louca da realidade: toda pessoa que diz que é vítima da inveja de quem está ao redor ou da perseguição do Inimigo é pobre f@£%da. Você já viu um adesivo "sua inveja é a velocidade do meu sucesso" num Uno Mille que passa a noite na frente da casa na rua de menos de 7 metros de largura? Eu já vi.

A pessoa se dizer vítima de inveja e perseguição é uma mistura de linguagem fragmentada, pânico do próprio fracasso e projeção inversa da própria insignificância, e um sinal disso é esta pessoa buscar proteção contra a inveja e o mau olhado, tanto com amuletos quanto com o que chama de fé em Deus. Primeiro porque a pessoa não pode dizer por que é tão invejada e perseguida, a não ser, no máximo, por parecer menos fracassada perto da sua vizinhança de "losers" do Terceiro Mundo. Segundo, porque esta pessoa se coloca no centro de uma trama sobrenatural e metafísica, exatamente, novamente, na projeção inversa da própria pequenez. E nisso entra o que é chamado hoje em dia de fé cristã: o deus brasileiro não é alguém superior que pode elevar mentalmente e moralmente quem o busca e o serve, alguém que vive além e acima, inclusive geograficamente, das periferias horríveis onde vivem muitos dos seus fiéis; mas o deus brasileiro está lá pra dizer "você é a joia da criação" para um medíocre fracassado qualquer, e também está lá para fazer "milagres" para atender as demandas mesquinhas desta pessoa. Eu ainda vou abordar mais especificamente o deus brasileiro.

14) Psicanálise verbal e textual - parte 12: Vamos deixar de falar sobre sexo

Poderíamos confirmar a suspeita de que a Bíblia tem mais trechos contra o sexo que contra o roubo, ou de que a Bíblia podia ter mais mandamentos e recomendações sanitários no lugar de mandamentos e vilipêndios contra quem tem vida sexual mais decente; mas pior que isso é o quanto a parte antissexual da Bíblia é levada a sério por pessoas que se anunciam como cristãs e negligenciam partes moralmente valiosas da própria Bíblia. A explicação parece visível na entrada do próprio templo: pencas de mulher feia. É verdade que a moral antissexual também é forte na Inglaterra e na América Anglo-Saxônica (Estados Unidos e Canadá) e que as mulheres feias destes países são razoáveis quase bonitas na América Latina (eu sou hétero, mas eu vejo alguns rapazes brasileiros admirando o perfil por aqui). Mas o que está por trás disso por lá tem a mesma essência que aqui, e mostrar isso apontando a feiura física das mulheres do Brasil pode ajudar a lançar luz para quem não é tão acostumado com falta de beleza.

A mulher brasileira comum é feia de rosto, horrorosa de corpo, pobre e infeliz. E o Brasil é o maior país católico do mundo (em número de fiéis), e quase todo o país era católico quando as nossas avós tinham a nossa idade. Sim, a moral antissexual foi feita pra mulher feia, de corpo esquisito, pobre, infeliz e invejosa. Para ela, é revigorante uma moral em que ser uma mulher fisicamente agradável aos homens é ser uma mulher sexualmente ativa e ser uma mulher sexualmente ativa faz ir pro Inferno. Para ela, é lisonjeador um preconceito em que uma mulher bonita ou sexualmente ativa é burra, não confiável, frívola ou, com a entrada da mulher no trabalho não-doméstico, pouco profissional.

Ah, sim, quando vemos uma mulher falando contra o machismo, vemos que ela é feia pra caralho, ou ela não é tão desfavorecida e se faz feia pra caralho. É a mesma mulher, ou do mesmo perfil, que prega a castidade. E pra completar, essa mulher que já não era fisicamente chamativa ou parcamente lembrava uma mulher caminha no sentido contrário ao do que lhe falta e desenvolve um comportamento e um nível mental em que a sua própria presença ou imagem é repulsiva, e ela faz isso como se isso a fizesse mais forte ou mais mulher. Negação louca da realidade.

Assim, quando uma multidão de mulheres com essa desenvolve uma cultura em que o sexo é um assunto feio e proibido, essas mulheres estão se protegendo da visão pública do fracasso delas como mulheres e como seres humanos. Sim, porque um ser humano é homem ou mulher, e esta distinção é biológica, física e sexual; a visão não deve ser o contrário, reduzir o homem e a mulher a alguma coisa tamanho único para que a mulher possa ser motorista de veículos pesados, militar, executiva, presidente do país e tudo de impressionante que algum homem é.

