01) Introdução - parte 1: notas sobre a linguagem humana
A introdução é repetida em toda a série. A numeração dos subtítulos é sequência desde a parte 1. Os atalhos diretos dos subtítulos estão nos números.
Com as honrosas exceções de nível mental humano, o que um brasileiro fala ou escreve não deve ser ouvido ou lido, mas examinado. Na linguagem humana, o mundo real é a referência e o assunto principal. Um dos casos em que isso pode ser diferente é a função metalinguística da linguagem, em que a linguagem se refere a elementos dela mesma. Um outro caso é de objetos em ciências abstratas, como Lógica e Matemática. Um outro caso é o de objetos ainda não existentes, mas previstos, como em projetos de engenharia. Mas em geral, o mundo real não é apenas referência da linguagem, também é referência do universo interior do ser humano. A partir do mundo real externo, o homem molda o que pensa, o que sente e o que faz (eu usei a palavra "homem" no sentido de ser humano, para incomodar alguma lesbofeminista que está lendo, hua, hua, hua, hua, hua). No Brasil, a linguagem humana é exceção. Não são só as falas que têm grande limitação intelectual, limitação de vocabulário ou até limitação geográfica. A própria ideia de que a linguagem usada por seres humanos possa ser mais abrangente e mais elevada que isso parece uma ideia alienígena no Brasil. Eu tenho uma tese para explicar por que isso acontece no Brasil de uma forma particular mais horrorosa, mas vou deixar essa minha parte para o final porque eu vou tentar evitar que essa explicação comprometa o entendimento da minha descrição do fenômeno em si, e também porque o assunto principal aqui não é essa origem histórica (ops!).
Para o leitor estrangeiro, eu desenvolvo a exposição a partir da experiência do Brasil não só porque eu sou brasileira e nunca saí do Brasil, também faço isso como uma espécie de alerta. Se o leitor é de um país desenvolvido, talvez eu mostre um aspecto insano da vida nacional brasileira que está menos longe de se reproduzir no seu país do que se imagina. Se o leitor é de um país ainda mais pobre economicamente que o Brasil, eu vou deixar mais claro que ter um dos 10 maiores PIB's do mundo pode não ser um reflexo da grandeza do país.
Dado que os brasileiros comuns não dominam a linguagem humana no sentido de linguagem associada com o mundo real, eles dão um status superior ao próprio universo interior subjetivo, especialmente o universo emocional, e ao universo verbal próprio. Estes universos interior e verbal podem ser moldados por aqueles a quem esses brasileiros comuns atribuem autoridade, como "a ciência" ou o governo de esquerda. Então, se você é uma pessoa normal e vai interagir com uma pessoa brasileira, você precisa verificar primeiro que essa pessoa não é doente mental; segundo, que essa pessoa não é semianalfabeta; terceiro, que essa pessoa não é de mau caráter. Tentar interagir com essa pessoa sem verificar isso é um risco de conversar com uma pessoa com um destes defeitos ou um risco de cair numa armadilha de manipulação psicológica. Uma interação semelhante a uma conversa com um intercâmbio de ideias ou de informações será a disputa da fala de um ser humano de mente normal contra a logorreia de um desequilibrado mental semianalfabeto (ou, com sorte, contra uma pessoa farsante).
Apesar de esta exposição ser sobre falas e escritos (e um tanto sobre comunicação de outras formas), a abordagem não é sobre debate de ideias, não é sobre a vida universitária, não é um rascunho de observatório de imprensa e nem mesmo sobre a vida em cidades grandes. A questão é a linguagem oral e escrita do brasileiro comum. Mais exatamente, a manifestação de algo que está acima (ou melhor, abaixo) da expressão de ideias mesmo no que devia ser conversa sobre assuntos grandes.
A diferença de raciocínio e de habilidade de expressão em língua culta que existiu no passado entre o brasileiro médio e a, digamos, elite falante diminuiu muito e está cada vez menor. Não porque o nível do povão está aumentando, e nem tanto por causa da popularização da internet que traz mais popularização da expressão de ideias e da circulação de informações e conhecimentos; mas principalmente porque essa elite falante e a elite em geral está ela mesma se aproximando do povo medíocre quando não está recebendo alguns indivíduos desta parte da população. Sim, eu me refiro às cotas sociorraciais e as cotas para mulheres. Ah, mulheres de verdade! Também existe aqui e ali uma cota LGBT ou alguma preferência de seleção para LGBT para cargos públicos, mas essa parte da população é minoria. Em qualquer país da América, as mulheres são cerca de metade da população e os não-brancos são, se não maioria, uma parte considerável. Portanto, em um país destes (não só no Brasil), a simples preferência por uma mulher ou um não-branco para uma vaga em posição de destaque é a promoção da mediocridade. Mas isso é uma particularidade recente, e até isso mostra, hoje com mais clareza, que uma coletividade não pode ter uma elite virtuosa e um povo néscio, ou uma elite inteligente e amante da sabedoria ao lado de um povo inculto e animalesco.
E isso que eu disse pode levar alguns leitores a me encaixarem na "extrema direita" e na "elite branca". E até isso tem a ver com o assunto que eu estou introduzindo aqui. Sim, eu sou uma mulher branca, sem vergonha. Ops, sem vergonha de ser branca, mas também me chamam de sem vergonha com razão.
02) Introdução - parte 2: notas sobre o analfabetismo
Analfabetismo é o desconhecimento da associação dos signos da linguagem humana entre si e com a realidade. Signo é a "ligação associativa entre o significado e o significante: signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Significante é a "imagem acústica ou manifestação fônica do signo linguístico" (Dicio Dicionário Online de Português). Não saber ler ou escrever na língua nativa é só a imagem caricata do analfabetismo. Outro aspecto caricato é essa situação na língua nativa (fora os idiomas que não têm escrita). Chamo a sua atenção para que eu mencionei a linguagem humana, não a língua nativa, porque um imigrante que desconhece o idioma do país onde está não é considerado analfabeto, exatamente porque este imigrante pode, a partir do conhecimento do idioma nativo, aprender o idioma local. O aprendizado é mais difícil se o idioma local e o idioma nativo do imigrante usam alfabetos diferentes, como o latino e o grego, ou se um deles ou ambos são ideográficos, como o mandarim. Mas os idiomas em geral são aplicações da linguagem humana, que associa signos e significantes a objetos do mundo real. Por isso é possível o dicionário bilíngue, porque os signos de cada idioma se associam a um mesmo objeto extralinguístico, ou, numa função metaliguística, têm funções equivalentes em seus respectivos idiomas. E isso não desaparece quando uma palavra não tem uma palavra ou uma expressão correspondente no outro idioma, e é incorreto dizer que a palavra não tem tradução: a palavra tem significado, e o significado é traduzível.
Mas o analfabetismo não é exatamente o resultado da opressão socioeconômica. No máximo, foi uma obra repressiva de reinos passados (incluído o reino da Igreja Católica Apostólica Romana) da qual algumas pessoas amantes da verdade tiveram dificuldades para escapar. O analfabetismo é em primeiro lugar, mesmo nestes contextos, uma deficiência mental e moral, o desprezo ao que é superior, ao que é grande, ao que é duradouro, à comunhão com a verdade. Como consequência, desprezo à linguagem humana. Não é por acaso que a divisão entre Pré-História e História foi a invenção da escrita, nem que os primeiros usos da escrita foram feitos por povos desenvolvidos (a escrita foi um meio para o desenvolvimento intelectual e cultural, do qual uma das consequências foi a prosperidade econômica e outra foi mais aplicação da escrita). Para produzir o esquecimento disso, corre este discurso de que o analfabetismo é obra maligna dos ricos, em vez de pequenez de outros pobres que estes impõem aos outros sempre que podem. Nós tivemos no passado analfabetos denunciando alfabetizados à Inquisição, nós temos no Brasil do século XXI moradores de favelas tratando outros moradores que lêem livros como esquisitos.