15) Psicanálise verbal e textual - parte 13: Identidade tribal

O máximo do uso comum da linguagem brasileira que tem associação com o mundo real externo é o que eu chamo de identidade tribal: a rotulação da outra pessoa em grupos diferentes que, portanto, não devem ser ouvidos. Mesmo que a pessoa brasileira típica faça essa rotulação de outra pessoa pelo que esta fala, a identidade tribal não é da tribo em que a outra pessoa está, mas da em que ela não está, que é a da própria pessoa que rotula.

Mas quando alguém usa a identificação tribal, é certo que esta pessoa receba uma identificação tribal. Quem chama alguém do século XXI de nazista ou fascista deve ser rotulado como militante da esquerda; quem chama alguém de machista deve ser rotulado como feminista (ou, como eu diria, lesbofeminista); quem chama alguém de racista deve ser rotulado como africanista; e assim por diante. Porque se alguém reduz tudo que alguém que não tenha o mesmo pensamento tenha a dizer a um rótulo feio com validade vencida, isso é sinal de que o rótulo feio esconde um raciocínio enlatado intelectualmente pobre. Nisso, parece que eu estou analisando a esquerda universitária, mas até assim podemos seguir a linha de que se os que têm formação universitária são isso, ainda mais os menos escolarizados, que podem ser cópias mal feitas dos primeiros.

Por sinal, esta é a quarta parte de uma série de textos e quem me acompanhou da parte 1 até aqui são admiradores que têm um perfil pouco variado, apesar de eu ter quase 19 anos que eu escrevo este blogue, ou exatamente porque eu escrevo há quase 19 anos. Mais exatamente, um brasileiro típico, daqueles do "sextou", não termina o primeiro subtítulo, "introdução parte 1"; um esquerdopata que é universitário ou funcionário público talvez se arraste até o segundo subtítulo, "introdução parte 2". Eu já tive algumas poucas moças LGBT-feministas lendo o que eu escrevia, mas elas me viram como uma boneca sexual bolsonarista e pararam de me acompanhar. Bom, no último contato que eu tive com uma delas, Jair Bolsonaro ainda era um deputado federal pensado como candidato a presidente. Eu quase posso determinar qual é o perfil de você que está lendo: é homem heterossexual (que eu sei, tenho dois leitores gays), é de direita, quase certamente é cristão (porque os ateus quase todos são de esquerda e me consideram bolsonarista, alguns até pensam que eu sou uma cristã conservadora), mas você não tem uma visão rígida a favor da castidade. Por isso você se diverte um pouco quando eu menciono as minhas visitas a amigos homens ou deles na minha casa em que nós fazemos comida e eles comem a rosquinha que eu preparo pra eles comerem. Mas para algumas pessoas, eu já ganhei uma identidade tribal, da tribo das piranhas conservadoras.

Introdução à psicanálise textual de brasileiros
No A Vez das Mulheres de Verdade No A Vez dos Homens que Prestam

parte 1 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-1.html

parte 1 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-1.html

parte 2 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-2.html

parte 2 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-2.html

parte 3 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/02/introducao-psicanalise-textual-parte-3.html

parte 3 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/02/introducao-psicanalise-textual-parte-3.html

parte 4 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/04/introducao-psicanalise-textual-parte-4.html

parte 4 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/04/introducao-psicanalise-textual-parte-4.html

sábado, 8 de março de 2025

O Dia Internacional da Mulher e a inversão do discurso pronto

Abigail Pereira Aranha

Quando nós ouvimos repetidamente uma certa ideia, o contrário geralmente está mais perto da verdade. Isso tem uma explicação até psiquiátrica aplicada à política: a repetição da mentira é um sufocamento da verdade, ou a tentativa disso, e a tagarelice de mentiras e loucuras pode servir à autoestima, ao poder e a fuga da realidade especialmente sobre si mesmo para desde vacas "losers" confinadas em vidas insignificantes em periferias de municípios pequenos até classes dominantes de impérios. Afinal, nunca existiu no mundo uma sapiocracia, que é o governo dos sábios (este termo, eu inventei agora). No caso de sociedades inteiras, tanto reinados de ou com religião quanto governos que se dizem antirreligiosos vão repetir suas próprias mentiras pelos meios de comunicação de massa da própria coletividade, que podem incluir, na Idade Contemporânea, a imprensa. Então, se, no caso do Brasil, uma pessoa diz num programa da Rede Globo que abalou os padrões dominantes, alguma coisa está errada.

Num exemplo rápido, nós fomos livrados pela industrialização do Brasil e pela popularização da internet daquele discurso antigo de que os idosos são sábios. Essa ideia ainda pode ser ouvida ou lida até hoje repetida por "boomers" que conseguem manejar um smartphone ou por pessoas com 30 ou 40 anos que conseguiram diploma universitário com dinheiro do pai e patrimônio de herança do avô; mas qualquer pessoa com 30 ou 40 anos fora deste caso que mora em área urbana de cidade grande se baseia nos idosos que conhece, e, portanto, associa idoso a tudo menos sabedoria.

Isso se aplica também ao LGBT-Feminismo e, particularmente, ao Dia Internacional da Mulher. Você pode saber ou descobrir que a data foi motivada por um episódio que teria acontecido quase um século antes, e mesmo este registro pode ser um mosaico de dois casos separados por décadas, uma greve sem mortes e um incêndio acidental em um galpão em más condições. Mas isso já é um conhecimento avançado, você só vai descobrir e acreditar se você se livrar mentalmente do discurso repetido especialmente nesta data comemorativa, aquele discurso que classifica quem diz o que eu disse com a palavra que junta "macho" com "ista". O que eu vou abordar aqui é a trapaça psicológica e sociopolítica do discurso lesbofeminista no Dia Internacional da Mulher (mas não só neste dia). Aquele exemplo rápido da sabedoria dos idosos tem a ver com isso também, inclusive com o dado de que pouquíssimos trabalhos antifeministas relevantes foram feitos antes dos anos 1990. Logo, raríssimas pessoas que tinham mais de 50 anos em 2000 tiveram a capacidade ou sequer o interesse de fazer um trabalho digno de nota em defesa do que é chamado de machismo ou que, mesmo com malícia, possa ser enquadrado como tal.

Você ouve que as mulheres são essenciais na nossa sociedade. E os homens, as mulheres feministas reconhecem o valor deles? Você reconhece e viu alguém reconhecer o valor dos homens?

Você ouve que a mulher é vítima de um padrão de beleza. As lesbofeministas querem nos vitimar com uma ditadura da feiura? Aliás, você sabe que padrão feminino de beleza é este?

Você ouve que a mulher não tem espaços na sociedade. Quem disse isso foi a atriz da Rede Globo, a executiva entrevistada no Fantástico da Rede Globo, a professora universitária, a deputada federal,...

Você ouve que as mulheres conquistaram muitas coisas com muita luta. É porque o vovô do policial ensinou pro neto que é feio bater em mulher.

Você ouve que a mulher é vista como objeto sexual. Você homem sem barba é mais feminino que a mulher que diz isso, ou ela tenta ser o mais repulsivo que pode.

Você ouve que a mulher pode ser o que ela quiser. E ela sempre quer ser um homem, mais exatamente o ex-namorado babaca ou o tio que a estuprou com 12 anos.

Você ouve que a mulher pode ser o que ela quiser. Mas se ela não vê problema em ser dona de casa submissa ao marido, ela é submissa ao machismo. E se ela não vê problemas em ser vista sexualmente e ter uma vida contra a castidade, tanto por trabalho sexual quanto por gostar de dar prazer aos homens, ela deve ser libertada do machismo.

Você ouve que a mulher tem medo de estar na rua à noite e ser estuprada. E se você lê estatísticas de violência, sabe que o risco de o homem ser assassinado é o mesmo.

Você ouve que a mulher é vítima de violência por ser mulher. Mas você nunca ouviu falar de homens que agridem mulheres aleatórias (só um ou outro que matou algumas mulheres em série), e ainda ouve homens dizendo que estão prontos a defender mulheres. Ah, e a mulher que diz isso quer favorecimento por ser mulher, como no emprego no serviço público ou na iniciativa privada?