Para os analfabetos e os semianalfabetos, o universo verbal pode ganhar uma vida própria independente da realidade ou pode ser o próprio mundo real. Para estes, a parte mais sofisticada da linguagem fica reduzida a gatilhos emocionais e extravasões emocionadas. Ah, e os analfabetos e os semianalfabetos entendem a linguagem animal, que é a linguagem como voz de comando ou como produtora de impacto no receptor, como o máximo da linguagem humana, porque esta linguagem tem efeitos "rápidos" e "práticos". A frase "as palavras têm poder" é uma ideia de analfabetos e semianalfabetos, porque as palavras foram feitas para serem SOBRE a realidade, não PARA ela. A magia é analfabetismo aplicado. Eu até poderia demonstrar essa frase com dados conhecidos, mas eu posso ser presa.
Dois efeitos comuns do analfabetismo e do semianalfabetismo são confundir aspectos da realidade muito diferentes só porque lhes foram dados nomes parecidos ou o mesmo e o contrário, não perceber semelhanças entre aspectos da realidade semelhantes ou interligados só porque lhes foram dados nomes diferentes. E aqui eu usei a voz passiva. Os nomes "foram dados" por quem? Quem tem ideias de esquerda tem uma lista de quem domina a comunicação de massa, a cultura, a política e a educação; quem tem ideias cristãs conservadoras tem outra lista. Mas no geral, cada indivíduo desta lista tem as mesmas características essenciais, como dominar o idioma (no sentido de conhecimento), ter recursos materiais para conseguir seus objetivos, ter habilidades para usar estes recursos e ter um conhecimento do indivíduo médio do público-alvo. E na linguagem, podemos adaptar aquela frase de Arnold Toynbee sobre política: os que não se interessam pela linguagem serão governados pelos que se interessam. Mas aqui, o desinteresse pela humanidade da linguagem é uma tentativa de domínio político pelo semianalfabeto comum, que serve ao poder de quem o governa.
E visto que o analfabetismo e o semianalfabetismo são a conexão precária entre a fala e a realidade, não apenas o analfabeto e o semianalfabeto têm uma barreira para entender o que é falado a eles, eles também descrevem muito mal a eles mesmos pelo que eles falam, se as palavras forem interpretadas pelo uso de pessoas mentalmente normais. Porque o objeto mais feio que o analfabeto e o semianalfabeto têm para descrever pela linguagem é a sua própria pessoa, feio demais para ser descrito pela linguagem saudável sem comprometer a autoestima. Daí a proposta desta exposição é examinar as falas do brasileiro típico, que geralmente é semianalfabeto mesmo quando tem um nível de instrução superior, pelo que elas manifestam, não pelo que as palavras deles dizem se forem interpretadas no uso culto do idioma.
16) Psicanálise verbal e textual - parte 14: Quando o brasileiro fala de Deus
Rm 2: 24: "Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós." O texto citado por Paulo é Is 52: 5: "E agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, pois o meu povo foi tomado sem nenhuma razão? Os que dominam sobre ele dão uivos, diz o Senhor; e o meu nome é blasfemado incessantemente o dia todo." O contexto das palavras do apóstolo Paulo é resumido no verso 23: "Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?". Aqui, se juntam duas coisas: a pessoa não viver a lei que prega e, por um castigo de Deus, viver no fracasso. Isso dentro da própria Bíblia.
Na nossa experiência brasileira, uma pessoa que fala muito de Deus tem uns 90% de chance de ser pobre e, se for mulher, uns 99% de chance de ter falta de rola. Como naqueles exemplos bíblicos, a pessoa confessa o nome do Deus em que acredita e leva mais gente a fugir dele, se não a duvidar de que ele existe. Que esta pessoa não se dê conta disso, parece loucura. Mas o assunto é este mesmo (a loucura). Com isso, vamos analisar o deus brasileiro, com inicial minúscula porque é o substantivo comum, não o que seria o nome próprio do Deus bíblico.