Você ouve que a mulher conquistou liberdade sexual com o Feminismo. Mas se a Abigail conta que faz sexo com os amigos e compartilha conteúdos que agradam os homens héteros, ela é capacho do machismo ou fake de homem. Além de que se você homem nunca encontrou uma Abigail P. Aranha em um episódio do dia-a-dia, você nunca encontrou uma mulher interessada em sexo nem conhece um homem que encontrou.

Você ouve que a mulher merece o melhor. E o marido que paga as contas dela, ou o pai, ou os filhos e irmãos homens, merecem só obrigação?

Eu deixei aqui algumas perguntas das quais eu tenho respostas. Mas o meu ponto aqui é mostrar que as perguntas existem. Assim como não é afirmar um conjunto de dados e de ideias específicos que você não sabe ou com que você não concorda, mas mostrar a ideia de que o que você passou a sua vida ouvindo pode ser uma burrice longe da verdade, aplicando isso a um assunto específico.

Agora você, Abigail, vai me dizer que é necessário um Dia do Homem e um Movimento de Direitos dos Homens? Bom, eles já existem, sendo o Dia do Homem no Brasil o dia 15 de julho e o Dia Internacional do Homem o dia 19 de novembro. Mas você está preparado para ouvir ou ler sobre isso agora?

Texto original em português sem fotos e vídeos de putaria no A Vez das Mulheres de Verdade: "O Dia Internacional da Mulher e a inversão do discurso pronto", https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/03/dia-da-mulher-inversao-do-discurso.html
Texto original em português com fotos e vídeos de putaria no A Vez dos Homens que Prestam: "O Dia Internacional da Mulher e a inversão do discurso pronto", https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/03/dia-da-mulher-inversao-do-discurso.html

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Introdução à psicanálise textual de brasileiros - parte 2

Abigail Pereira Aranha

01) Introdução - parte 1: notas sobre a linguagem humana

A introdução é repetida em toda a série. A numeração dos subtítulos é sequência desde a parte 1. Os atalhos diretos dos subtítulos estão nos números.

Com as honrosas exceções de nível mental humano, o que um brasileiro fala ou escreve não deve ser ouvido ou lido, mas examinado. Na linguagem humana, o mundo real é a referência e o assunto principal. Um dos casos em que isso pode ser diferente é a função metalinguística da linguagem, em que a linguagem se refere a elementos dela mesma. Um outro caso é de objetos em ciências abstratas, como Lógica e Matemática. Um outro caso é o de objetos ainda não existentes, mas previstos, como em projetos de engenharia. Mas em geral, o mundo real não é apenas referência da linguagem, também é referência do universo interior do ser humano. A partir do mundo real externo, o homem molda o que pensa, o que sente e o que faz (eu usei a palavra "homem" no sentido de ser humano, para incomodar alguma lesbofeminista que está lendo, hua, hua, hua, hua, hua). No Brasil, a linguagem humana é exceção. Não são só as falas que têm grande limitação intelectual, limitação de vocabulário ou até limitação geográfica. A própria ideia de que a linguagem usada por seres humanos possa ser mais abrangente e mais elevada que isso parece uma ideia alienígena no Brasil. Eu tenho uma tese para explicar por que isso acontece no Brasil de uma forma particular mais horrorosa, mas vou deixar essa minha parte para o final porque eu vou tentar evitar que essa explicação comprometa o entendimento da minha descrição do fenômeno em si, e também porque o assunto principal aqui não é essa origem histórica (ops!).

Para o leitor estrangeiro, eu desenvolvo a exposição a partir da experiência do Brasil não só porque eu sou brasileira e nunca saí do Brasil, também faço isso como uma espécie de alerta. Se o leitor é de um país desenvolvido, talvez eu mostre um aspecto insano da vida nacional brasileira que está menos longe de se reproduzir no seu país do que se imagina. Se o leitor é de um país ainda mais pobre economicamente que o Brasil, eu vou deixar mais claro que ter um dos 10 maiores PIB's do mundo pode não ser um reflexo da grandeza do país.