- O deus brasileiro, se faz uma obra na sua vida, é uma obra de desgraça. "Do que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt 12: 34 b). Aí, você ouve um cristão brasileiro falando e está saindo o quê? Doença, dificuldade financeira, conflito com vizinho, problema familiar, dissabor no trabalho, conflito com outro cristão, negatividade sobre alguém, etc. Se for uma viagem de ônibus urbano de uns 20 ou 30 km, você pode ouvir tudo isso junto, de uma mulher cristã (geralmente é mulher) que está perto conversando com outra pessoa no ônibus ou conversando pelo celular. Nesta imagem, eu trago duas questões. A primeira é que quem crê neste deus (com "d" minúsculo porque é o substantivo comum) continua vendo a vida, principalmente a sua própria, como uma porcaria. Aqui, eu abordo o interior da pessoa. No exterior, eu trago a segunda questão: quem crê no deus brasileiro vive no fracasso e na burrice. Porque se fosse só fracasso sem burrice, o crédulo poderia pensar que algo está errado e no mínimo ter uma fé com inteligência e com decência de qualidade de vida (sim, alguns cristãos conseguem).
- O deus brasileiro é tudo na vida de quem não tem nada. Ouvir um brasileiro comum falar o nome de Deus quase aleatoriamente (geralmente é uma mulher) me lembra a música "O Beco", d'Os Paralamas do Sucesso: "descobri mil maneiras de dizer o teu nome: com amor, com ódio, urgência ou como se não fosse nada" (é só os versos, a música não fala de Deus). Fora algo como "só Jesus na causa" que sai no meio de mais uma reclamação da vida, a pessoa diz que espera em Deus quando conta que está doente, sem dinheiro ou com alguma peleja; a pessoa diz que tem a companhia de Deus quando está solteira, com pouco contato com os filhos ou voltando do trabalho à noite (e geralmente é mulher); e por aí vai. Antes da Igreja Católica Apostólica Romana, era consenso mundial de que deus de fracassado ou de escravo era um deus morto. Inclusive o Velho Testamento da própria Bíblia sinaliza pra isso, por exemplo, na luta de Davi e Golias (eu voltarei a este caso): o deus mais forte faria o lutador dele vencer o do outro.
- O deus brasileiro salva a sua ficha, não o seu espírito. Vou citar dois textos bíblicos muito citados pelos "crentes". Cl 2: 13 b e 14 (Almeida Revista e Atualizada): "vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz". Mq 7: 19: "Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniquidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar". O problema é que quem foge de conta a pagar é caloteiro e quem quer apagar o passado é vadia. E por que quase ninguém cita 1Pe 2: 12? "Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem". Quando o crente no deus brasileiro cita que "não há um justo, nem um sequer" (Rm 3: 10), ele não está dizendo que a humanidade tem uma natureza pecaminosa da qual pode e precisa ser salva; ele (ou ela, geralmente é mulher) está confessando num ato falho analfabeto que ele mesmo (ou ela mesma) é uma pessoa moralmente pobre com incapacidade moral e mental de imaginar uma pessoa decente, e, por esta incapacidade, não consegue conceber uma mudança interior e exterior pra melhor. Nisso, esta pessoa projeta na espécie humana inteira sua própria iniquidade e, olhando para o próprio interior, não consegue, ironicamente, imaginar a salvação do Novo Testamento. Há pessoas que se dizem cristãs e não acreditam em ex-homossexual, ex-prostituta ou ex-bandido. 1Co 6: 9 a 11 na Almeida Revista e Atualizada, 10 e 11 na Almeida Corrigida Fiel (vou mudar a redação pra mostrar melhor o ponto): alguns de vós fostes impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes, roubadores; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.