Dado que os brasileiros comuns não dominam a linguagem humana no sentido de linguagem associada com o mundo real, eles dão um status superior ao próprio universo interior subjetivo, especialmente o universo emocional, e ao universo verbal próprio. Estes universos interior e verbal podem ser moldados por aqueles a quem esses brasileiros comuns atribuem autoridade, como "a ciência" ou o governo de esquerda. Então, se você é uma pessoa normal e vai interagir com uma pessoa brasileira, você precisa verificar primeiro que essa pessoa não é doente mental; segundo, que essa pessoa não é semianalfabeta; terceiro, que essa pessoa não é de mau caráter. Tentar interagir com essa pessoa sem verificar isso é um risco de conversar com uma pessoa com um destes defeitos ou um risco de cair numa armadilha de manipulação psicológica. Uma interação semelhante a uma conversa com um intercâmbio de ideias ou de informações será a disputa da fala de um ser humano de mente normal contra a logorreia de um desequilibrado mental semianalfabeto (ou, com sorte, contra uma pessoa farsante).

Apesar de esta exposição ser sobre falas e escritos (e um tanto sobre comunicação de outras formas), a abordagem não é sobre debate de ideias, não é sobre a vida universitária, não é um rascunho de observatório de imprensa e nem mesmo sobre a vida em cidades grandes. A questão é a linguagem oral e escrita do brasileiro comum. Mais exatamente, a manifestação de algo que está acima (ou melhor, abaixo) da expressão de ideias mesmo no que devia ser conversa sobre assuntos grandes.

A diferença de raciocínio e de habilidade de expressão em língua culta que existiu no passado entre o brasileiro médio e a, digamos, elite falante diminuiu muito e está cada vez menor. Não porque o nível do povão está aumentando, e nem tanto por causa da popularização da internet que traz mais popularização da expressão de ideias e da circulação de informações e conhecimentos; mas principalmente porque essa elite falante e a elite em geral está ela mesma se aproximando do povo medíocre quando não está recebendo alguns indivíduos desta parte da população. Sim, eu me refiro às cotas sociorraciais e as cotas para mulheres. Ah, mulheres de verdade! Também existe aqui e ali uma cota LGBT ou alguma preferência de seleção para LGBT para cargos públicos, mas essa parte da população é minoria. Em qualquer país da América, as mulheres são cerca de metade da população e os não-brancos são, se não maioria, uma parte considerável. Portanto, em um país destes (não só no Brasil), a simples preferência por uma mulher ou um não-branco para uma vaga em posição de destaque é a promoção da mediocridade. Mas isso é uma particularidade recente, e até isso mostra, hoje com mais clareza, que uma coletividade não pode ter uma elite virtuosa e um povo néscio, ou uma elite inteligente e amante da sabedoria ao lado de um povo inculto e animalesco.

E isso que eu disse pode levar alguns leitores a me encaixarem na "extrema direita" e na "elite branca". E até isso tem a ver com o assunto que eu estou introduzindo aqui. Sim, eu sou uma mulher branca, sem vergonha. Ops, sem vergonha de ser branca, mas também me chamam de sem vergonha com razão.

02) Introdução - parte 2: notas sobre o analfabetismo

Analfabetismo é o desconhecimento da associação dos signos da linguagem humana entre si e com a realidade. Signo é a "ligação associativa entre o significado e o significante: signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Significante é a "imagem acústica ou manifestação fônica do signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Não saber ler ou escrever na língua nativa é só a imagem caricata do analfabetismo. Outro aspecto caricato é essa situação na língua nativa (fora os idiomas que não têm escrita). Chamo a sua atenção para que eu mencionei a linguagem humana, não a língua nativa, porque um imigrante que desconhece o idioma do país onde está não é considerado analfabeto, exatamente porque este imigrante pode, a partir do conhecimento do idioma nativo, aprender o idioma local. O aprendizado é mais difícil se o idioma local e o idioma nativo do imigrante usam alfabetos diferentes, como o latino e o grego, ou se um deles ou ambos são ideográficos, como o mandarim. Mas os idiomas em geral são aplicações da linguagem humana, que associa signos e significantes a objetos do mundo real. Por isso é possível o dicionário bilíngue, porque os signos de cada idioma se associam a um mesmo objeto extralinguístico, ou, numa função metaliguística, têm funções equivalentes em seus respectivos idiomas. E isso não desaparece quando uma palavra não tem uma palavra ou uma expressão correspondente no outro idioma, e é incorreto dizer que a palavra não tem tradução: a palavra tem significado, e o significado é traduzível.