- O deus brasileiro é um ídolo doméstico de "loser" do Terceiro Mundo. Na história de Davi contra Golias (1Sm 17), Davi chamou pra si uma batalha de Deus. E não vice-versa, como é o entendimento comum hoje. Quem trata este relato como uma alegoria sobre as porciúnculas da vida empobrecida (não só financeiramente) de um terceiro-mundista medíocre é um pregador para terceiro-mundistas medíocres ou o é ele mesmo. Vou pegar outro exemplo, o de Daniel: ele foi para a cova dos leões porque ele teve uma vida correta mais uma vida religiosa com Deus (Dn 6), mas o brasileiro apequenado vê a cova dos leões como um símbolo da sua vida apequenada no seu bairro horroroso. Vários outros textos da Bíblia são tratados assim por quem diz que a segue: em vez de terem um Deus que as faz crescer (aqui eu me referi à pessoa do deus bíblico), essas pessoas têm um deus (substantivo comum com inicial minúscula) na medida de sua própria estreiteza de mente. Ironicamente, quem hoje usa o nome de cristão transforma o Deus bíblico naquele ídolo da anedota de Is 44: 10 a 17 (vou pegar alguns trechos): "O carpinteiro (...) o faz à semelhança de um homem, segundo a forma de um homem, para ficar em casa. (...) Escolhe dentre as árvores do bosque; planta um olmeiro, e a chuva o faz crescer. (...) Então serve ao homem para queimar; e toma deles, e se aquenta, e os acende, e coze o pão; também faz um deus, e se prostra diante dele; também fabrica uma imagem de escultura, e ajoelha-se diante dela, (...) e se inclina, e roga-lhe, e diz: Livra-me, porquanto tu és o meu deus."
- O deus brasileiro é o marido da mulher que odeia sexo. A parte mais enfatizada nas igrejas cristãs do século XXI é a sexualidade, mais exatamente a antissexualidade. Melhor ainda, a aversão à heterossexualidade, porque existem as igrejas LGBTQIA+. Um momento! O "A" é de "assexual", então todas as igrejas são pro "A". Então, eu preciso me arrepender da minha vida sexual com homens, mas não precisaria me arrepender se eu fosse lésbica, porque eu não teria espaço nas igrejas tradicionais, mas teria uma igreja pra mim. A mulher brasileira comum é feia de rosto, horrorosa de corpo, pobre e infeliz. E o Brasil é o maior país católico do mundo (em número de fiéis), e quase todo o país era católico quando as nossas avós tinham a nossa idade. Sim, a moral antissexual foi feita pra mulher feia, de corpo esquisito, pobre, infeliz e invejosa. Para ela, é revigorante uma moral em que ser uma mulher fisicamente agradável aos homens é ser uma mulher sexualmente ativa e ser uma mulher sexualmente ativa faz ir pro Inferno. Para ela, é lisonjeador um preconceito em que uma mulher bonita ou sexualmente ativa é burra, não confiável, frívola ou, com a entrada da mulher no trabalho não-doméstico, pouco profissional.
- O deus brasileiro é o deus da inveja. Inveja dos pobres medíocres em relação aos ricos, dos terceiro-mundistas medíocres em relação ao Primeiro Mundo, dos semianalfabetos em relação às pessoas cultas e inteligentes, dos velhos em relação aos jovens, das vacas em relação às mulheres bonitas, cultas e agradáveis. Vários textos bíblicos são muito lembrados para serem distorcidos no sentido da inveja dos farsantes fracassados.
- O deus brasileiro é a esperança de vitória na luta contra a estrutura da realidade. Contra a realidade das leis descobertas pelas ciências, os milagres. Contra a realidade do bom senso, as unções divinas de pessoas notoriamente desqualificadas em postos políticos e de decisão. Contra a realidade da insignificância, o discurso da perseguição por inveja e da eleição. Contra a realidade da falta de bom testemunho, a salvação invisível (só Deus vê). Contra a realidade, a loucura e o desprezo contra a inteligência.
Ah, eu preciso lembrar que eu sou ateia. Eu convidaria você pessoa cristã ou de outra religião para o Ateísmo, mas eu vou ficar feliz se eu contribuir para você se tornar uma pessoa religiosa mais inteligente, mais louvável e com mais qualidade de vida. Mas eu tenho outra artimanha para levar homens para o Ateísmo, que é a minha sensualidade e a minha sedução, que fazem os homens duvidarem do valor da castidade. Bom, eu estou exagerando aqui, o meu poder de sedução é muito ruim, eu sou só muito oferecida, e por isso mesmo eu até espanto alguns homens, como leituristas da CEMIG e da COPASA que eu recebi pelada no portão de casa.
17) Psicanálise verbal e textual - parte 15: A tentativa de explicação histórica
Sim, a origem disso está, em parte, na origem do próprio Brasil. Em linhas gerais, muitos portugueses que vieram contrariados, outros portugueses que vieram pensando em riqueza fácil e os negros que vieram escravos, todos em um país que nasceu pra mandar ouro, madeira e produtos agrícolas pra Europa. Então, gente frustrada em um país enorme sem graça, com talvez uma minoria muito pequena um pouco melhor porque conseguia alguma comodidade nesse contexto (dessa minoria muito pequena, a maioria de portugueses, espanhóis, ingleses ou brasileiros a serviço de Portugal). E aparentemente, quase ninguém com uma inteligência filosófica excepcional ou com genialidade artística foi exilado da Europa pro Brasil, e se alguém assim nasceu e se criou no Brasil Colônia, teve a probabilidade quase total de ter sido subvalorizado ou assassinado pela inveja popular local. Assim, o ambiente humano e físico do Brasil convidava ao ódio ou ao desprezo contra a realidade. Ah, e maioria católica, quase totalidade da população até não muitas décadas atrás. Você pode ser cristão, mas deve estar atento pra que o Catolicismo Romano glorifica a miséria, o sofrimento e a vida chata.
Mas não era o desconhecimento de outro estilo de vida que convidava ao ódio contra a realidade e ao menosprezo da produção da inteligência humana entre os cidadãos comuns (ops, a maioria não era de "cidadãos", era rural). Era exatamente o contrário, era o conhecimento, mesmo que em uma noção vaga, de que um mundo melhor é possível. Ops! Eu usei aqui um jargão de esquerdistas do século XXI, mas na sequência, deixo a pergunta: se o Brasil desenvolver uma cultura de autoestima brasileira mais valorização da Geografia Física do território, esta autoestima vai produzir desenvolvimento nacional e evolução pessoal coletiva? E deixo a resposta: não, porque isso mesmo seria só mais um aspecto do mesmo problema, a negação da realidade.
Mas por que relacionar o nosso presente com um passado tão distante, e que parece tão diferente? Começo a resposta invertendo a pergunta: por que tantas vezes alguém volta ao mesmo passado para trazer questões inexistentes ou respostas erradas para questões atuais? E ainda no começo, uma outra observação: quem foge do passado é vadia. Ops! Também vieram muitas mulheres de má fama pro Brasil na colonização. Agora chego ao ponto: a fuga da visão dos vícios do passado junto com a visão errada do passado com clichês do presente é uma fuga da confissão de pecados que poderia levar à salvação. Eu sou ateia, eu uso aqui essa imagem da salvação para levar ao princípio da imagem. Não por acaso, o Brasil como povo faz hoje o contrário dos países que deram certo, que podem ou puderam mostrar ciência, tecnologia, urbanismo, literatura, artes ou (o que é errado) estrutura bélica: os brasileiros, como causa e consequência do pouco sucesso como nação, entraram agora na onda de que "o melhor do Brasil é o brasileiro". Este foi o slogan de uma campanha publicitária do governo federal em meados do ano 2000, e nem entro na questão de que o presidente na época era o Lula eleito por pessoas interessadas em ganhar dinheiro público, desde assistência social de menos de meio salário mínimo até milhões de superfaturamento de obras, porque isso é só um sinal do problema principal, que não começou ali. E nesta onda mental de "o melhor do Brasil é o brasileiro", nós temos mães solteiras de voz irritante e corpo esquisito que se acham gostosas; nós temos mulheres usando a palavra "resiliência" em redes sociais e em tatuagens que os entendedores verão como um "pobre" escrito na testa; nós temos pessoas negras que posam como vencedoras porque conseguiram um diploma via sistema de cotas ou tiveram alguma outra vitória contra o racismo do século XIX; e por aí vai, e "nós" também comemoramos, como se o mundo estivesse descobrindo quem nós somos, cada entrada de um brasileiro ou do Brasil como quase uma nota de rodapé da vida mundial (nos pouquíssimos sucessos nos esportes, no cinema ou no meio acadêmico, por exemplo). E a fuga da verdade leva, depois da burrice, à neurose e à loucura.