Mas o analfabetismo não é exatamente o resultado da opressão socioeconômica. No máximo, foi uma obra repressiva de reinos passados (incluído o reino da Igreja Católica Apostólica Romana) da qual algumas pessoas amantes da verdade tiveram dificuldades para escapar. O analfabetismo é em primeiro lugar, mesmo nestes contextos, uma deficiência mental e moral, o desprezo ao que é superior, ao que é grande, ao que é duradouro, à comunhão com a verdade. Como consequência, desprezo à linguagem humana. Não é por acaso que a divisão entre Pré-História e História foi a invenção da escrita, nem que os primeiros usos da escrita foram feitos por povos desenvolvidos (a escrita foi um meio para o desenvolvimento intelectual e cultural, do qual uma das consequências foi a prosperidade econômica e outra foi mais aplicação da escrita). Para produzir o esquecimento disso, corre este discurso de que o analfabetismo é obra maligna dos ricos, em vez de pequenez de outros pobres que estes impõem aos outros sempre que podem. Nós tivemos no passado analfabetos denunciando alfabetizados à Inquisição, nós temos no Brasil do século XXI moradores de favelas tratando outros moradores que lêem livros como esquisitos.

Para os analfabetos e os semianalfabetos, o universo verbal pode ganhar uma vida própria independente da realidade ou pode ser o próprio mundo real. Para estes, a parte mais sofisticada da linguagem fica reduzida a gatilhos emocionais e extravasões emocionadas. Ah, e os analfabetos e os semianalfabetos entendem a linguagem animal, que é a linguagem como voz de comando ou como produtora de impacto no receptor, como o máximo da linguagem humana, porque esta linguagem tem efeitos "rápidos" e "práticos". A frase "as palavras têm poder" é uma ideia de analfabetos e semianalfabetos, porque as palavras foram feitas para serem SOBRE a realidade, não PARA ela. A magia é analfabetismo aplicado. Eu até poderia demonstrar essa frase com dados conhecidos, mas eu posso ser presa.

Dois efeitos comuns do analfabetismo e do semianalfabetismo são confundir aspectos da realidade muito diferentes só porque lhes foram dados nomes parecidos ou o mesmo e o contrário, não perceber semelhanças entre aspectos da realidade semelhantes ou interligados só porque lhes foram dados nomes diferentes. E aqui eu usei a voz passiva. Os nomes "foram dados" por quem? Quem tem ideias de esquerda tem uma lista de quem domina a comunicação de massa, a cultura, a política e a educação; quem tem ideias cristãs conservadoras tem outra lista. Mas no geral, cada indivíduo desta lista tem as mesmas características essenciais, como dominar o idioma (no sentido de conhecimento), ter recursos materiais para conseguir seus objetivos, ter habilidades para usar estes recursos e ter um conhecimento do indivíduo médio do público-alvo. E na linguagem, podemos adaptar aquela frase de Arnold Toynbee sobre política: os que não se interessam pela linguagem serão governados pelos que se interessam. Mas aqui, o desinteresse pela humanidade da linguagem é uma tentativa de domínio político pelo semianalfabeto comum, que serve ao poder de quem o governa.

E visto que o analfabetismo e o semianalfabetismo são a conexão precária entre a fala e a realidade, não apenas o analfabeto e o semianalfabeto têm uma barreira para entender o que é falado a eles, eles também descrevem muito mal a eles mesmos pelo que eles falam, se as palavras forem interpretadas pelo uso de pessoas mentalmente normais. Porque o objeto mais feio que o analfabeto e o semianalfabeto têm para descrever pela linguagem é a sua própria pessoa, feio demais para ser descrito pela linguagem saudável sem comprometer a autoestima. Daí a proposta desta exposição é examinar as falas do brasileiro típico, que geralmente é semianalfabeto mesmo quando tem um nível de instrução superior, pelo que elas manifestam, não pelo que as palavras deles dizem se forem interpretadas no uso culto do idioma.

06) Psicanálise verbal e textual - parte 04: Glorificação do analfabetismo e do inexplicável

Nós vemos cada vez menos pessoas falando da superioridade do analfabeto (da "escola da vida") sobre a pessoa culta, porque em geral são velhos fracassados que estão morrendo na irrelevância em um país que não é aquele em que eles cresceram. Mas ainda vemos gente não tão velha (40, 50 anos) que exalta os milagres que os cientistas não explicam, como a cura de uma doença incurável ou um mistério antigo. A explicação é a mesma: a esperança da vitória da burrice e do absurdo na guerra contra a realidade. E, no caso dessas pessoas, a realidade da vida delas é, digamos, modesta. E é desta realidade da vida delas que estas pessoas desejam a salvação que desafia a natureza da realidade. Como não dá pra falar de milagres sem falar de Deus, ainda vou deixar umas palavras sobre o Deus brasileiro nesta série.

Isto também é uma espécie de inveja que essas pessoas têm de pessoas inteligentes. Eu digo "uma espécie de inveja" porque a inveja é o desejo de ter algo que o outro tem, e o semianalfabeto está abaixo de considerar a normalidade mental desejável. Talvez haja uma inveja da colocação socioeconômica que uma pessoa culta conseguiu por merecimento.

07) Psicanálise verbal e textual - parte 05: Inteligência não-autorizada

"Inteligência não-autorizada" foi um nome que me ocorreu agora para nomear um fenômeno que você já viu. No resto do mundo, conhecimento e comunhão com a verdade são fontes de autoridade; no Brasil, é fonte de zombaria. Há duas situações em que isso acontece. A primeira quando você expõe algum erro do interlocutor que se apresenta como conhecedor do assunto (isso pode ser visto com frequência em salas de aula de faculdades). A segunda quando o interlocutor sabe menos que você e fala como ironia, sem perceber a própria ignorância, como se você soubesse algo que ele não sabe (e você realmente sabe).

Eu abordei há pouco a glorificação do semianalfabetismo. Agora parece que eu exponho um fenômeno contrário, o da veneração do conhecimento ou da aparência dele. Na verdade, a aparente valorização da educação só acontece no Brasil recente porque não estamos no Feudalismo nem na economia agrária de 100 anos atrás. E para alguns, um serviço técnico ou acadêmico especializado (ou com uma aparência de especialização) pode ser meio de vida, e vida economicamente muito acima da média da população. Para estas pessoas (que às vezes posam conhecimento que não têm de áreas além de sua especialização mais conhecida), uma refutação ou a simples presença de uma pessoa com inteligência visível é uma ameaça à imagem delas. Para pessoas que zombam da inteligência que não são nem isso (não raro, pessoas idosas com uma incultura notória), também.

Ah, e na palavra "não-autorizada", eu também sinalizo para a origem social da atitude. O brasileiro médio imagina o exercício profissional e a própria demonstração de capacidade intelectual como permissões, às vezes como unções divinas. E usando as palavras "unções divinas", eu não fiz só uma metáfora. Nós temos a Bíblia impressa há alguns séculos, mas ainda assim o meio cristão tem muitas pessoas se orientando por pregadores que às vezes contradizem a própria Bíblia; em vez de a massificação da Bíblia produzir uma espécie de cultura bíblica popular, onde uma pessoa do povo pode falar dos Profetas Menores como quem faz uma receita culinária que aprendeu da avó. Mas a ideia da "unção divina" também aparece onde se tenta ser o contrário da igreja, como universidades públicas dominadas pela militância de esquerda e burocracias de governos esquerdistas. Não é mais generalizada aquela ideia de que os governantes têm uma sabedoria divina para fazerem o que fazem, mas a burocracia administrativa e o serviço público docente universitário ainda recebem ou pretendem receber um preconceito semelhante, o de que os altos cargos são ocupados por gente à altura deles; este preconceito é maior quanto menor a inteligência da pessoa. E o brasileiro típico não vê o curso universitário como elevação mental no subconjunto da verdade que é o conhecimento científico, porque não concebe a Ciência como parte da verdade; mas como acesso a vaidades e um bom dinheiro, não raro via serviço público. Daí, o cargo formal, não a habilidade que ele devia representar, é o fim dessa trajetória universitária, junto com a substituição de quem teria mérito para estar lá. Por isso, para este brasileiro típico, é válido evitar o trabalho físico e mental necessário e desejável para estar à altura do que o diploma representa se puder consegui-lo mesmo assim. Então, uma pessoa comum aplicar a inteligência para falar de tais ungidos é blasfêmia.

08) Psicanálise verbal e textual - parte 06: Glorificação de ricos medíocres

Eu poderia citar nomes de pilantras, "filhinhos de papai" e mulheres "cabeça de vento" que são exaltados como pessoas inteligentes e cultas só porque têm muito dinheiro. Não faço isso aqui porque a conversa poderia se desviar para questionar um dos exemplos específicos e também porque sempre que se diz algo com crítica sobre estas pessoas, há quem diga que a fala é invejosa ou de quem não sabe nada (o que também é exemplo do que eu estou abordando aqui). E quem fala de um megaempresário como sendo uma pessoa inteligente sempre é uma pessoa que ela mesma não é notória por muita cultura. E por que isso acontece? Porque pessoas pobres de espírito veem duas coisas nessas pessoas ricas: o sucesso naquilo que realmente importa e uma pessoa que, na verdade, não lhes parece melhor que elas.

No primeiro ponto, é o sucesso naquilo que importa para a pessoa pobre que também é pobre de espírito: dinheiro, ostentação e farsa. Aí, pode até haver, aí sim, uma inveja genuína. Mas é uma inveja leve por causa do segundo ponto: é uma pessoa rica que mesmo parecendo culta, não parece estar num nível superior ao dessa pessoa pobre (a não ser em dinheiro e em alguma outra coisa). Novamente, uma espécie de esperança no sucesso da mediocridade ou, no mínimo, no insucesso da inteligência e da virtude.

Ah, uma coisa que os homens brasileiros típicos observam quando falam de homens ricos: as mulheres ao lado deles. Às vezes, elas são as esposas. Aí, ainda mais quando o homem rico é feio e barrigudo, nós vemos aquele provérbio de que a boca fala do que o coração está cheio. Mas isso não é mau, eu não dou a mesma atenção a essas musas porque eu sou hétero. E eu me lembrando disso, deixo uma brecha pra alguns dizerem que o meu coração e a minha mente são cheios de prostituição, lascívia e concupiscência. Xi, eu também tenho peito grande! A minha filha que eu ainda não tenho vai receber o espírito do ateísmo e o da licenciosidade pelo leite materno e vai transar com vários homens desde os 14 anos, como a mamãe.

Até na Bíblia o brasileiro típico dá atenção especial às pessoas sem brilho que ficaram bem sucedidas pela misericórdia divina: José, que não era levado a sério nem pelos meio-irmãos, que se tornou o segundo mais poderoso do Egito; Davi, um rapaz mirrado que também não era levado a sério pelos irmãos, que se tornou rei de Israel; ou Daniel, cativo na Babilônia, que se tornou mestre dos magos no reinado de Nabucodonosor e presidente de príncipes do império medo-persa. Talvez seja um apelo popular dos escritores da Bíblia, do Velho e do Novo Testamento. Mas mesmo que a elite judaica do Velho Testamento e a Igreja Católica tenham mesmo construído este apelo popular, o ponto a que eu chamo a sua atenção é por que este apelo funciona: em um povo de um país católico subdesenvolvido como o Brasil, há muito mais pessoas que querem ver uma pessoa parecida com elas, mas rica pela graça de Deus, que pessoas que querem ver um exemplo de uma pessoa melhor que elas que merece, por isso, uma posição de destaque.

Isso também explica por que tantos brasileiros louvam a Deus por mandar o seu Filho como um bebê que nasceu e foi colocado em u'a manjedoura (que é um comedouro de bovinos e equinos), mas apostam na loteria querendo ganhar o prêmio máximo: nem o Deus deles é superior a eles próprios. Aliás, volto ao caso de Daniel: ele foi para a cova dos leões porque ele teve uma vida correta mais uma vida religiosa com Deus (Dn 6), mas o brasileiro apequenado vê a cova dos leões como um símbolo da sua vida apequenada no seu bairro horroroso. Eu já prometi deixar umas palavras sobre o deus brasileiro e mantenho a promessa, mas ainda tenho muita coisa pra escrever antes.

Introdução à psicanálise textual de brasileiros
No A Vez das Mulheres de Verdade No A Vez dos Homens que Prestam

parte 1 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-1.html

parte 1 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-1.html

parte 2 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-2.html

parte 2 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/01/introducao-psicanalise-textual-parte-2.html

parte 3 SEM PUTARIA:

https://avezdasmulheres.blogspot.com/2025/02/introducao-psicanalise-textual-parte-3.html

parte 3 COM PUTARIA:

https://avezdoshomens.blogspot.com/2025/02/introducao-psicanalise-textual-parte-3.html

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